segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Andadores, porque tê-los?

O eterno divisor de "águas maternas". O vilão da primeira infância... O limitador de liberdade... o que dá falsa sensação de tranquilidade... a inquietação da sociedade brasileira de pediatria.

O tão temido Andador...

Esse assunto é tão polêmico quanto muitos outros assuntos nesse universo da maternidade, até mesmo como a própria maternidade em si, ou a peculiaridade de cada mãe em seu modo de maternar (quer coisa mais polêmica que exija mais jogo de cintura e paciência?). Diria até que é um assunto tão ou até mais polêmico que o tema: “chupeta”, mas em um ambiente mais delicado, onde os riscos e malefícios são ainda mais elevados e consideráveis, onde as consequências são extremamente complicadas, e em alguns casos até irreversíveis.

Antes que me julguem ou critiquem (embora já esteja acostumada), pondero: Sim! Eu fiz uso de andador quando criança! Sim! Vi meus irmãos usarem. Sim! Usei com a minha filha (embora pouquíssimo e esteja seriamente arrependida disso hoje). E finalmente NÃO! Nenhum de nós sofreu algum tipo de dano irreversível que comprometesse nossa estrutura óssea, nossos ligamentos ou qualquer coisa do tipo a ponto de comprometer nossa vida. Exceto por um galo cruel que meu irmão mais novo ganhou quando tinha apenas nove meses, porque ele queria descer um degrau com o bendito andador e não houve tempo de impedi-lo, o andador “virou” e ele se estabacou no chão de cabeça. Maior susto, mas nada grave! Olha o perigo, se fosse uma escada maior e não apenas um degrau. Ai ai ai! Não gosto nem de pensar!!!

Bom, também não houve “retardo” no processo de aprender a andar de nenhum de nós, aliás, meu irmão e eu andamos antes de completarmos um ano e minha irmã caçula com um ano completo. Minha filha, mais preguiçosa, com pouco mais de um ano. Quanto a esse tipo de “experiência triste”, eu não posso falar, embora eu tenha precisado das famosas botinhas ortopédicas quando criança, e digamos que tenha ficado com as pernas não exatamente “perfeitas”. Mas” tamo aê”, com saúde, e dignidade. Saúde é o que interessa né? (Só pra descontrair! risos).

O fato é que, eu só comprei aquele objeto de “desejo” de uma grande parte das mães, por puro capricho (mesmo o pediatra contraindicando o uso, pouco faltando para proibir por si só a venda no país. O cara era mesmo contra ao tal andador. Juro que vi sangue nos olhos dele no dia em que fiz a perguntinha mágica sobre o tal objeto), e porque eu jurava que ele iria me dar alguns momentos de “descanso”. Doce ilusão!

A verdade é que ele me trouxe mais dor de cabeça e preocupações do que eu supunha, e a pequena sinceramente não se adaptou muito bem a ele – ainda bem! - já que isso acabou por limitar e muito os períodos em que ela permanecia lá dentro. Confesso que em alguns raros momentos ele me foi útil, como por exemplo, na hora de estender uma roupa no quintal – que é plano, sem degraus e depressões, cercado, e sem risco algum para a integridade física da princesinha – e nada que um sling não resolvesse o problema tão bem quanto, ou até melhor. Em fim!

Manu presa na passagem da porta. Cadê a liberdade?
Mas num geral, eu não via muito utilidade na bugiganga, já que a filha não curtia ficar longos períodos nele. Seus passeios espevitados, empurrando o treco de rodinhas pelo quintal não passavam de 20 minutos, isso nos momentos em que ela ficava entretida por mais tempo tentando pegar o rabo do cachorro lá de dentro da coisa, atividade essa bastante difícil já que aquele “entorno plástico” todo limitava e muito o acesso dela aos lugares, e perigoso também, uma vez que ela impulsionava o corpinho para frente e por algumas vezes ela pegava “impulso” e quase conseguia virar para fora do andador – cada susto eu tomei!

Sempre permiti que ela usasse, podendo eu supervisionar integralmente o tempo que ela permanecesse no andador, do contrário, nada de bugiganga de rodinhas que promete ensinar a andar e dar liberdade à criança e à mãe (doce ilusão de novo!). Mesmo que o local onde ela iria ficar com o andador parecesse o mais seguro e confiável possível, eu nunca tirava os olhos dela, e ficava sempre próxima. Nunca confiei naquilo, e sinceramente, não dá mesmo pra confiar né?

Eu não julgo a mãe que opta por fazer uso desse objeto, porque de fato é algo de cunho bem particular, embora hoje a venda esteja proibida em todo o país. Porém, como grande parte das coisas nesse país, eu acho que o andador faz parte de uma cultura brasileira bastante questionável e duvidosa, dentre tantas outras coisas que fazem parte dessa cultura, e passam a mesma sensação de “perigo” e dúvida. Na minha humilde opinião, andador é assunto de saúde pública, que exige muito mais cuidado do que parece, de repente até uma lei, quem sabe para proibir o uso, e determinar a extinção definitiva desse artefato plástico. Mas esse já é outro departamento.

Uma vez, pouco tempo depois de eu comprar o andador (comprei quando Manuela tinha 6 meses) num desses grupos de maternagem do facebook, houve uma discussão “árdua” sobre o uso do andador, e uma fisioterapeuta, mãe, que fazia parte do grupo, entrou na discussão defendendo o “NÃO USO” e tentava quase que desesperadamente alertar as outras mães sobre os perigos do uso desse objeto. Após muitos argumentos, muitas contraposições, muitos “links” de artigos, estudos, matérias, notícias sobre os malefícios do andador, sem obter resultado algum, e quase sendo massacrada pela maioria das mães que estavam na discussão, ela ponderou e desistiu, saiu da discussão falando algo que me fez refletir, e muito: “Não vou discutir, mas vou lembrar vocês de um detalhe: Aqui no Brasil tudo é muito aceitável, tudo é muito “permissivo”, se andador fosse algo tão bom assim, que não oferecesse risco nenhum, vocês acham mesmo que países de primeiro mundo iriam proibir a venda desses brinquedos? Se nos outros países é proibido, não é um ponto a refletirmos sobre o motivo dessa proibição?” Simples assim! Foi o suficiente para me fazer pensar e pesquisar muito sobre o assunto. Na época ainda era vendido livremente andadores nas lojas de brinquedos e artigos infantis. Hoje a venda é proibida, porém não há uma fiscalização rigorosa, e ainda é possível encontrar lojas que comercializam as rodinhas mágicas e perigosas.

Foi então que eu definitivamente decidi que não ia mais usar o tal andador. Hoje, certamente eu não me daria ao luxo do suposto benefício da dúvida, hoje eu não compraria algo por capricho como o fiz, hoje após ler e reler histórias assustadoras de acidentes com andadores, de ouvir profissionais mencionando os danos que ele pode causar, vendo o quanto ele limitou a liberdade de exploração da minha filha, eu jamais gastaria meu dinheiro com tamanha “bobagem”, eu jamais me iludiria com tanta enganação. E eu não decidi isso do dia pra noite, ainda antes, pesquisei li, reli, me informei muito! As afirmações da fisioterapeuta no grupo só me alertaram de que algo estava errado, e foi o pontapé inicial para que eu buscasse a informação adequada para formar a minha opinião própria sobre o assunto, revendo meus conceitos anteriores e os mudando radicalmente.

Eu não vou citar dados de estudos, não vou apresentar links de matérias sobre o assunto, mesmo porque, não há matéria, estudo ou embasamento científico que mude a opinião de quem não se dá a oportunidade de mudar, de ouvir, de ponderar. Essa é a minha visão sobre o andador, e quando eu pensava diferente e via alguns profissionais falando algo que contrariava meus conceitos a respeito, mas não me dava a chance de pesquisar e buscar informação adequada, eu também achava que aquilo era tudo “especulação”. Eu só pude mudar de opinião quando me permiti pesquisar, ler, me informar, e finalmente abri a mente para compreender que haviam muito mais coisas sobre o assunto, do que supunha a minha vã filosofia.

Eu, não sou mais a favor do uso do andador, eu, hoje não usaria com a minha filha, eu, mas somente eu, acho arriscado, perigoso, um risco desnecessário à se correr. Mas, também eu, não tenho autonomia para julgar ou criticar a quem decide comprar e usar com seu filho. Isso é algo muito particular. Mas assim como tudo nessa vida, eu deixo a “dica”, faça sua escolha bem informada, sabendo dos riscos e perigos à que você está expondo o seu filho. Faça uma análise risco x benefício e tome sua decisão, consciente, bem informada. Simples assim!

Ps.: Esse texto foi escrito em minha página no facebook há exatamente um ano atrás, quando o assunto da proibição da vendas dos andadores veio à público, e as discussões sobre o uso tomaram as páginas, blogs e grupos de maternagem. É um texto sobre o meu parecer pessoal a respeito de andadores, mas achei interessante compartilhá-lo aqui. Eu não mudei de opinião, e o próximo bebê, que ainda é apenas um desejo, não chegará nem perto de um andador. 

sábado, 20 de setembro de 2014

Mãe Metamorfose

Ao longo desses pouco mais de dois anos desempenhando a melhor função que já tive na vida, “ser mãe”, eu já mudei de ideia inúmeras vezes. Isso porque sou um ser humano em plena “metamorfose”. Eu penso, logo existo, e desisto também. E acho normal. Como ser humano, sendo eu um ser “pensante”, me dou total liberdade de rever conceitos e mudar de ideia sempre que considero necessário, coerente e plausível. Me permito analisar a ideia do outro, e ver se serve pra mim. E se servir uso. Se não servir, respeito. Simples assim.
Eu, que antes era uma pessoa que temia grandes mudanças, na maternidade experimentei uma das maiores mudanças da minha vida, a minha própria mudança. A transformação do meu eu interior, das minhas lógicas e filosofias, das minhas mais profundas crendices, e dos meus mais terríveis medos. Tudo isso mudou. E eu vivo em confronto diário com a minha própria sombra, revendo meus medos, repensando meus critérios, recolocando as ideias no lugar, e desorganizando tudo de novo quando me vejo diante de uma nova fase de desenvolvimento da minha filha, ou do meu próprio desenvolvimento como ser humano, como mulher e como mãe.
Eu confronto constantemente as minhas antigas concepções sobre como criar um filho. Algumas eu ainda as mantenho, eu acho, outras já vi e revi e mudei de conceito algumas ou muitas vezes.
Quando pari (ou quase pari) minha filha, eu jurava que não permitiria dormir na mesma cama, que não amamentaria por mais de 18 meses, que ia corrigir com palmadas, porque afinal fui educada assim e não morri me tornei alguém descente. Né?
Não! Eu me tornei alguém descente porque levei palmadas pouquíssimas vezes na vida, e mal me lembro delas, aliás, só me lembro de uma única vez. E não! Eu não morri, mas de fato entendi que não estou aqui para criar sobreviventes. Assim como meus pais não me criaram, à mim e meus irmãos como sobreviventes de uma espécie que está sucumbindo às mazelas de uma sociedade corrompida e ultrapassada, eu também não pretendo criar a minha filha como uma simples sobrevivente.
Eu fui amparada pelo colo e afago da minha mãe e do meu pai sempre que precisei. Eu me lembro de uma infância feliz, cheia de risos e sorrisos. De me esconder dentro do guarda-roupa e quando meu pai me encontrava, ele ria comigo e não me “corrigia” com palmadas. Ele me pedia para não amassar muito as roupas e só. Era ele mesmo quem me colocava no maleiro do guarda-roupa, e fechava as portas e ia mandar minha mãe me procurar. E ela se fingia desesperada: “Cadê ela? Meu Deus ela fugiu?” Era a maior diversão. Meu pai era meu cavalinho, meu avião, meu super-herói. Minha mãe minha amiga, minha vizinha, a médica das minhas bonecas, a caixa do supermercado e a avó que vinha visitar as netas na minha casinha de bonecas. Ah! Eles eram também meus arquitetos que construíam cabaninhas de lençóis e cabos de vassouras incríveis. Meus pais foram bons pais. Eles são bons pais.
Tenho poucas lembranças de cenas onde eu era corrigida de forma violenta, com gritos e torturas emocionais. Lá pela adolescência, a coisa desandou um pouco, minha mãe esteve doente, e isso feriu um pouco nosso relacionamento. Mas águas passadas e feridas fechadas. A infância em si foi uma grande aventura. E se me tornei alguém de bem, é porque fui amada e amparada, e não porque recebi palmadas em algum dado momento da minha infância.
Mas eu, ainda assim, tinha em mente aquela ideia fixa: “dar palmadas para corrigir e educar!”. E por quê? Porque há uma imensa necessidade de aceitação. E a sociedade só aceita pais rígidos. Aqueles que dão muito colo e muito afeto são vistos como “mimadores”, que estragam os filhos e criam adultos dependentes e problemáticos. E eu passei a perceber que a coisa não é bem assim. Eu realmente não conheço nenhum bandido que tenha tido uma infância repleta de amor e acolhimento. Criar com amor estraga? Acho que não.
E mal Manuela nasceu e eu já comecei a mudar meus conceitos. A cama compartilhada, o que pra mim era algo desnecessário e abominável, ferramenta de uma dependência preocupante, passou a ser parte da nossa vida de maneira espontânea e muito agradável. Aos poucos, Manuela ganhou seu espaço conosco e lá permaneceu, até… Até quando ela precisar disso e nos sentirmos bem assim. A amamentação, bom, são quase 27 meses e sem previsão de desmame.
E sobre a palmada? Eu não precisei dar uma palmada para sentir que ela pode doer muito, até mesmo em mim e ferir uma alma muito mais do que fere a pele. A dor da minha filha sempre doeu em mim, e se dói em mim, é porque nela a dor deve ser muito maior.
Foi assim que eu comecei a repensar isso. Lendo relatos, histórias, artigos e matérias sobre disciplina positiva que eu fui aos poucos mudando de opinião. Até que um dia, ela, ao auge dos seus dois anos, se negou a recolher os brinquedos do chão: “NÃO!” Redondo, cheio de si e de ego. Eu, claro, fui me irando a cada não que recebia. E perdi a linha. Falei alto com ela.Eu gritei com ela. E ela, chorou. Chorou muito, profundamente, dolorosamente, sentimentalmente, como se eu a tivesse espancado, mas não apenas ao seu corpo físico, mas também o mais profundo de sua alma.
Ela chorou, e eu chorei também. Por desespero, por arrependimento, porque sabia que não precisava ter feito aquilo, porque eu percebi que a feri, porque tinha consciência de que eu era seu porto seguro e falhei, e a afastei de mim. Quando tentei abraça-la, ela prontamente me abraçou, para minha doce surpresa. Crianças sempre perdoam mais prontamente. E em meio aos soluços do choro doído, acarinhou os meus cabelos e disse: “Desculpa mamãe”. Mas quem devia um pedido de desculpas era eu. Eu provei na minha pele a dor da minha própria ira porque ela feriu alguém a quem eu amo mais do que à mim mesma. Eu chorei por longas horas, mesmo depois de ela ter parado de chorar e voltado a brincar. Eu chorei por dias. Na verdade ainda choro quando me lembro do terrível erro que cometi quando gritei com ela.
Daí por diante eu comecei a buscar mais e mais informações sobre como educar sem violência. E aplicando a disciplina positiva, vi que ela dá muito mais resultados, e Manuela responde melhor a ela do que aos gritos opressores. Eu entendi que não preciso conservar os velhos hábitos, a tradição passada pela sociedade de que bater para educar é bom. Eu aprendi que amar é mais válido, que acolher dá mais resultado, que incentivar tem maior efeito. E mais uma vez eu me permiti mudar. Mudar de ideia, de opinião e de ação. Para satisfazer uma necessidade pessoal de criar minha filha com respeito.
Eu venho mudando constantemente desde que nasci. Mas, mais vigorosamente com a maternidade. E me sinto bem assim, mesmo que às vezes fique perdida, mesmo que perdendo amizades. Não importa. É renovador. Mudar pode ser assustador, mas é necessário. E faz bem! 
Ser mãe me trouxe a incrível experiência de autoconhecimento e auto aceitação. Eu ainda não sei bem quem sou, mas sei quem quero ser. Alguém em constante mudança e adaptação, buscando sempre ser o melhor que consegue. Se não por mim, por ela, que é a razão da minha existência.
A maternidade me libertou do comodismo e do politicamente correto para vivenciar integralmente a maior e melhor experiência da minha vida.

sábado, 30 de agosto de 2014

Amamentando e aprendendo...

Amamentar por mais de 12 meses é quase uma “submersão” do mais profundo abismo. Quem consegue essa “proeza” é quase uma heroína, já que a grande maioria de nós, mães, sucumbe à pressão social para desmamar precocemente nossas crias. Todo mundo te olha com espanto, afinal, tá deixando o filho mal acostumado. Hábito feio um bebê grande mamar. CREDO! É isso que pensam quase sempre.

A verdade é que submergir dessas regras sociais sobre como “não amamentar seu pequeno grande bebê” depois de um ano, tem me feito muito bem, tem falado muito sobre meu verdadeiro eu, tem me mostrado quem eu sou e quem eu realmente quero ser. Verdadeiramente a experiência materna para mim, tem sido libertadora. 

Amamento minha filha há mais de 26 meses, em livre demanda (quando possível), dividindo a cama para sermos felizes. Simples assim. E eu trabalho... Veja só, é possível amamentar e trabalhar! E não houve introdução de mamadeira. Não! Nada disso. As mamadas continuaram depois do meu retorno à vida profissional, quando ela tinha mais ou menos 15 meses. Ela mamava de manhã, e depois à tarde quando eu chegava o quanto queria. Sem pressão.

Durante o dia seguia se alimentando normalmente, frutas, verduras, legumes e os derivados de leite. Porque o leite em si ela inicialmente não aceitou, nem o da vaca nem o da mamãe leiteira fora do peito. Era peito e só! O resto de sua necessidade alimentar era suprido com alimentação saudável e caseira.

Se isso me afligia? No início um pouco. Pensava que era importante ela consumir o cálcio do leite, que mamando menos no meu peito, lhe faltaria esse cálcio. Mas ela comia iogurte natural puro. Queijo fresco sem sal. Comia tudo que oferecesse a ela, e isso incluía ovo e brócolis. Então, depois de muito ler a respeito, entendi que não tinha com o que me preocupar. Mantive a amamentação sem culpa, porque nos sentimos bem assim.

Leite de vaca? Hoje, ela toma! Porque me vê tomando e quis finalmente experimentar. E veja, ela gostou. Toma às vezes, sem regra. Nós não delimitamos quantidade e horários, ela toma quando quer e se quer. Nem gosto muito desse hábito meu, e não queria passar para ela. Mas se ela gosta, então que tome. Procuro as marcas mais confiáveis e só. Sem grandes expectativas sobre. Nós gostamos de bater com morango e aveia. Fica uma delícia.

Dia desses, uma amiga minha que está grávida, veio me pedir dicas sobre amamentação, e eu prometi à ela que formularia algumas dicas e a enviaria. Mas inicialmente eu pensei, e pensei, e não conseguia chegar a uma conclusão sobre quais dicas dar a ela. Eu poderia falar pra ela sobre a buchinha vegetal, que ela não passasse no mamilo, porque comigo não funcionou e feriu meus mamilos antes da hora desnecessariamente. Mas e se com ela funcionar? Eu poderia falar de como o inicio da amamentação pode ser difícil, mas e se isso a assustar?

Em meio aos pensamentos e devaneios de como dar a ela dicas sobre amamentação, eu e Manuela adoecemos, e eu esqueci um pouco do assunto por uns dias. Mas assim que Manu se recuperou, lembrei-me da solicitação dessa amiga, e voltei a pensar no assunto. Eis que me lembrei de um texto que escrevi pra uma integrante de um desses grupos de maternagem que existem aos montes no facebook, que pedia ajuda, pois a bebê de três meses estava largando do peito. E aí resolvi adaptá-lo para ela.

Aí vai o texto.

[...] Não existe uma fórmula mágica para amamentar, ou produzir mais leite. A receita é simples: estímulo e muita paciência. Como tudo na maternidade, é preciso paciência, e perseverança. O início pode ser complicado, difícil e doloroso. Mas não se desespere, em algum dado momento, sem nem mesmo que você perceba tudo ficará lindo, e os momentos de amamentação serão repletos de ternura e prazer.

Não dá para prever como será exatamente com você, para que eu dê dicas “específicas”. Cada corpo reage de uma maneira, e cada mãe reage de formas diferentes também. Comigo o início foi complicado, os mamilos racharam e eu sentia muita dor ao amamentar. Mas Manuela teve uma pega perfeita desde a maternidade. As fissuras vieram porque ela tinha uma imensa necessidade de sucção, e passava muitas horas grudada ao peito. Para essas fissuras a solução foi simples, mas só veio duas semanas mais tarde: conchas de base flexível e banhos de sol.

Uma amiga querida passou em casa num dia de manhã, antes de ir para o trabalho dela no banco, para me ver e me deixou as conchas que ela havia usado quando teve a filha dela. Ela disse: “Ferva as conchas e use! São ótimas.” Ela foi embora, eu lavei bem as tais conchas, que até então eu não conhecia, e usei. CONCHAS SALVADORAS, diga-se de passagem. Elas somadas aos 10 minutos de sol diário que eu tomava nas mamas, pela janela do quarto junto com a Manu antes das 10 da manhã, cicatrizaram a pele do meu mamilo por completo em poucos dias.

Elas permitiam que os mamilos ficassem “intactos” e longe do atrito, e que a pomada receitada pelo médico fizesse efeito, e não fosse removida pelo tecido do sutiã ou do absorvente de seio. Elas faziam com que o “excesso” de leite pingasse evitando o chamado leite empedrado.

Portanto, se as temidas fissuras nos mamilos acontecerem com você, tenha calma, respire fundo, morda o travesseiro, um pano, a ponta da toalha, implore a Deus suas mais urgentes necessidades, chore - faz parte chorar, aliás, no puerpério chorar é muito normal e muito bom! Renovador eu diria – mas não desista. Persista, insista, persevere. E repita o mantra da maternidade: Tudo passa!

Ah! E use as conchas. Mas só durante a amamentação tá? Antes não precisa. Rs...

Esteja atenta a todas as recomendações da enfermeira que for lhe auxiliar na primeira mamada, elas costumam ser bem experientes e ajudam muito, pergunte tudo que precisar e quiser.

A boquinha do bebê deve abocanhar quase toda a aureola do seu seio, e deve permanecer nele como uma boquinha de peixeinho com todo o lábio voltado para fora (imite uma boca de peixinho na frente do espelho – é assim que o bebê tem que pegar a mama ok? Rs). Se o lábio do bebê “virar” para dentro, tire a mama com a ajuda do seu dedo mindinho (com cuidado, tirar de uma vez pode machucar), colocando suavemente no cantinho da boca do bebê, e recoloque a mama na boca do bebê, tentando fazê-lo abrir bem a boquinha.

Para estabelecer uma amamentação com sucesso, livre-se de qualquer bico: chupetas, mamadeiras, chuquinhas. Nada disso ajuda. Mamadeiras e chupetas num geral podem atrapalhar e comprometer todo o processo de amamentação, isso porque pode acontecer com o bebê a chamada “confusão de bicos”, onde o bebê consequentemente após um tempo optará por aquele que for mais fácil e confortável. O modo de sucção dos bicos de mamadeiras e chupetas é diferente da sucção do seio materno, demandam menos esforço. Mamar ao seio não é uma tarefa tão simples, e as mamadeiras são mais fáceis de sugar e saciam em menos tempo. Então vai chegar uma hora que o bebê fará sua escolha, e bem provavelmente não será pelo seio da mãe.

Beber muita água também ajuda na produção. Mas confiar que você pode é uma regrinha de ouro. É verdade que o nosso psicológico pode influenciar muito na produção de leite. Muita ansiedade e nervosismo pode prejudicar o processo, e isso é mais comum do que parece.

No início é provável que você tenha seios fartos de leite, cheios, duros, vazando. Pode ser que sim, mas pode ser que não. E isso não é caso para desespero, nem no mais e nem no menos. Esse excesso de leite se dá devido a uma espécie de “descontrole” na produção inicial de leite. Há uma produção muito maior do que a demando exige. Com o tempo o seio vai se adequando, vai se adaptando e entendendo a demanda, e passa a produzir apenas a quantidade exata necessária.

Há uma enorme pressão sociocultural de que mães recém-paridas tem que ter leite demais, de sobra, para dar e vender. Isso não é verdade! Não é assim que funciona. Aliás, pra quê tanto leite? Rs... O importante mesmo é que você saiba que tem o leite suficiente para o seu bebê. Não existe leite fraco, e nem pouco leite. Nós mulheres temos as mamas projetadas para produzir leite, simples assim. Confie na fisiologia do seu corpo, e acredite em você. Apenas em casos muito específicos, isso não acontece de maneira adequada e satisfatória. Mas são casos isolados e geralmente raros.

É importante lembrar que 80% do leite materno é produzido durante as mamadas, portanto, não é necessário que se tenha os seios “fartos e vazando” para se ter muito leite. Na verdade o seio adéqua a produção de leite conforme a demanda após o terceiro mês do bebê, e aí que entra a questão “quanto mais o bebê sugar, mais leite a mãe terá”. Porém não espere que seus seios fiquem duros e vazando, porque isso normalmente só acontece mesmo nas primeiras semanas quando o seio ainda não se adequou à demanda.

Acho interessante mencionar que o leite materno é facilmente digerido, o que leva o bebê a ter necessidade de mamar mais vezes do que se ele fosse alimentado com fórmulas que são mais “pesadas” e de difícil digestão. Alguns bebês tem mais necessidade de sucção que outros, e essa necessidade é normal e muito saudável, o reflexo da sucção é algo bom. Ás vezes estar ao peito não necessariamente significa que ele esteja com fome, ele pode apenas estar querendo o “acalento” e conforto que o seio materno lhe proporciona. Estar no seio da mãe é estar perto ao calor de seu corpo, ouvindo sua respiração, o que bem provavelmente deve fazer o bebê lembrar-se do conforto do útero, que foi seu lar nos últimos nove meses.

Então é absolutamente comum que o bebê queira estar no peito o “tempo todo”, já que isso significa pra ele “sobrevivência, segurança e conforto”. Se esse for o caso do seu bebê, como foi o caso da minha, não se assuste ou se desespere. Não é falta de leite, é necessidade de colo e peito de mãe.

Gosto sempre de lembrar que nós, somos “animais”, que embora sapiens, ainda temos a essência animal e o instinto de sobrevivência. E embora nós, adultos tenhamos a percepção de que nada de mal irá nos acontecer se ficarmos sozinhos no quarto ou no “carrinho”, longe do colo de nossas mães, o bebê ainda não aprendeu isso, e ele sente que junto à mãe tem mais chances de sobreviver, e se sente seguro, isso é o instinto de sobrevivência. Absolutamente natural e saudável. Né?

Quando o bebê chora muito, e exige muito da mamãe, que muitas vezes está cansada devido às grandes mudanças que lhe são impostas com a maternidade, sendo que o puerpério nem sempre é um mar de rosas, as pessoas num geral, que estão pra lá de habituadas a palpitar na vida da gente, logo vão diagnosticando as possíveis problemáticas para o choro se dar:

- É fome! Dá mamadeira logo.
- É cólica. Dá chazinho.

A verdade é que nem sempre choro significa dor ou fome. Os bebês só sabem chorar, e o choro pode significar uma infinidade de coisas. Até ontem ele estava seguro dentro de um útero, lugar quentinho, úmido, embalado pelo som do coração da mãe, carregado em seu colo o tempo inteiro e de repente ele se vê fora daquele ambiente seguro e confortável que ele conhecia, com vozes estranhas, pessoas o pegando, conversando com ele, sem os “limites” das paredes uterinas para lhe dar noção de espaço. Então ele se sente inseguro. Normal não é? E por isso ele vai chorar também. Esse é o meio de comunicação dele, e não há outro meio de dizer: “Mãe quero seu colo, quero seu carinho. Quero voltar para o seu útero”.  

Portanto não caia naquela ilusão de que é fome e ele vai parar de chorar com uma mamadeira. Ou de que é cólica e tem que que dar chazinho e medicar. 90% das cólicas dos bebês, é má interpretação, só porque nossa cultura desenvolveu essa resposta para o choro. Mas é muito mais comum que o bebê chore porque tem medo do desconhecido, já que tudo que ele conhecia era o útero da mãe, do que por dor de barriga.

Quanto à fome, nós só devemos questionar a eficácia do leite materno quando o bebê deixa de ganhar ou perde peso, aí sim é necessário intervenções com fórmulas. Do contrário, o leite materno é absolutamente adequado e suficiente para suprir as necessidades do bebê integralmente até o sexto mês de vida, inclusive de “aconchego” ao longo de sua vida mamando no seio da mãe. Sei que pode ser cansativo e desgastante, mas se tem algo que posso lhe dizer a respeito, é que é uma fase, eles crescem rápido, e quando menos você esperar, seu bebê estará indo para faculdade, e certamente você sentirá saudade de todo essa dependência que ele terá de você no inicio da vida.

No final das contas minha amiga querida, não há como eu delimitar para você algumas regras ou dicas sobre amamentação, porque essa fase é particular para cada mulher. Cada uma de nós lida e entende essa fase de uma maneira diferente. Para mim, é só alegria. Mas não nego que houveram momentos de esgotamento e dificuldades.

O mais importante é confiar em você, na força do seu corpo, e estimular a produção. Tome muita água e estimule o quanto puder quando o bebê nascer. Lembre-se da única regra comum da amamentação: quanto mais o bebê sugar mais leite você terá.

Boa sorte.

sábado, 9 de agosto de 2014

Falando das minhas Frustrações

Deixar-se ser parida para evitar o "pior" ou: Fugir do doutor e parir em paz?

Falar sobre o nascimento da minha filha não é uma tarefa simples. Embora tenha tido um parto até bem satisfatório se comparado com os muitos que vemos por aí. Tenho que confessar que esse momento me deixou uma lacuna no coração. E particularmente para mim, não foi tão satisfatório assim. Apenas para o doutor, o hospital, a equipe e a sociedade que só conhece um modelo de obstetrícia falido o parto foi um sucesso. Para mim, não!

Foi um parto “normal” hospitalar, e talvez isso diga muito à respeito do desenrolar das situações – Parto hospitalar. Não foi ruim, essa não é palavra, ou talvez tenha sido ruim. Sim! Foi ruim. Mas apenas hoje tenho consciência disso, e percebo que os acontecimentos não corresponderam ao que eu vejo hoje como algo bom. Para o que eu imaginava naquela época de fato não foi ruim, ninguém morreu, não tive um bebê com sequelas por ter nascido pela vagina da mãe, o doutor fez seu trabalho, e nós ficamos bem depois. Ou quase. Manuela teve uma espécie de "edema" no olho esquerdo, externamente, devido ao fórceps.

Eu pouco sabia sobre a realidade atual da nossa assistência obstétrica quando minha filha nasceu, sobre os índices lamentáveis de cesarianas, sobre como somos massacradas dentro de maternidades, e como perdemos a força e a autonomia nesses ambientes inóspitos. Tudo que eu sabia é que eu queria um parto normal, não importava à que custo. Eu não queria uma cirurgia, pois na minha cabeça, se havia um modo não invasivo de um bebê nascer não havia necessidade de me submeter à uma cirurgia. Mas era só isso que eu sabia. Então, naquela época, era difícil definir um parâmetro para calcular se o meu parto havia sido bom ou ruim. Superficialmente, se analisado e comparado com os muitos partos que acontecem Brasil à fora, de fato foi bom. Das violências que sofri, as quais só tomei conhecimento mais tarde, à única que me saltou aos olhos na época, foi a separação da minha cria de mim.

No que diz respeito à minha “satisfação” com o parto para àquela época, naquele momento eu estava relativamente satisfeita, embora soubesse que aquele processo havia falhado em algum ou vários momentos, mas não sabia delimitar nem quando e nem como. Então, embora sentindo no fundo da alma que aquele tipo de parto não era o ideal, eu ainda acreditava que fora bom.

Durante o trabalho de parto recebi apoio da equipe de enfermagem, pude contar com a presença do meu marido o tempo todo, e a enfermeira que me acompanhou durante toda a madrugada era quase uma doula pra mim. Me apoiava, me encorajava, me animava, me dizia que eu era capaz naqueles momentos em que a dor das contrações me faziam xingar até o último fio de cabelo de Eva que pecou e fez com que Deus ordenasse: “Parirás com dor.” Eva maldita!  (Para descontrair... rs...) Ela foi uma anja em minha vida aquela santa enfermeira. Se recusava à fazer exame de toque, e colocava o coraçãozinho da minha bebê pra eu ouvir e me acalmar.
  
Eu não tive uma doula, não conhecia o trabalho maravilhoso dessas mulheres naquela época. Mas aquela enfermeira fora minha anja guardadora, ela me amparou e me fez não desistir do que eu mais desejava: um parto por via vaginal. Porque houveram momentos, eu confesso, que eu quis desistir. Por falta de informação, por achar que não aguentaria, por não conhecer a potência do meu corpo, por não saber dos direitos que tenho sobre ele, por não conhecer minha valentia e força como mulher, por não ter me preparada para aquele momento como devia.

E então eu não pari. Fui parida.

Naquela época, o que importava pra mim é que minha filha saísse por onde entrou. Como isso aconteceria, não fazia muita diferença. Eu achava mesmo que tinha que ser como o médico achasse melhor, e não como eu sentia que poderia ser, ou como o meu corpo fizesse no momento dele, na hora certa, do jeito certo. Eu nem sabia que era capaz. Aliás eu se quer podia "medir" o "jeito certo", eu nem o conhecia. Eu conhecia partos normais e cesáreas, e sabia que não queria uma cesárea, e só!

Lá pelas 6 horas da manhã, após mais ou menos 8 horas e meia de bolsa rota, e em trabalho de parto ativo, debaixo de um chuveiro numa cadeirinha de parto (por incrível que pareça o hospital tinha uma dessas), eu senti uma pressão forte na pelve, e muita, muita vontade de fazer força. Eu já estava cansada, e com muita dor. Mas por um impulso, rapidamente me abaixei no chão, em cócoras, e pedi ao meu marido que chamasse a santa enfermeira. Ficar de cócoras foi um impulso instantâneo, não intencional, que me veio como um ato natural. Nem eu mesma sabia explicar porque tinha me abaixado ali daquele jeito.

A enfermeira veio com uma outra enfermeira me explicando que o plantão dela estava acabando e que a outra iria ficar comigo, mas que eu poderia ficar tranquila, porque essa outra iria cuidar muito bem de mim, naquele momento eu senti medo, e quase pedi para que ela ficasse mais um pouco, mas me segurei. Ela se despediu, me desejou boa sorte e disse: “Acredite! Você pode!”. A outra enfermeira, uma nova santa em minha vida, ficou comigo no banheiro, e eu pedi para verificar minha dilatação, e que surpresa boa: Dilatação total! Bebê um pouco alto e colo um pouco grosso, mas estava quase lá. Ela me olhou e disse: “Você está quase lá! Só mais um pouquinho e seu bebê vai estar aqui”. Eu pedi para ficar ali, abaixada, e ela consentiu.

Acontece que chegou o doutor. E chegou já me chamando pra deitar na cama pra ver minha dilatação, e eu? Obedeci é claro. Era o doutor afinal.  Quando eu deitei, senti que a pressão que estava sentindo na pelve passou. Aí o doutor disse que o bebê estava alto e o colo um pouco grosso, mas eu já poderia tentar fazer força. Tentar fazer força? Eu queria ter ficado lá no chuveiro um pouco mais, algo me dizia que ali a coisa fluiria melhor:

- Doutor não posso ficar mais um pouco no chuveiro? Me sinto melhor lá!

- Não precisa disso não mãe! Vamos pra sala de parto fazer esse bebê nascer. (Fazer esse bebê nascer?)

Fui andando. E lá começou minha tortura. Deitei numa cama larga, com barras de ferro e me mandavam fazer força segurando na barra de ferro... "Força comprida", gritava uma doutora na porta da sala de parto, enquanto uma enfermeira me furava procurando minha veia. "Mas tem que ser na mão?" eu questionei, e a enfermeira com pena: "Ai "fia", não tô achando outra! Desculpe mesmo!". E eu fazia força, a tal força comprida até quase perder os sentidos. Eu não conseguia mais. Foram longos minutos, nem sei bem quantos, uma hora inteira talvez.

O doutor enfiou as mãos em mim me causando imenso desconforto e dor, na frente pessoas que eu nunca tinha visto na minha vida (a sala estava cheia de gente), na frente do meu marido, virou a minha filha, e eu nem sei bem porque. A enfermeira santa, tinha uma feição de: "Não faz isso aí não doutor." Enquanto segurava minha mão, e me dizia: "Confia, você consegue." Mais força, e então o doutor disse: “Bebê muito alto! Vamos para o centro cirúrgico já”. Vamos para o centro cirúrgico? Como assim?

Antes disso tinham me colocado soro, e eu nem havia percebido, mas era a temida ocitocina sintética. A dor se atenuou com o “sorinho”, e eu gemia incontrolavelmente. Eu fui pelos corredores implorando para não fazer cesárea, aos prantos, desesperada, assustada, intimidada e com muita dor. A enfermeira me olhava com pena, e dizia baixinho: “Calma, fica calma! Vai ficar tudo bem! Confia.”

No centro cirúrgico chamaram o Anestesista, e o doutor pediu que ele me aplicasse a raqui caso precisasse de cesárea. (Cesárea????)

- Não doutor, eu não quero cesárea. Eu quero parto normal. Tem alguma coisa errada? Eu não posso ter parto normal?

- Fica calma mãe! É só um procedimento padrão para sua segurança. A anestesia vai te ajudar a relaxar, e vamos tentar mais um pouco ok? (Respondeu rispidamente, faltando pouco me mandar calar a boca.)

Anestesia aplicada, a dor sumiu instantaneamente. Confesso que senti um alivio. Foi então que notei: Cadê meu marido? Ele não tinha entrado ainda.

Mais força. Puxo dirigido, dessa vez necessário, pois devido à anestesia eu não sentia mais as contrações. A enfermeira anja segurava minha mão, enquanto eu implorava pelo meu marido. “Chamem meu marido, quero que ele esteja aqui quando ela nascer!” O doutor me ignorava, a enfermeira anja pedia para todos os seres que rondavam aquele centro cirúrgico (que momento horrível, um monte de estranhos me olhando naquela posição de tamanha submissão e exposição). Até que ela larga minha mão e vai ela mesmo pedir para mandarem meu marido entrar, eu ouvi quando ela disse: “Chamem o marido da gestante, ela tem direito de que ele esteja aqui.” (Ah essa enfermeira anja!!!) Mas ainda antes dele entrar, o pediatra chegou, e o doutor discutiu com ele o fórceps. Isso não era uma opção para mim, mas naquele momento eu estava entregue, e eu juro que só queria que minha filha saísse bem daquilo tudo, foram momentos de muita tensão, angustiante, então se o fórceps ajudaria no processo, que assim fosse. Ambos concordaram, o pediatra e o doutor. Mas e eu? Ninguém me perguntou. Então, que assim fosse... E foi!

Me cortaram, sem que eu soubesse, e tiraram minha filha à ferro de mim, no momento em que meu marido estava entrando na sala. Pelo menos deu tempo ele ver ela chegar ao mundo, embora de uma forma fria e violenta. Embora diferente do que eu tinha imagino. Embora tendo ficado assustado com a brutalidade que ela fora "arrancada" do meu útero.

Fui parida! E ela fora nascida. 

De forma brutal, violenta e assustadora. Ela não chorou, não "respirou" (assim disse o doutor) e eu tive que fazer isso por ela, para ela receber oxigênio pelo cordão, que estava enrolado no pescoço. "Respira fundo mãe! Respira! De novo." Meu único conforto era ver o pediatra, que foi meu pediatra e de meus irmãos, e é alguém em quem confio muito. Ele falava comigo me chamando pelo nome, ele me conhecia afinal. Ter alguém se dirigindo à mim me chamando pelo meu nome era reconfortante, e me passava segurança. A circular de cordão, desculpa dada pelo doutor para o parto “difícil”, foi também o que ele usou como muleta para me amedrontar. (Parto difícil? Nem deu tempo eu pensar, e já estava no centro cirúrgico. Sempre ouvi dizer que partos são demorados, mas quando finalmente entrei na partolândia, fui parar num centro cirúrgico. Qual é o parâmetro para se “medir” um parto difícil? Circular de cordão não pode ser!)

- Ela podia ter morrido sabia mãe? Nasceu com circular de cordão. Isso podia ter matado ela.

Eu não sabia! Não sabia mesmo que cordão matava. Porque evidências científicas mostram que circular de cordão não mata bebê. E disso eu sabia, essa informação eu tinha! Respondi à ele friamente:

- Não sabia não doutor! Deus guarda os seus, e cordão não mata, não que eu saiba.
(De algum modo, com as poucas armas que tinha, eu lutei pelo pouco direito que havia me sobrado! O direito de ter meu marido comigo, o direito de não deixar o médico me enrolar. Embora timidamente, e sem voz ativa, mutilada por um sistema de obstetrícia falido, eu exigi o pouco direito que me sobrava, a presença do meu marido, e me atenderam, muito a contragosto, mas atenderam.)
Mas... Cadê minha filha? Aparataram-na de mim. Eu nem ouvi seu chorinho. Cortaram o cordão e levaram-na.

- Mas cadê ela? Está tudo bem? Ela está bem?

Meu marido e a santa enfermeira me acalmavam. "Ela está bem! Fica calma, o pediatra só foi examinar ela!" dizia a enfermeira. Os minutos mais longos da minha vida foram aqueles. Enfim o choro rouco ouvido de longe. Nota Apgar 7 e 9. (Cordão mata doutor? Não.. não mata não!) Finalmente a vi, linda, boquinha de coração. Mas... Levaram-na de novo: “Pra onde? Berçário? Precisa mesmo? Papai vai com ela, deixa eu aqui! Vai atrás dela.”

Ela nasceu as 7:30 da manhã, eu fui pra sala de recuperação devido à anestesia, e fiquei lá por mais de uma hora. Ansiosa, perguntava as horas pra todo mundo que passava por mim, a maioria me ignorava, ou dizia que ia ver e não voltava mais. Fui para o quarto por volta das 9 horas, e recebi finalmente minha filha, banhada, trocada, penteada. Naquele momento me dei conta de que algo tinha dado errado.

Ela estava bem, mas eu não! Porque precisei ficar longe dela todo aquele tempo, porque não deixaram que ela ficasse comigo logo no primeiro instante de vida, pele a pele, em contato direto com meu corpo como fora nos último 9 meses, porque não me permitiram conhecer minha filha já no primeiro instante de sua vida fora do útero. Isso retardou nosso processo de conhecimento. Isso me feriu. A ferida foi tão profunda que me impulsionou a buscar mais informação. Descobri um universo de coisas que não conhecia, meses depois de "quase parir", e entendi que o que eu sentia à respeito do meu quase “não parto” tinha fundamento, não era uma frustração boba.

Eu não tinha parido, eu fui apartada da minha cria. Levamos dias para nos “reconhecer”. Por sorte nos saímos muito bem nesse processo, e trilhamos com sucesso esse caminho juntas, dia-a-dia. A amamentação foi um sucesso desde a primeira sugada. Nas primeiras semana difícil para mim, mamilos fissurados, sangrando, mas eu persisti, perseverei, ela merecia isso. Para ela, foi um processo simples, a pega fora perfeita desde a primeira abocanhada. Mamou 3 horas seguidas no primeiro dia, o que fissurou meus mamilos. Mas nada paga aquele momento que vivi, com ela grudada no meu peito. Os primeiros instantes de reconhecimento.

Não é fácil admitir que meu “quase não parto” foi um fracasso, uma sucessão de situações que levaram à um desfecho não favorável nem a mim e nem à minha filha. Eu não precisava de fórceps, precisa de um chuveiro com água morna, de ficar abaixada ou em pé para contribuir com a gravidade, e não deitada em posição ginecológica. Eu precisava de tempo, paciência e respeito, do doutor e da equipe, precisava de apoio e incentivo e não de um médico que fazia tudo no meu lugar, sem nem me perguntar ou me deixar decidir se eu queria passar por aquilo ou não. Ele apenas seguia protocolos hospitalares, e fazia aquilo que ele julgava correto e salvador. Ele e sua equipe não tinham tempo para perder, havia outra gestante em trabalho de parto e ela ia parir a qualquer momento, e se eu não "parisse" logo, ia atrapalhar. Foi isso que senti.

Meu parto foi um fracasso, embora tenha sido um sucesso pro doutor. Ele se sentiu o herói que salvou uma vida, mas eu me senti um animal ferido, acuado, enjaulado, privado de sua liberdade. Para ele foi só mais um parto. Para mim foi uma ferida na alma.

O doutor não foi o herói, ele foi o algoz que sentenciou à morte o meu parto quase normal, que apartou de mim minha cria, que me violentou e me tirou o direito mais genuíno, minha autonomia sobre o meu próprio corpo.

Hoje falo no meu "quase parto" com menos pesar, embora ainda pese. Falo nessa história para esclarecer, que embora eu tenha recebido uma boa assistência no pré-parto, e isso faça parecer que eu não sofri violência obstétrica, a assistência obstétrica em si foi uma sucessão de agressões à minha integridade física e ao meu direito de decidir por mim mesma. A minha autoridade sobre o meu corpo foi anulada naquela maternidade. A ausência de diálogo, a decisão de anestesiar, de tirar a fórceps, de cortar meu períneo, todas feitas sem meu conhecimento e consentimento. A forma bruta ao me falar que minha filha poderia ter morrido, como se ter insistido num parto vaginal tivesse sido um absurdo, e como se algo tivesse dado errado a culpa seria minha.

Violência, mártires, pressão psicológica. Eu sofri isso tudo dentro do hospital, e é por isso que quando eu tiver outro filho, eu quero parir em casa, com uma doula e uma equipe que me respeite e apoie, e não que martirize e faça de mim objeto de uma assistência falida de obstetrícia, meu filho como produto de um nascimento vitorioso e o doutor como o autor do milagre do nascimento.

Ah! As enfermeiras anjas? Soube que uma delas, a segunda, acompanha partos domiciliar. E ela estará lá quando eu finalmente parir! Assim espero.

Parir... eu ainda posso! Eu quero e eu vou!

domingo, 27 de julho de 2014

Quando minhas escolhas transgrediram minhas convicções.

Desmamar por pressão? Ou deixar que mame enquanto queira?

Há algum um tempo, eu escrevi um texto para uma campanha virtual de apoio à amamentação que se iniciou com base na denúncia de uma foto minha amamentando minha filha que eu havia publicado no facebook, na época Manuela tinha 1 ano e 11 meses.

A campanha que tomou força pela motivação das minhas amigas em defender o direito de amamentar, foi um mega “trabalho” de conscientização, que tomou proporções incríveis. Eu escrevi o texto na época, e por algum motivo não o publiquei. Não me lembro bem porque. O texto falava sobre o movimento, sobre o pudor distorcido da sociedade, sobre o preconceito contra amamentação em publico, falava sobre a importância da amamentação, das delicias que ela traz, de como amamentação prolongada (além dos dois anos) traz benefícios para a criança, tanto física quanto psicologicamente. Eu discursei “lindamente” sobre essa 8º maravilha do mundo: amamentação. E tinha bases para isso, bases científicas inclusive, de estudos sérios. Era convicta de que amamentaria sem “prazo de validade”.

Encontrei o texto por acaso, nos arquivos do meu computador, e li ele todo. Acontece que eu encontrei esse texto na hora exata, em que precisava de um “choque de realidade”, no momento em que eu mesma precisava rever meus conceitos, e resgatar minhas raízes de mãe mamífera que sou.  

É que eu andava muito confusa com a questão do desmame. Não sabia dizer se era hora ou não era. Hoje Manuela está com 2 anos e 1 mês (quase dois). E me peguei confusa sobre minhas próprias convicções, que sempre me disseram que eu deveria amamentar até quando pudesse, até quando ela não quisesse mais, até quando nós duas nos sentíssemos confortáveis. Mas, debaixo de uma pressão social, vinda inclusive de familiares muito próximos, comecei a me questionar quanto a essas convicções. E fiquei insegura com relação à minha própria escolha sobre essa amamentação prolongada. Seria essa atitude realmente prejudicial como me dizem o tempo todo? Estaria ela já grande demais para mamar no peito?

Eu realmente estava (e estou) muito cansada dos olhares reprovativos, das pessoas “boquiabertas” ao me verem amamentando uma criança grande como Manu. Até porque, ela é quase uma adolescente né? Ao auge dos seus quase 26 meses de vida, ela já pode ser considerada alguém que precisa ser independente né? SÓ QUE NÃO! Não mesmo... Mas cansa muito ter que discursar incansavelmente sobre os motivos que me levaram a amamenta-la até hoje. Cansa ter que lidar com o constrangimento que sinto cada vez que Manu quer mamar e eu estou num lugar público, ou cheio de gente em volta. Cansa muito olhar para as pessoas e vê-las com aquele olhar pasmado por verem que ainda ofereço meu seio materno à minha pequena grande bebê.

Toda essa pressão que venho sofrendo, e que vem me cansando dia após dia, foi me impulsionando a por em cheque o nosso momento mais íntimo e mais delicioso: Estaria eu, agindo corretamente, permitindo que minha filha ainda mame no meu seio?  Estaria eu sendo egoísta por não querer romper esse vínculo? Será que tá todo mundo certo, e eu errada?

As dúvidas foram tamanhas que eu cedi à pressão, minha estrutura materna abalada e fragilizada, se rendeu ao “socialmente correto”, e eu achei que tinha que desmamar Manuela. Afinal, ela já tem dois anos. Mas o meu coração não se convencia disso. Eu não estive segura em nenhum momento quando falava em desmame. Mas ainda assim, eu falava nele com autoridade, afinal de contas eu tinha que fazer isso em algum momento, e tinha que ser firme, então que fosse agora. Né?

Eu fui tentando me convencer de que aquilo era mesmo necessário, eu falava com algumas amigas mães de um grupo que participo de bebês da mesma idade da Manu (onde todos ou a maioria já foi desmamado há muito tempo), e desabafava: “Estou me preparando psicologicamente para o desmame! Preciso me preparar para ser forte, pois certamente é mais difícil pra mim do que pra ela”.

Vejam a situação, nem mesmo eu, conseguia me convencer de que estava agindo da maneira adequada. Eu me questionava como um momento tão lindo e tão prazeroso pra mim e pra ela poderia ser algo ruim. E se era, porque eu não conseguia me convencer disso?

O problema é que os filhos pequenos são o reflexo direto da mãe. As frustrações da mãe, a ansiedade, a insegurança é refletida diretamente neles, e eles reagem a isso, então não seria difícil apenas pra mim, mas pra ela também. Às vezes nem mesmo nós, “as mães” percebemos nossa ansiedade, mas nossos bebês sentem e refletem isso. (Vale ler “A Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra” de Laura Gutman que fala sobre o assunto, e é no mínimo esclarecedor).

Em meio às pesquisas por um copo de treinamento adequado para substituir as mamadas com “leite de vaca”, meu coração ficava apertado, eu tinha vontade de gritar comigo mesma e dizer: NÃO LAÍS! Para tudo!!! Você não está agindo da maneira correta. Agora não é o momento. Nem para você e nem para ela.” Mas eu não ouvia a voz da minha razão, porque a confundia com a voz da emoção.

Segui com o plano, e comecei a negar o peito para a Manuela, expliquei que ela só iria mamar em casa e para dormir à noite. De dia não mais. De manhã tomaria leite no copinho, e a tarde quando eu chegasse do trabalho para pegá-la na vovó não iria mamar. O plano era simples, tirar as mamadas do dia, e aos poucos tirar a mamada da hora de dormir a noite. Na teoria, tudo perfeito. Queria ir com calma, para não ser um processo traumatizante. Acontece que as primeiras tentativas foram um fracasso. Ela choramingava a casa 5 minutos pedindo pelo “tetê” de manhã, e depois quando eu chegava do trabalho, mesmo que eu desviasse a atenção dela com outras coisas, e eu acabava cedendo. Martirizava depois: “Mãe mole que sou! Tenho que ser mais forte. Não posso fraquejar desse jeito”. Mas ao mesmo tempo me deliciava com ela sugando meu peito, se nutrindo do meu leite, olhando nos meus olhos e acarinhando meus cabelos.

Mas eu insisti. Num dia à noite, preparei um leite pra ela, e ofereci, ela prontamente aceitou, ama leite. Eu tinha certeza de que ela não iria pedir o peito na hora de dormir, pois estava de barriga cheia. A essas alturas, eu tinha mudado de estratégia, ia começar tirando o tetê da noite. Se tinha muito sentido ou não, eu já nem sabia mais. Mas estava determinada. Ela tomou o leite, quase todo, olhou pra mim e disse: “Agola tetê mamãe! Manu vai naná.”
Ploft... Meu mundo caiu! Meu plano ia por água abaixo, o leite no copinho não funcionou. E mais uma tentativa havia sido uma derrota. Inicialmente eu hesitei, não ia dar o peito, ia fazê-la dormir sem tetê. Masss... O meu coração me dizia que não precisava ser assim, eu não precisava sofrer daquela maneira, e nem fazê-la sofrer.

Onde estariam perdidas as velhas convicções sobre a amamentação prolongada, de que há um processo natural de desmame sem ansiedade, e sem traumas? Onde eu havia guardado a caixinha que continham informações importantes sobre como as crianças que são amadas e amparadas passam pelo processo de desmame normalmente antes dos quatro anos? Onde eu enfiei aquela frase boa que sempre usei de que tinha certeza que ela não iria mamar até os quinze anos? Quem era eu naquele momento?

Eu não era mais nada do que vinha sendo nos últimos dois anos. Eu era alguém sufocada pela ideologia social de independência precoce. Eu era alguém que havia sucumbido às necessidades da sociedade de criar seres humanos apartados de vínculo e suporte afetivo, pela ideia midiática de separação para ter independência desde recém-nascido. Eu era alguém mutilada pela pressão vinculada a ideia equivocada da sociedade moderna de que bebês tem que dormir em seus próprios quartos, e desmamar antes de um ano de idade, porque fazer diferente disso é criar adultos dependentes e mimados (oi?). Eu era uma mãe que nunca desejei ser, que estava se entregando aos poucos às mazelas da sociedade moderna e esquecendo os princípios da criação com apego à qual tanto me orgulhava de praticar. E tudo porque eu me esqueci de quem eu era, e de quem sempre quis ser, como mãe, como mulher e como ser humano.

Ser mãe nunca foi, e nem nunca será uma tarefa fácil. Longe disso. Tomar decisões que diz respeito à vida de alguém a quem tanto se ama, decisões que poderão refletir na vida dos nossos filhos para sempre, é muito difícil, é uma responsabilidade enorme. E decidir amamentar ou desmamar era um problema pra mim, eu duvidava de que era a hora, mas não tinha certeza se deveria continuar.

Mas como poderia eu discursar sobre as maravilhas da amamentação prolongadas, a qual eu tanto dou crédito e deposito esperanças, como eu iria falar sobre todas as alegrias da amamentação, se eu mesma estava sucumbido à pressão social e abandonando essa prática linda de amor? Eu não poderia mais discursar sobre o empoderamento da mulher para parir e amamentar se eu mesma não tinha esse empoderamento para enfrentar as críticas e olhares maldosos ao amamentar minha filha, se eu não tinha esse empoderamento para superar mais esse obstáculo que se impunha entre nós duas e a amamentação?

Pronto! Estava feito. Se antes eu duvidava da minha capacidade para desmamar, agora então eu duvidava da minha capacidade de interromper um processo de desmame, que desde o inicio foi um projeto falido. Eu precisava de um choque de realidade. De um empurrãozinho. Ou melhor, de um chute na “bunda” para ir para frente, e largar a mão de ser tão boba e dar importância para o que os outros falam. E ele veio. Uma amiga, a quem tenho um carinho especial, embora tenhamos pouco contato, veio falar comigo sobre outros assuntos, no chat de uma rede social. E lá pelo meio da conversa, entramos no assunto desmame. E quando eu disse a ela que estava desmamando Manuela, ela respondeu: “Pensei que você ia amamentar ela até quando ela quisesse. Porque vai desmamar agora?”.

Plaft! Eis uma tapa na cara daqueles que o autor nem tem intensão e nem sabe que está dando, mas que o “recebedor” sabe muito bem que dói, e que o manda para o mais profundo abismo, aquele abismo da dúvida da alma. Se ela dizia isso, é porque eu sempre fui firme quanto a isso. Rapidamente comecei a me justificar, e caí num desabafo sem fim, falando da pressão, dos olhares reprovativos, do quanto aquilo me incomodava e chateava. Ela, sem nem saber o bem que me fazia naquele momento com aquelas palavras, foi dizendo que eu não deveria ligar para aquilo, que eu tinha fazer o que meu coração mandava o que eu julgava melhor para mim e minha filha, porque ninguém tinha nada a ver com a nossa vida, e nem com as nossas escolhas, mesmo porque ninguém pagava as nossas contas. FATO! I-N-D-I-S-C-U-T-Í-V-E-L!
Foi então que caí em mim, e as palavras dela fizeram algum sentido. Eu precisei de um verdadeiro “chute na bunda” para entender que:

- Eu amo amamentar e não acho que agora é o momento certo para interromper isso;

- Manuela não é dependente do meu peito, e mesmo que fosse ela é uma criança de apenas dois anos, e terá a vida inteira para alcançar sua independência. Amamentar não interfere nesse processo e nem cria adultos problemáticos ou dependentes.

- Eu tenho que bancar minhas escolhas com base naquilo que eu acredito, e não no que as outras pessoas dizem. Ninguém tem nada a ver com a minha vida.

- Eu preciso enfrentar de frente as críticas e reprovações da sociedade, pois elas vão existir em qualquer circunstância da minha vida. E me deixar vencer por elas, abrindo mão das minhas convicções não vai resolver nada, e eu vou me sentir péssima.

Naquele momento eu ponderei que deveria interromper o processo de desmame, já fracassado. Mas tive uma crise pessoal, achei que me sentiria “derrotada” pela minha fraqueza se interrompesse o processo, que estaria fraquejando. Refleti alguns longos minutos sobre aquela escolha que havia sido feita baseada em conceitos tão corrompidos, que contradizia tudo o que eu acreditava. E foi aí que me dei conta que eu não estaria sendo fraca, se adiasse por um tempo o processo de desmame, eu não estaria fracassando, ao contrário, eu estaria mais uma vez vencendo as barreiras impostas pela sociedade, estaria dizendo a mim mesma que eu posso, estaria novamente acreditando em mim, na minha capacidade de superar dificuldades e na força do meu corpo de amamentar Manuela até quando nós quisermos, eu e ela e mais ninguém.

Eu entendi naquele momento, que o mais importante é não se deixar oprimir pela pressão dos outros, não permitir que o que os outros acham mude de forma tão radical às minhas opiniões. Eu entendi naquele momento que eu tinha que fazer o que era melhor pra mim e Manuela, e não o que os outros julgavam melhor. O meu melhor não necessariamente está de acordo com o melhor do outro. Eu entendi, que enquanto eu puder e quiser amamentar minha filha, eu POSSO e DEVO fazer isso, porque essa é uma escolha minha, e dela, e não de terceiros que pouco ou nada sabem das nossas vidas.
E mais uma vez, eu rompi as barreiras do preconceito, as minhas próprias barreiras, eu ultrapassei os meus próprios limites. Eu mostrei pra mim que é possível ser quem eu sou e que nada que os outros falam pode alterar meu caráter e minha conduta como mãe e ser humano. Eu entendi que embora seja uma luta amarga contra a sociedade, amamentar após os dois anos é uma tarefa deliciosa e gratificante, que me completa e me faz sentir bem.

E foi nesse momento que eu interrompi o projeto de desmame lá em casa, a missão foi abortada e sem previsão de retomada. Porque eu entendi, que hoje, o que precisamos mesmo é uma da outra e de um peito cheio de leite.

Vivia a amamentação, viva o amor em forma liquida. Viva a liberdade de escolha. Viva a autonomia da mulher sobre o próprio corpo. O corpo é meu, o seio é meu e eu vou amamentar até quando achar que devo.