segunda-feira, 7 de abril de 2014

Abuso de autoridade contra uma gestante em Torres – RS - Caso da gestante que teve seus direitos violados


Arte de Itaiana Battoni itadesenho@gmail.com
Diante do tamanho absurdo que ocorreu, na semana passada, que chocou e revoltou ativistas, e até profissionais da área, não pude deixar passar. No meio da correria com a pequena, não deu tempo publicar o texto antes, mas ainda preciso expressar o meu repúdio a situação absurda de total desrespeito e violação de direitos humanos contra Adelir, a gestante, arrancada de casa por policiais munidos de uma liminar expedida por uma juíza, em meio a um trabalho de parto, para se submeter contra sua vontade a uma cirurgia sem indicação comprovada.

Não dá para deixar passar em branco um caso desses. É absurdo demais para uma notícia só. Eu se quer consigo acreditar que isso tudo aconteceu, fico pensando se de repente, isso não seja um pesadelo horrível que vai acabar. Parece um pesadelo, mas não é! Infelizmente o absurdo aconteceu. Tiraram uma gestante em trabalho de parto, de dentro de sua casa na madrugada do dia 1 de abril, e a levaram a foça para uma cirurgia indesejada, sob alegação de preservação de direitos do nascituro (feto) e risco iminente de morte materna e neonata. Risco??? Onde doutora, ainda não entendi... Explica melhor!

Não tem explicação né? Motivos forjados, errados, e infundamentados. Sem evidências cientificas para embasar. Orgulho ferido... É isso né Doutora? Orgulho ferido... eu não vejo outro motivo. Ou deve ser incapacidade de assistir a um parto vaginal né? Porque depois de alguns anos fazendo só o que lhe convém, isso já virou o que é melhor mesmo né doutora? Mas melhor pra quem mesmo? Ah é! Só pra você. Porque agendar cesárea é mais rápido, menos desgastante, e mais lucrativo. Então partos normais passaram a ser coisa do passado, afinal todo mundo é moderno e o corpo da mulher perdeu sua função, e esqueceu-se de como fazer para parir. É isso que a senhora doutora pensa não é mesmo? Mas eu preciso lhe dizer doutora, a senhora está ERRADA! E os procedimentos cirúrgicos para extração de feto são muito invasivos e arriscados, muito mais, em pelo menos 3 vezes, do que um parto fisiológico, digo, normal. Mas a senhora finge que não sabe disso né? Mesmo tendo estudo longos anos e aprendido isso na faculdade. Uma enorme pena doutora... 


A essas alturas eu imagino como a mãe que teve seu parto ROUBADO deve estar se sentido, após uma cirurgia feita contra sua vontade, sem a presença de um acompanhante, após ser retirada do conforto de sua casa, em franco trabalho de parto, por policiais armados munidos de uma liminar aprovada pela justiça. Deve estar com dores, não só físicas, mas emocionais. Feridas que talvez não se cicatrizem nunca mais.
E eu volto ao meu estado natural de “não acreditar na humanidade”. Sinceramente, estou chocada e assustada com a falta de limites, de caráter e de coerência das pessoas, e de profissionais que deveriam zelar pelo bem estar das pessoas e assegurar que seus direitos fossem garantidos. Esse caso absurdo que aconteceu em Torres – RS merece sim muita divulgação, muita notoriedade, para que as pessoas entendam o que está acontecendo nesse país, a que ponto chegou à situação toda, e percebam que isso tem que parar! Diante de tudo isso, eu percebo que só posso estar em plena desordem mental. Essa situação tirou o meu chão!

Para quem ainda não leu, ou não sabe do ocorrido lamentável e ODIÁVEL da gestante que foi levada por policiais com um mandato para o hospital para ser submetida a uma cesárea contra sua vontade, segue abaixo a matérias que saiu na folha: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/04/1434570-justica-do-rs-manda-gravida-fazer-cesariana-contra-sua-vontade.shtml

É incontestável que houve uma absurda violação de direitos. Os motivos dados pela obstetra, já se sabe, são escusos, dos tipo “lorota” ou “conto da carochinha”. Não, eu não sou obstetra! Mas sim! Eu me informo e muito. Leio incansavelmente a respeito do assunto, inclusive artigos de profissionais da área que fazem uso da chamada medicina baseada em evidências. A juíza que aprovou a petição, é amiga do marido "advogado" de umas das obstetras envolvidas no caso, (ou coisa do tipo – há uma interligação entre as partes envolvidas muito pra lá de suspeita, liminares não são expedidas em tamanha velocidade numa situação "normal"). Os argumentos da doutora foram derrubados mediante à evidências comprovadas por estudos já publicados anteriormente, mas pelo visto, a doutora não se preocupou em se atualizar.
imagem retirada da internet

Essa mulher foi violentada, foi abusada, foi agredida. Ela teve seu direito negado, e não, a médica não tinha razão. Nunca haverá razão em negar um direito garantido por lei a alguém. A Juíza foi incoerente e a justiça foi escusa, mal aplicada e ridiculamente tirana. Não houve justiça, não houve direitos, houve um militarismo absurdo, uma situação de arbitrariedade obscura, que sinceramente eu nunca imaginei ver um dia na minha vida. Voltamos ao regime militar, à ditadura, à inquisição, mas dessa vez MÉDICA! Os nossos algozes são os que deveriam preservar pela nossa vida, saúde e bem estar. E sob essa alegação, estão usando de motivos sem contexto e sem fundamento, para garantir tal preservação, estão nos “punindo” e nos obrigando a fazer o que eles querem, e não o que realmente é melhor para nós. Sob alegação de garantir a vida, eles privaram Adelir de seu direito mais genuíno, o direito sobre o próprio corpo.

Eu estou vendo muitas pessoas defendendo a decisão arbitrária da médica e da juíza, estou vendo médicos gritarem vitória, como se, tirar o direito de uma mulher sobre o próprio corpo fosse uma conquista à se comemorar. Como se violência contra a mulher fosse legítimo. Não importa o motivo que levou a médica a essa decisão extrema, trata-se de uma invasão, foi negado um direito à uma mulher que antes de sair do hospital, assinou a um termo de responsabilidade. E não senhores médicos, ela não é louca, e não é egoísta ou orgulhosa. Tenho certeza absoluta que não havia qualquer intensão por parte de mãe, pai ou doula de colocar a vida de qualquer um em risco.

As pessoas não estão entendendo a situação toda, a revolta das ativistas, da família e da doula da gestante. Mais uma vez, a cultura deturpada e corrompida pela indústria do nascimento está enxergando o lado obscuro da coisa como verdade absoluta. Não minha gente! A médica, a juíza e o diabo que as carreguem, NÃO TINHAM O DIREITO E NEM O DEVER DE PRENDER UMA GESTANTE EM PLENO TRABALHO DE PARTO PARA UMA CIRURGIA A QUAL ELA NÃO DESEJAVA. NÃO!!!! NÃO HOUVE NEGLIGÊNCIA DA MÃE, NÃO HOUVE INTERFERÊNCIA DA DOULA, NÃO HOUVE IRRESPONSABILIDADE NENHUMA E DE NINGUÉM, a não ser das profissionais “diplomadas” que negligenciaram os direitos da mulher em possível favor do nascituro, porém SEM EMBASAMENTO CIENTÍFICO E SEM INDICAÇÃO REAL PARA ISSO! Pior ainda a juíza acéfala que sancionou a petição da médica com orgulho ferido. Porque é isso que eu vejo, uma profissional mesquinha com orgulho ferido, porque não a deixaram fazer o parto da outra como ela queria.

Arte de Laura Morgado
Gente, por favor! Vamos entender que, não há uma luta aqui contra a cesariana. NÃO!!! Não é isso. A luta dessas ativistas, as quais eu me incluo e apoio inerentemente, é contra a violação dos direitos da mulher, é contra todo e qualquer tipo de violência obstétrica, é contra um sistema arbitrário e falido de obstetrícia, é contra as manipulações infundadas para levar gestantes à “faca”. A nossa luta minhas amigas e caras leitoras, é contra a VIOLÊNCIA, é contra a falta de pudor da medicina brasileira, a falta de vigor e empenho para suas funções como médicos. A nossa luta não é contra uma cirurgia que está aí para salvar vidas. A nossa luta é pela compreensão de que o que acontece hoje no Brasil é absurdo, é incoerente, é CRIMINOSO! Isso tem que parar!

O que fizeram com Adelir, foi criminoso, foi violência obstétrica das mais graves, e ainda pior, porque foi aprovada pela própria lei que a deveria defender desse tipo de maus tratos. Sim minha gente... O que houve com a gestante de Torres, foi maus tratos, foi abuso de autoridade, foi invasão de privacidade, lhe foi negado o direito mais legítimo que há na constituição, o direito a autonomia sobre o próprio corpo.

As pessoas estão se achando no direito de acusarem a mãe, que na realidade é vítima, e criticarem a doula, a ponto de ofendê-las. Acusando a mãe de egoísta, de orgulhosa, de irresponsável. Mas espera um pouco aí... É o corpo dela, é o filho dela, é a vida dela! Não se questiona as condições para o parto, que eram boas, diga-se de passagem, questiona-se essa arbitrariedade medonha que impôs à mãe uma cirurgia que sim, oferece muito mais riscos para mãe e bebê.  Vi diversos comentários do tipo: “A justiça tem mesmo que intervir. Depois morre e ainda culpa o médico por negligência.” Engraçado, que quando uma mãe morre, após uma complicação qualquer vinda de uma cesárea, ninguém divulga, ninguém dá notoriedade, e o médico não foi negligente? Dai-me paciência.

Eu poderia postar inúmeros vídeos de partos pélvicos, e artigos sobre partos normais com cesáreas prévias (motivos para a indicação de cesárea e a emissão da liminar que levaram a gestante para a cirurgia contra a vontade). Mas não precisa, é só pesquisar no Dr. Google, ou melhor, pesquisem no blog da Dra. Melania Amorin (www.estudamelania.blogspot.com.br), assistam ao filma “O Renascimento do Parto”, não precisa mais do que isso, para compreenderem que um parto normal com duas cesáreas prévias é absolutamente possível, e que bebê pélvico também nasce por via vaginal.

Eu queria poder olhar na cara dessas mulheres (magistradas) e perguntar aonde foi que elas se perderam no caminho? Quando foi que elas se esqueceram do que é ser mulher? Não há defesa cabível para uma situação desse tipo. Não há desculpa que explique um ato vergonhoso como este.  Eu estou chocada, revoltada e assustada por ver pessoas defendendo algo tão absurdo, um crime tão hediondo como esse. Sinceramente... Estou sem chão! Como militante, leitora incansável de estudo a respeito da assistência ao parto no Brasil, não consigo ver isso e ficar indiferente. Toda essa história, toda a sua repercussão mexeu demais com os meus instintos não apenas humanos, mas também maternos e femininos. Eu vi pela primeira vez, claramente, toda a controvérsia que move o sistema obstétrico atual no Brasil. Não há mais respeito à fisiologia humana, o corpo perdeu sua autonomia, estão apenas nos tirando o direito de fazermos, como mulheres, aquilo para o quê nascemos preparadas fisiologicamente para fazer... PARIR!

Eu temo pelo futuro da minha filha. O que será de seus partos??? 

Estou imensamente tocada, e sensibilizada por essa mulher, mãe e ser humano, que teve seus direitos violados, e seu parto mais uma vez roubado.

Adelir, receba meu apoio. E se puder, sinta o meu abraço.

Outros links a respeito do caso:

http://www.cientistaqueviroumae.com.br/2014/04/em-trabalho-de-parto-levada-por.html

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/04/1435054-foi-um-desrespeito-a-mulher-diz-medica-sobre-cesarea-forcada.shtml

Petição: https://secure.avaaz.org/po/petition/Ministerio_Publico_Justica_para_o_caso_da_gestante_arrastada_a_forca_para_uma_cesariana/?tbfysgb

Arte de Ana Muriel

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Da série: Palpites não são adequados na maternidade: Amamentação Prolongada - seus benefícios, preconceitos e tabus.

E viva a amamentação... rs...

Fuçando meus arquivos de textos, encontrei mais um texto sobre os desafios da amamentação, em especial da amamentação prolongada, que escrevi para a minha página no facebook, porém acho que nunca cheguei a publicá-lo (falta de tempo terrível... rs) e decidi postar aqui no blog hoje, dando continuidade ao post de ontem. E também decidi que essa semana será toda dedicada à esse assunto tão importante, reunirei alguns artigos baseados em evidências, e ao longo da semana, irei publicando.

Amamentação é um assunto de saúde pública, e embora receba apoio dos órgãos públicos, ainda há muito o que se "falar" e esclarecer sobre o assunto. Há ainda muitas barreiras à serem vencidas, e muita informação importante à ser transmitida. Essa semana, irei me dedicar para que consiga levar ao menos o mínimo de informação necessária e pertinente adiante. Pois afinal, além de colocar minhas ideias "pra fora", este blog tem também o intuito de levar informação importante e de qualidade.

 Texto escrito em outubro de 2013.

Acho interessante a relação contraditória que a sociedade desenvolveu com o aleitamento materno. Se por um lado há uma enorme pressão sob as mães para que amamentem seus bebês nos primeiros meses de vida, a ponto de reprimi-las caso o contrário se imponha a elas, ou simplesmente algumas decidam por não amamentar seu filho com leite materno, por outro lado às “poucas” mães que optam por fazer uso da amamentação prolongada, assim como recomenda a Organização Mundial da Saúde são do mesmo modo reprimidas e até “ofendidas” por estarem estragando seus filhos oferecendo o peito por tanto tempo. Já ouvi afirmações escusas do tipo: “Isso é até falta de respeito amamentar uma criança desse tamanho em público.” 
Hein?

Desculpe-me aos muitos adeptos desse pensamento absolutamente perverso de que amamentação é algo obsceno, mas pra mim o seio feminino foi criado unicamente para este fim: AMAMENTAÇÃO! E estou falando dela em qualquer época e fase da vida da criança, seja de meses e com mais de um ou dois anos. Os fins referentes à sexualidade são secundários, e até especulativos eu diria se analisados pelo lado simples e puro do sentido real e pleno do seio feminino. Não que um “seio” não seja belo dentro de um bom decote, e não que ele realmente não tenha lá seus atributos visuais quando falamos de beleza física e atração sexual. Isso é um fato incontestável. Porém, é importante ressaltar que sua finalidade é pura, a finalidade de “doar amor”, de AMAR e ALIMENTAR. Quando uma mulher com filho faz uso de seu seio para este ato, olhá-lo de outra forma é praticamente um assédio moral e sexual contra a mulher que se doa de forma inerente e incondicional a seu filho.

Gosto de sempre esclarecer o meu ponto de vista sobre a amamentação prolongada, aquela que vai além dos dois anos de idade da criança. Para mim é um ato de amor e renúncia que vai muito além dessa visão limitada que o “povo” tem de dar mau costume, de estar ligado à “modinha da criação com apego” (essa afirmação da modinha me dói), ou de ser egoísmo da mãe de não querer cortar o laço (essa é forte). Trata-se de um ato lindo que deve ser visto com orgulho e complacência, visto como “exemplo a ser seguido”. Longe de ser egoísmo, essa ligação entre mãe e filho, estreita os laços, e não dura para sempre, haverá um momento, aquele em que mãe e filho decidirão, que essa ligação será rompida, como um segundo  corte do cordão umbilical, mas que acontecerá no momento certo, de maneira natural, e cabe somente à mãe e filho decidirem qual será esse momento, sem pressão, sem intervenção externa. E esse laço criado com a amamentação se estenderá de outro modo na vida dos dois.

Se no Brasil a amamentação prolongada é vista como absurdo e desnecessário, há lugares nesse mundo (ainda há esperanças), onde essa prática é algo absolutamente natural.  Nas culturas onde é permitida à criança a amamentação por mais tempo, é observado que o desmame natural ocorre entre os três e quatro anos de idade. Aí me pergunto: Porque então antecipamos tanto a coisa?

Nossa sociedade impõe regras cruéis, e aceitamos isso tranquilamente. Ainda existem profissionais da saúde que dizem que amamentação depois de um ano não serve pra nada, e pior, dizem que faz mal. Como assim faz mal? Oi? Vamos lembrar que o leite materno é o alimento mais completo e rico em nutrientes.
Quando amamento minha filha de um ano e cinco meses em ambientes à vista dos olhares de muitos, recebo julgamentos de todos os tipos, e vindos de todas as partes, até de gente que nem conheço. São inevitáveis os olhares reprovativos. Ouço coisas de todo tipo: “Essa menina não está muito grandinha pra mamar ainda?”, “Ela já está bem fortinha, não precisa mais do seu leite.”, “Seu leite já não tem mais nutrientes, tira ela logo do peito!”, “Isso é vício, nem sai mais leite daí!”, “Leite materno vira água depois de um ano.”, “Você é egoísta, ela precisa ter convívio social, e agarrada no seu peito isso será difícil.” (E tem um monte de gente pagando as minhas contas né? Só que não!).

Eu sempre respondo com um lindo sorriso numa cara de alface que sei fazer muito bem devido ao treino contínuo, diga-se de passagem, e completo: “Nós decidiremos juntas quando será o momento de desmamar! Eu e ela nos entendemos bem.” E fica por isso, as pessoas num geral fingem que concordam e entendem algumas ainda tentam um argumento ou outro, outras sorriem e saem à francesa e outras só reafirmam sua ideia de desmame precoce, dando lá seus motivos. Em fim, a algumas me dou o direito de resposta e argumentos, citações de artigos embasados cientificamente com citações de nomes de profissionais conceituados, a outras só mantenho a cara de alface porque não vale a pena gastar o meu latim. Se fazer entender muitas vezes pode gerar discussões desnecessárias que não levarão à lugar algum. Pessoas que não estão dispostas a mudar de opinião, não estão dispostas também a aceitarem a opinião alheia. Infelizmente.

Eu sou absolutamente a favor do direito da mulher escolher o que quer fazer com seu corpo, como quer e se quer parir, e se quer e até quando quer amamentar seu filho. Não me oponho de forma alguma às muitas mães que por algum motivo não puderam ou não quiseram amamentar, dou apoio à sua liberdade de escolha, e entendo que cada pessoa possui suas necessidades pessoais, e que dentro da maternidade a única coisa que cabe mesmo, é o apoio. Críticas e julgamentos fazem mal e não ajudam em nada!
Eu super apoio amamentação exclusiva até o 6º mês de vida, amamentação prolongada, desmame gradativo e de forma natural, e mesmo assim entendo que somos diferentes, e que há pessoas que pensam diferente de mim, e agem diferente de mim, e isso não me dá o direito de julgá-las ou criticá-las. E isso se aplica também no “contrário”, como diriam por aí: “a recíproca é verdadeira.” Simples assim.

É fato que hoje, é muito comum ver pessoas esbanjando razões e preconceitos sobre a amamentação prolongada, sem analisar seus benefícios, sem ter informação adequada sobre o assunto. A sociedade num geral se fechou num mundo onde o parto normal é coisa do passado, e amamentação prolongada é coisa de índio, e esqueceu-se de ser flexível e entender que a essência humana tem isso como o primórdio de sua existência básica, como base para a sua própria evolução.

São tabus e preconceitos que cercam essa linda prática de oferecer o seio materno por longos períodos, que definitivamente só fazem atrapalhar e é um desserviço às mães empoderadas que querem e fazem uso dessa prática. A amamentação prolongada traz inúmeros benefícios para mãe e filho, e há muitos estudos sobre isso, numa listagem breve, descreverei alguns:

  • O leite materno durante o segundo ano de vida é muito similar ao leite do primeiro ano. No segundo ano de vida, 500 ml de leite materno proporciona à criança: 95% do total de vitamina C necessária; 45% do total de vitamina A necessária (metade da necessidade diária, visão e imunidade); 38% do total de proteínas necessárias (nutriente essencial para os músculos, e percebam o alto percentual de proteínas em apenas 500ml de leite materno) e 31% de calorias necessárias no dia.
  • Os fatores de imunidade do leite materno aumentam em concentração, à medida que o bebê cresce e mama menos. Portanto, crianças maiores continuam a receber os benefícios da imunidade (ou seja, menos doenças).
  • Quanto mais tarde se introduzir leite de vaca, e outros alimentos alergênicos, menos probabilidades essas crianças terão de apresentar reações alérgicas. (para que introduzir o leite de vaca a um bebê, e expor o mesmo a inúmeras reações alérgicas, se a mãe tem o leite próprio e ideal para seu bebê?).
  • Existem tendências estatisticamente significantes para que a desordem na conduta (da criança) diminua com o aumento da duração da amamentação. Mamar durante a infância ajuda os bebês a fazer uma transição gradual no desenvolvimento da sua personalidade individual e maturidade.
  • Amamentar é atender às necessidades de dependência da criança, de acordo com o tempo único da criança. Esta é a chave para ajudar a criança a alcançar a sua independência. As crianças que conquistam a sua independência em seu próprio ritmo são mais seguras dessa independência que as crianças forçadas a isso prematuramente. (isso contraria tudo o que dizem, não é?)

Existem muitos outros benefícios não citados aqui. E com tudo isso, qual o motivo para ainda questionar a amamentação prolongada? Porque criticar ou até impedir uma mãe que ofereça o leite materno a seu filho até dois anos ou mais? Todas as afirmações infames que a sociedade faz para tentar forçar uma mãe a desmamar seu filho antes do indicado pela OMS são especulativas e sem embasamento, trata-se de preconceitos que só servem para disseminar uma ideia equivocada de que amamentação prolongada é desnecessária ou até “prejudicial” (que absurdo ouvir algo desse tipo sobre uma prática tão saudável e legítima como essa em pleno século XXI. Ou será o século “moderno” o problema da coisa toda?).

Se a opção de não amamentar seu filho, seja por que período for e pelo motivo que for partir diretamente e unicamente da mãe (sem ter sido corrompida pela opinião alheia), então isso é tão legítimo quanto à amamentação prolongada, porque é de direito de cada um fazer a opção do que é melhor para si. Claro que levando em conta, que em casos onde a amamentação será interrompida, que ela ocorra de maneira gradativa, planejada, e da forma mais natural possível, sem interrupções abruptas, sem crises e sem traumas para a criança. Isso é o mais importante em todo o processo.

Para as mães que amamentam, amamentaram e as que pretendem oferecer o leite materno por dois anos ou mais, meus parabéns e meus sinceros votos de perseverança e paciência! Sei, por experiência própria, o quanto é difícil romper as barreiras e preconceitos impostos pela sociedade em sua maioria esmagadora, e o quanto é difícil lidar com toda essa pressão que é colocada sobre nós.

Às mães que não amamentaram ou não pretendem fazê-lo, por qualquer motivo, seja por não gostarem por não poderem e por qualquer outro motivo “duvidoso”, digo de motivos “estéticos” (não muito bem aceitos por mim, porém sem que eu me oponha, pois cada um sabe de si), dou todo o meu respeito pela sua decisão particular, mas deixo um apelo para que entendam e conscientizem que amamentação é um bem maior, que precisa de apoio e jamais de reprovação. Apoiem este ato, e leve esta ideia adiante, amamentação é um ato de amor, e não algo a ser visto como uma atitude reprovável.


Para finalizar, deixo todo meu apoio às mães que assim como eu, optaram por amamentar seus filhos pelo período que lhe pareceu mais adequado, não levando em conta idade, e a opinião dos outros. Vocês são guerreiras, e sem dúvida fizeram o que julgaram ser o melhor para seus filhos.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Amamentar, a difícil e doce arte de amar... E o preconceito sobre ela.

Eu realmente gostaria de entender que tipo de relação tem o ser humano com seus princípios morais. Se é que ainda existe algum principio moral nessa sociedade corrompida em que vivemos atualmente. Se por um lado todo mundo acha a maior graça na “globeleza saltitante” com pinturas corporais que escondem levemente e ineficientemente suas “vergonhas”, pulando carnaval em rede nacional, e em horário nobre, por outro lado, as pessoas acham falta de pudor e vulgarização da imagem feminina, mães terem seus seios expostos durante o ato de amamentar. Difícil mesmo lidar com isso, amamentar de fato é uma difícil arte de amar.
Há alguns dias passei por uma situação muito constrangedora, que fez eu me sentir acuada feito um bicho que se vê diante de seu maior predador, e no meu caso, o meu predador é justamente essa sociedade corrompida que se perdeu na caminhada de seus princípios morais, e anda achando bonito as mulheres seminuas, pulando carnaval e pregando a fornicação, e acham vulgar uma mãe amamentar seu filho. Parem o mundo, que eu quero descer!

Estava eu em um evento da igreja em que participo, num clube de campo sem muita estrutura (diga-se de passagem), quando minha filha, de um ano e nove meses, após brincar muito, já com sono, pediu o “tetê” para dormir. Eu sem hesitar, procurei um lugar em que pudesse me sentar com algum conforto, e rapidamente dei a ela o “seu tetê”, que nada mais é que o meu seio materno! Nesse momento em uma mesa um pouco mais a frente de mim, havia três jovenzinhas tomando café, que me observavam (eu notei), e no momento em que tirei o seio para fora e minha bebê rapidamente o “abocanhou”, duas delas, uma com aproximadamente 20 anos e a outra talvez com pouco menos idade, levaram uma espécie de susto (não sei bem porque, afinal peito todas nós temos ou não?), e começaram a rir balançando a cabeça negativamente, do tipo “olha isso que absurdo!” (foi o que eu senti). A terceira jovem, sem entender bem questionou: “O que foi? Aconteceu alguma coisa?”. As outras duas se olharam e insistiram no riso, enquanto a terceira, inocente, certamente com uma alma menos “nociva”, e com um pouco mais de noção maternal, tentava entender o que havia acontecido. E eu continuava ali imóvel e sem acreditar no que estava acontecendo ali (eu só queria mesmo entender qual era o motivo da graça).

Nesse momento, senti meu rosto e orelhas esquentar, e eu senti um constrangimento enorme por aquela situação, pois entendi que elas riam de mim, e acharam engraçado eu dar o meu seio a uma criança “grande”. Imediatamente pedi ao meu marido uma toalhinha, e cobri parcialmente a pequena parte do meu seio que estava à mostra, sem sufocar a minha filha debaixo daquele pano. Manuela nunca gostou desses “paninhos” no rosto dela, e eu particularmente sempre achei desnecessário, pois uma mãe que amamenta seu filho em público está somente satisfazendo a necessidade de nutrir o filho e de dar amor, nada diferente disso. A falta de pudor ou absurdo está nos olhos de quem acha algo de anormal, engraçado ou até “vulgar” nisso, e não na mãe que dá ao seu filho, seu seio, seu leite e seu amor.

Eu me senti absolutamente envergonhada diante daquela situação, porque embora já tenha lido inúmeros relatos de mães que passam por situações semelhantes ou até piores todos os dias, e eu tenha enfrentando algum olhar de reprovação algumas vezes no shopping, ou no supermercado, nada tinha sido ainda, tão constrangedor, a ponto de me deixar tão desnorteada e envergonhada. Eu confesso que sempre fiz uso da “fraldinha”, porém nunca sobre o rosto redondo e contente da minha filha, apenas sobre o seio que ficava à mostra, muito embora eu nunca tenha o feito concordando com a minha atitude, porque de fato, sou do tipo que apoia inerentemente à amamentação em livre demanda e prolongada, sem fraldinhas, afinal não há o que esconder. Mas a fraldinha me dava certo conforto, e segurança de que ninguém me julgaria por não esconder (ou pelo menos tentar esconder, já que Manuela sempre insistiu em tirar a fraldinha do lugar) o que ficava visível do meu seio, o que é bem menos do que muitos decotes que vejo por aí, ou o seio da Globeleza pintado. Enfim...

Mas hoje, fazendo uma análise superficial do constrangimento que passei, começo a me questionar, “porque ter sentido vergonha?” Afinal, eu não estava fazendo nada de errado, em momento algum eu tive alguma intensão de vulgarizar, de mostrar o meu seio a quem quer que seja e que estivesse ao redor, tudo que eu pensei naquele momento foi em dar o meu colo, o meu seio, o meu leite e o meu amor à minha filha que queria esse aconchego para dormir. Que mal há nisso? Que ela tivesse três ou quatro anos, não consigo imaginar que uma criança nessa idade tenha algum tipo de maldade ao ser amamentada, ou que essa atitude de amamentar transmita qualquer coisa diferente de amor. Juro que agora, escrevendo esse texto eu não consigo entender o que houve comigo naquele momento. Talvez seja o meu passado “pré-maternidade” me cutucando.

Isso porque (tenho que admitir), houve algum momento da minha vida, antes de eu ser mãe (claro), que eu tive esse mesmo olhar reprovativo sob uma mãe qualquer que amamentasse sua cria já crescida em algum lugar público. Eu sempre aprovei amamentação, sempre achei lindo, mas quando eu via um bebê com quase dois anos ou mais mamando no peito da mãe, eu confesso que achava meio absurdo, embora não a ponto de “rir”, questionar, ofender ou criticar, eu simplesmente olhava e pensava: “Nossa! Mas essa criança já está grande demais para mamar no peito”. E hoje, esse “cuspe para o alto” caiu em cheio bem no meio da minha testa, respingando sobre o meu olho, e maculando a minha reputação materna, pois sofri com esse mesmo tipo de preconceito. Porque sim, esse tipo de pensamento é preconceituoso, e é quase tão grave quanto o preconceito racial. Qualquer tipo de preconceito é grave, seja ele qual for, e que origem tiver, é grave, e inaceitável é horrível e é lacerante para quem comete e para quem sofre com o preconceito. Simples assim.

Quando em sã consciência hoje, eu olharia uma mãe com tamanho ato de amor com seu filho e pensaria qualquer coisa diferente de: “Nossa! Que atitude linda, quanto amor há em amamentar.”? Eu digo que “jamais”! Jamais eu atribuiria ao ato de amamentar uma criança qualquer coisa diferente de “amor”.

Essa situação tão estranha que vivi é muito mais comum do que parece. Há muitas pessoas que enxerga falta de pudor no ato de amamentar em público sente-se incomodada, ofendida, e há aqueles que ainda conseguem olhar com malícia, e com “conotação sexual”, sensualizam o seio materno que alimenta um filho. Não dá pra acreditar, mas acontece! A maioria das pessoas na sociedade moderna, em especial às que ainda não tem filhos, julga que amamentação para crianças maiores de um ano é desnecessário, é exagero, e amamentação em público é falta de pudor. Ninguém se preocupa com a recomendação da Organização Mundial da Saúde de “amamentar a criança com leite materno até dois anos ou mais”. Tá todo mundo mais preocupado com o que o outro vai pensar se é bonito ou se é feio, e atribuem à mãe que amamenta por período prolongado, digo, até mais de dois anos, visto que até dois anos é uma recomendação de “saúde”, atribuem a essa mãe a característica de mãe egoísta que não quer perder o vínculo com o filho, mãe que cria uma criança mal acostumada, mimada e dependente. Como se essa mesma criança fosse mamar no seio da mãe até a pré-adolescência, e como se ela nunca fosse se libertar disso. É tanto absurdo que ouço e vejo que chega me dar um nó na garganta.

Posso afirmar sem medo, que a minha filha, ao auge dos seus 21 meses, é, para sua idade, até independente demais, mesmo ainda mamando no peito. Ela fica o dia todo na casa da avó enquanto eu trabalho, ela come sozinha, já faz xixi no vaso sanitário, iniciou um desfralde natural, não precisa do meu peito para dormir na minha ausência, brinca na terra, com o nosso cachorro e tudo o mais que uma criança saudável faz. E tudo isso pra mim, só me dá a certeza de que ela não é tão dependente de mim quanto eu dela (sim eu sou muito mais dependente dela), e que o fato de eu amamenta-la não está a tornando uma criança mimada ou mais dependente do que as outras crianças que não mamam mais no peito da mãe. Afinal, crianças são dependentes dos pais, e isso independe de amamentação. Tente deixar um bebê que é alimentado com mamadeira “sozinho”, sem preparar e oferecer à ele seu alimento para ver o que acontece. A dependência vem da necessidade de sobrevivência dos seres vivos, humanos ou não, um dia quando a “cria” aprende a se virar sozinha, ela não mais será dependente, simples assim. Mas isso é uma conquista gradativa, assim como o desmame é gradativo e ocorre à seu tempo.

Cada criança tem seu ritmo, e no seu tempo irão conquistando sua independência, sua autonomia, e tenho certeza que leite materno não atrapalha nada disso, e não fará parte da vida da minha filha na adolescência, porém, tenho mais certeza ainda de que, não estamos no momento de pensar nisso. Vamos vivendo um dia de cada vez. E se ontem, eu me senti constrangida por me deparar com uma cena de preconceito, hoje, eu estou orgulhosa por poder falar abertamente das nossas escolhas, minha da Manuela e do papai dela, pois nós fazemos tudo em “conjunto”, escolhendo o melhor para nossa família, para o nosso convívio e entrosamento diário, sempre levando em conta o melhor para o outro. E sendo assim estamos felizes com a nossa decisão de amamentação prolongada, cama compartilhada, e criação apegada, enquanto isso nos fizer bem.

Eu estou prometendo para mim mesma, que da próxima vez que me deparar com uma situação dessas, não haverá vergonha e nem constrangimento, e muito menos paninho para esconder a nossa ligação de amor na amamentação. E mesmo sendo a amamentação, uma difícil e doce arte de amar, eu olho muito mais o lado doce, e deixo de lado o difícil, pois me sinto completa em fazê-la. Eu amamentarei até quando eu e Manuela decidirmos que a amamentação não funciona mais para nós. Por enquanto seguimos sem previsão de parar. 

Porque afinal leite materno vem sempre pronto, e não tem prazo de validade.