sábado, 30 de agosto de 2014

Amamentando e aprendendo...

Amamentar por mais de 12 meses é quase uma “submersão” do mais profundo abismo. Quem consegue essa “proeza” é quase uma heroína, já que a grande maioria de nós, mães, sucumbe à pressão social para desmamar precocemente nossas crias. Todo mundo te olha com espanto, afinal, tá deixando o filho mal acostumado. Hábito feio um bebê grande mamar. CREDO! É isso que pensam quase sempre.

A verdade é que submergir dessas regras sociais sobre como “não amamentar seu pequeno grande bebê” depois de um ano, tem me feito muito bem, tem falado muito sobre meu verdadeiro eu, tem me mostrado quem eu sou e quem eu realmente quero ser. Verdadeiramente a experiência materna para mim, tem sido libertadora. 

Amamento minha filha há mais de 26 meses, em livre demanda (quando possível), dividindo a cama para sermos felizes. Simples assim. E eu trabalho... Veja só, é possível amamentar e trabalhar! E não houve introdução de mamadeira. Não! Nada disso. As mamadas continuaram depois do meu retorno à vida profissional, quando ela tinha mais ou menos 15 meses. Ela mamava de manhã, e depois à tarde quando eu chegava o quanto queria. Sem pressão.

Durante o dia seguia se alimentando normalmente, frutas, verduras, legumes e os derivados de leite. Porque o leite em si ela inicialmente não aceitou, nem o da vaca nem o da mamãe leiteira fora do peito. Era peito e só! O resto de sua necessidade alimentar era suprido com alimentação saudável e caseira.

Se isso me afligia? No início um pouco. Pensava que era importante ela consumir o cálcio do leite, que mamando menos no meu peito, lhe faltaria esse cálcio. Mas ela comia iogurte natural puro. Queijo fresco sem sal. Comia tudo que oferecesse a ela, e isso incluía ovo e brócolis. Então, depois de muito ler a respeito, entendi que não tinha com o que me preocupar. Mantive a amamentação sem culpa, porque nos sentimos bem assim.

Leite de vaca? Hoje, ela toma! Porque me vê tomando e quis finalmente experimentar. E veja, ela gostou. Toma às vezes, sem regra. Nós não delimitamos quantidade e horários, ela toma quando quer e se quer. Nem gosto muito desse hábito meu, e não queria passar para ela. Mas se ela gosta, então que tome. Procuro as marcas mais confiáveis e só. Sem grandes expectativas sobre. Nós gostamos de bater com morango e aveia. Fica uma delícia.

Dia desses, uma amiga minha que está grávida, veio me pedir dicas sobre amamentação, e eu prometi à ela que formularia algumas dicas e a enviaria. Mas inicialmente eu pensei, e pensei, e não conseguia chegar a uma conclusão sobre quais dicas dar a ela. Eu poderia falar pra ela sobre a buchinha vegetal, que ela não passasse no mamilo, porque comigo não funcionou e feriu meus mamilos antes da hora desnecessariamente. Mas e se com ela funcionar? Eu poderia falar de como o inicio da amamentação pode ser difícil, mas e se isso a assustar?

Em meio aos pensamentos e devaneios de como dar a ela dicas sobre amamentação, eu e Manuela adoecemos, e eu esqueci um pouco do assunto por uns dias. Mas assim que Manu se recuperou, lembrei-me da solicitação dessa amiga, e voltei a pensar no assunto. Eis que me lembrei de um texto que escrevi pra uma integrante de um desses grupos de maternagem que existem aos montes no facebook, que pedia ajuda, pois a bebê de três meses estava largando do peito. E aí resolvi adaptá-lo para ela.

Aí vai o texto.

[...] Não existe uma fórmula mágica para amamentar, ou produzir mais leite. A receita é simples: estímulo e muita paciência. Como tudo na maternidade, é preciso paciência, e perseverança. O início pode ser complicado, difícil e doloroso. Mas não se desespere, em algum dado momento, sem nem mesmo que você perceba tudo ficará lindo, e os momentos de amamentação serão repletos de ternura e prazer.

Não dá para prever como será exatamente com você, para que eu dê dicas “específicas”. Cada corpo reage de uma maneira, e cada mãe reage de formas diferentes também. Comigo o início foi complicado, os mamilos racharam e eu sentia muita dor ao amamentar. Mas Manuela teve uma pega perfeita desde a maternidade. As fissuras vieram porque ela tinha uma imensa necessidade de sucção, e passava muitas horas grudada ao peito. Para essas fissuras a solução foi simples, mas só veio duas semanas mais tarde: conchas de base flexível e banhos de sol.

Uma amiga querida passou em casa num dia de manhã, antes de ir para o trabalho dela no banco, para me ver e me deixou as conchas que ela havia usado quando teve a filha dela. Ela disse: “Ferva as conchas e use! São ótimas.” Ela foi embora, eu lavei bem as tais conchas, que até então eu não conhecia, e usei. CONCHAS SALVADORAS, diga-se de passagem. Elas somadas aos 10 minutos de sol diário que eu tomava nas mamas, pela janela do quarto junto com a Manu antes das 10 da manhã, cicatrizaram a pele do meu mamilo por completo em poucos dias.

Elas permitiam que os mamilos ficassem “intactos” e longe do atrito, e que a pomada receitada pelo médico fizesse efeito, e não fosse removida pelo tecido do sutiã ou do absorvente de seio. Elas faziam com que o “excesso” de leite pingasse evitando o chamado leite empedrado.

Portanto, se as temidas fissuras nos mamilos acontecerem com você, tenha calma, respire fundo, morda o travesseiro, um pano, a ponta da toalha, implore a Deus suas mais urgentes necessidades, chore - faz parte chorar, aliás, no puerpério chorar é muito normal e muito bom! Renovador eu diria – mas não desista. Persista, insista, persevere. E repita o mantra da maternidade: Tudo passa!

Ah! E use as conchas. Mas só durante a amamentação tá? Antes não precisa. Rs...

Esteja atenta a todas as recomendações da enfermeira que for lhe auxiliar na primeira mamada, elas costumam ser bem experientes e ajudam muito, pergunte tudo que precisar e quiser.

A boquinha do bebê deve abocanhar quase toda a aureola do seu seio, e deve permanecer nele como uma boquinha de peixeinho com todo o lábio voltado para fora (imite uma boca de peixinho na frente do espelho – é assim que o bebê tem que pegar a mama ok? Rs). Se o lábio do bebê “virar” para dentro, tire a mama com a ajuda do seu dedo mindinho (com cuidado, tirar de uma vez pode machucar), colocando suavemente no cantinho da boca do bebê, e recoloque a mama na boca do bebê, tentando fazê-lo abrir bem a boquinha.

Para estabelecer uma amamentação com sucesso, livre-se de qualquer bico: chupetas, mamadeiras, chuquinhas. Nada disso ajuda. Mamadeiras e chupetas num geral podem atrapalhar e comprometer todo o processo de amamentação, isso porque pode acontecer com o bebê a chamada “confusão de bicos”, onde o bebê consequentemente após um tempo optará por aquele que for mais fácil e confortável. O modo de sucção dos bicos de mamadeiras e chupetas é diferente da sucção do seio materno, demandam menos esforço. Mamar ao seio não é uma tarefa tão simples, e as mamadeiras são mais fáceis de sugar e saciam em menos tempo. Então vai chegar uma hora que o bebê fará sua escolha, e bem provavelmente não será pelo seio da mãe.

Beber muita água também ajuda na produção. Mas confiar que você pode é uma regrinha de ouro. É verdade que o nosso psicológico pode influenciar muito na produção de leite. Muita ansiedade e nervosismo pode prejudicar o processo, e isso é mais comum do que parece.

No início é provável que você tenha seios fartos de leite, cheios, duros, vazando. Pode ser que sim, mas pode ser que não. E isso não é caso para desespero, nem no mais e nem no menos. Esse excesso de leite se dá devido a uma espécie de “descontrole” na produção inicial de leite. Há uma produção muito maior do que a demando exige. Com o tempo o seio vai se adequando, vai se adaptando e entendendo a demanda, e passa a produzir apenas a quantidade exata necessária.

Há uma enorme pressão sociocultural de que mães recém-paridas tem que ter leite demais, de sobra, para dar e vender. Isso não é verdade! Não é assim que funciona. Aliás, pra quê tanto leite? Rs... O importante mesmo é que você saiba que tem o leite suficiente para o seu bebê. Não existe leite fraco, e nem pouco leite. Nós mulheres temos as mamas projetadas para produzir leite, simples assim. Confie na fisiologia do seu corpo, e acredite em você. Apenas em casos muito específicos, isso não acontece de maneira adequada e satisfatória. Mas são casos isolados e geralmente raros.

É importante lembrar que 80% do leite materno é produzido durante as mamadas, portanto, não é necessário que se tenha os seios “fartos e vazando” para se ter muito leite. Na verdade o seio adéqua a produção de leite conforme a demanda após o terceiro mês do bebê, e aí que entra a questão “quanto mais o bebê sugar, mais leite a mãe terá”. Porém não espere que seus seios fiquem duros e vazando, porque isso normalmente só acontece mesmo nas primeiras semanas quando o seio ainda não se adequou à demanda.

Acho interessante mencionar que o leite materno é facilmente digerido, o que leva o bebê a ter necessidade de mamar mais vezes do que se ele fosse alimentado com fórmulas que são mais “pesadas” e de difícil digestão. Alguns bebês tem mais necessidade de sucção que outros, e essa necessidade é normal e muito saudável, o reflexo da sucção é algo bom. Ás vezes estar ao peito não necessariamente significa que ele esteja com fome, ele pode apenas estar querendo o “acalento” e conforto que o seio materno lhe proporciona. Estar no seio da mãe é estar perto ao calor de seu corpo, ouvindo sua respiração, o que bem provavelmente deve fazer o bebê lembrar-se do conforto do útero, que foi seu lar nos últimos nove meses.

Então é absolutamente comum que o bebê queira estar no peito o “tempo todo”, já que isso significa pra ele “sobrevivência, segurança e conforto”. Se esse for o caso do seu bebê, como foi o caso da minha, não se assuste ou se desespere. Não é falta de leite, é necessidade de colo e peito de mãe.

Gosto sempre de lembrar que nós, somos “animais”, que embora sapiens, ainda temos a essência animal e o instinto de sobrevivência. E embora nós, adultos tenhamos a percepção de que nada de mal irá nos acontecer se ficarmos sozinhos no quarto ou no “carrinho”, longe do colo de nossas mães, o bebê ainda não aprendeu isso, e ele sente que junto à mãe tem mais chances de sobreviver, e se sente seguro, isso é o instinto de sobrevivência. Absolutamente natural e saudável. Né?

Quando o bebê chora muito, e exige muito da mamãe, que muitas vezes está cansada devido às grandes mudanças que lhe são impostas com a maternidade, sendo que o puerpério nem sempre é um mar de rosas, as pessoas num geral, que estão pra lá de habituadas a palpitar na vida da gente, logo vão diagnosticando as possíveis problemáticas para o choro se dar:

- É fome! Dá mamadeira logo.
- É cólica. Dá chazinho.

A verdade é que nem sempre choro significa dor ou fome. Os bebês só sabem chorar, e o choro pode significar uma infinidade de coisas. Até ontem ele estava seguro dentro de um útero, lugar quentinho, úmido, embalado pelo som do coração da mãe, carregado em seu colo o tempo inteiro e de repente ele se vê fora daquele ambiente seguro e confortável que ele conhecia, com vozes estranhas, pessoas o pegando, conversando com ele, sem os “limites” das paredes uterinas para lhe dar noção de espaço. Então ele se sente inseguro. Normal não é? E por isso ele vai chorar também. Esse é o meio de comunicação dele, e não há outro meio de dizer: “Mãe quero seu colo, quero seu carinho. Quero voltar para o seu útero”.  

Portanto não caia naquela ilusão de que é fome e ele vai parar de chorar com uma mamadeira. Ou de que é cólica e tem que que dar chazinho e medicar. 90% das cólicas dos bebês, é má interpretação, só porque nossa cultura desenvolveu essa resposta para o choro. Mas é muito mais comum que o bebê chore porque tem medo do desconhecido, já que tudo que ele conhecia era o útero da mãe, do que por dor de barriga.

Quanto à fome, nós só devemos questionar a eficácia do leite materno quando o bebê deixa de ganhar ou perde peso, aí sim é necessário intervenções com fórmulas. Do contrário, o leite materno é absolutamente adequado e suficiente para suprir as necessidades do bebê integralmente até o sexto mês de vida, inclusive de “aconchego” ao longo de sua vida mamando no seio da mãe. Sei que pode ser cansativo e desgastante, mas se tem algo que posso lhe dizer a respeito, é que é uma fase, eles crescem rápido, e quando menos você esperar, seu bebê estará indo para faculdade, e certamente você sentirá saudade de todo essa dependência que ele terá de você no inicio da vida.

No final das contas minha amiga querida, não há como eu delimitar para você algumas regras ou dicas sobre amamentação, porque essa fase é particular para cada mulher. Cada uma de nós lida e entende essa fase de uma maneira diferente. Para mim, é só alegria. Mas não nego que houveram momentos de esgotamento e dificuldades.

O mais importante é confiar em você, na força do seu corpo, e estimular a produção. Tome muita água e estimule o quanto puder quando o bebê nascer. Lembre-se da única regra comum da amamentação: quanto mais o bebê sugar mais leite você terá.

Boa sorte.

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