segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Andadores, porque tê-los?

O eterno divisor de "águas maternas". O vilão da primeira infância... O limitador de liberdade... o que dá falsa sensação de tranquilidade... a inquietação da sociedade brasileira de pediatria.

O tão temido Andador...

Esse assunto é tão polêmico quanto muitos outros assuntos nesse universo da maternidade, até mesmo como a própria maternidade em si, ou a peculiaridade de cada mãe em seu modo de maternar (quer coisa mais polêmica que exija mais jogo de cintura e paciência?). Diria até que é um assunto tão ou até mais polêmico que o tema: “chupeta”, mas em um ambiente mais delicado, onde os riscos e malefícios são ainda mais elevados e consideráveis, onde as consequências são extremamente complicadas, e em alguns casos até irreversíveis.

Antes que me julguem ou critiquem (embora já esteja acostumada), pondero: Sim! Eu fiz uso de andador quando criança! Sim! Vi meus irmãos usarem. Sim! Usei com a minha filha (embora pouquíssimo e esteja seriamente arrependida disso hoje). E finalmente NÃO! Nenhum de nós sofreu algum tipo de dano irreversível que comprometesse nossa estrutura óssea, nossos ligamentos ou qualquer coisa do tipo a ponto de comprometer nossa vida. Exceto por um galo cruel que meu irmão mais novo ganhou quando tinha apenas nove meses, porque ele queria descer um degrau com o bendito andador e não houve tempo de impedi-lo, o andador “virou” e ele se estabacou no chão de cabeça. Maior susto, mas nada grave! Olha o perigo, se fosse uma escada maior e não apenas um degrau. Ai ai ai! Não gosto nem de pensar!!!

Bom, também não houve “retardo” no processo de aprender a andar de nenhum de nós, aliás, meu irmão e eu andamos antes de completarmos um ano e minha irmã caçula com um ano completo. Minha filha, mais preguiçosa, com pouco mais de um ano. Quanto a esse tipo de “experiência triste”, eu não posso falar, embora eu tenha precisado das famosas botinhas ortopédicas quando criança, e digamos que tenha ficado com as pernas não exatamente “perfeitas”. Mas” tamo aê”, com saúde, e dignidade. Saúde é o que interessa né? (Só pra descontrair! risos).

O fato é que, eu só comprei aquele objeto de “desejo” de uma grande parte das mães, por puro capricho (mesmo o pediatra contraindicando o uso, pouco faltando para proibir por si só a venda no país. O cara era mesmo contra ao tal andador. Juro que vi sangue nos olhos dele no dia em que fiz a perguntinha mágica sobre o tal objeto), e porque eu jurava que ele iria me dar alguns momentos de “descanso”. Doce ilusão!

A verdade é que ele me trouxe mais dor de cabeça e preocupações do que eu supunha, e a pequena sinceramente não se adaptou muito bem a ele – ainda bem! - já que isso acabou por limitar e muito os períodos em que ela permanecia lá dentro. Confesso que em alguns raros momentos ele me foi útil, como por exemplo, na hora de estender uma roupa no quintal – que é plano, sem degraus e depressões, cercado, e sem risco algum para a integridade física da princesinha – e nada que um sling não resolvesse o problema tão bem quanto, ou até melhor. Em fim!

Manu presa na passagem da porta. Cadê a liberdade?
Mas num geral, eu não via muito utilidade na bugiganga, já que a filha não curtia ficar longos períodos nele. Seus passeios espevitados, empurrando o treco de rodinhas pelo quintal não passavam de 20 minutos, isso nos momentos em que ela ficava entretida por mais tempo tentando pegar o rabo do cachorro lá de dentro da coisa, atividade essa bastante difícil já que aquele “entorno plástico” todo limitava e muito o acesso dela aos lugares, e perigoso também, uma vez que ela impulsionava o corpinho para frente e por algumas vezes ela pegava “impulso” e quase conseguia virar para fora do andador – cada susto eu tomei!

Sempre permiti que ela usasse, podendo eu supervisionar integralmente o tempo que ela permanecesse no andador, do contrário, nada de bugiganga de rodinhas que promete ensinar a andar e dar liberdade à criança e à mãe (doce ilusão de novo!). Mesmo que o local onde ela iria ficar com o andador parecesse o mais seguro e confiável possível, eu nunca tirava os olhos dela, e ficava sempre próxima. Nunca confiei naquilo, e sinceramente, não dá mesmo pra confiar né?

Eu não julgo a mãe que opta por fazer uso desse objeto, porque de fato é algo de cunho bem particular, embora hoje a venda esteja proibida em todo o país. Porém, como grande parte das coisas nesse país, eu acho que o andador faz parte de uma cultura brasileira bastante questionável e duvidosa, dentre tantas outras coisas que fazem parte dessa cultura, e passam a mesma sensação de “perigo” e dúvida. Na minha humilde opinião, andador é assunto de saúde pública, que exige muito mais cuidado do que parece, de repente até uma lei, quem sabe para proibir o uso, e determinar a extinção definitiva desse artefato plástico. Mas esse já é outro departamento.

Uma vez, pouco tempo depois de eu comprar o andador (comprei quando Manuela tinha 6 meses) num desses grupos de maternagem do facebook, houve uma discussão “árdua” sobre o uso do andador, e uma fisioterapeuta, mãe, que fazia parte do grupo, entrou na discussão defendendo o “NÃO USO” e tentava quase que desesperadamente alertar as outras mães sobre os perigos do uso desse objeto. Após muitos argumentos, muitas contraposições, muitos “links” de artigos, estudos, matérias, notícias sobre os malefícios do andador, sem obter resultado algum, e quase sendo massacrada pela maioria das mães que estavam na discussão, ela ponderou e desistiu, saiu da discussão falando algo que me fez refletir, e muito: “Não vou discutir, mas vou lembrar vocês de um detalhe: Aqui no Brasil tudo é muito aceitável, tudo é muito “permissivo”, se andador fosse algo tão bom assim, que não oferecesse risco nenhum, vocês acham mesmo que países de primeiro mundo iriam proibir a venda desses brinquedos? Se nos outros países é proibido, não é um ponto a refletirmos sobre o motivo dessa proibição?” Simples assim! Foi o suficiente para me fazer pensar e pesquisar muito sobre o assunto. Na época ainda era vendido livremente andadores nas lojas de brinquedos e artigos infantis. Hoje a venda é proibida, porém não há uma fiscalização rigorosa, e ainda é possível encontrar lojas que comercializam as rodinhas mágicas e perigosas.

Foi então que eu definitivamente decidi que não ia mais usar o tal andador. Hoje, certamente eu não me daria ao luxo do suposto benefício da dúvida, hoje eu não compraria algo por capricho como o fiz, hoje após ler e reler histórias assustadoras de acidentes com andadores, de ouvir profissionais mencionando os danos que ele pode causar, vendo o quanto ele limitou a liberdade de exploração da minha filha, eu jamais gastaria meu dinheiro com tamanha “bobagem”, eu jamais me iludiria com tanta enganação. E eu não decidi isso do dia pra noite, ainda antes, pesquisei li, reli, me informei muito! As afirmações da fisioterapeuta no grupo só me alertaram de que algo estava errado, e foi o pontapé inicial para que eu buscasse a informação adequada para formar a minha opinião própria sobre o assunto, revendo meus conceitos anteriores e os mudando radicalmente.

Eu não vou citar dados de estudos, não vou apresentar links de matérias sobre o assunto, mesmo porque, não há matéria, estudo ou embasamento científico que mude a opinião de quem não se dá a oportunidade de mudar, de ouvir, de ponderar. Essa é a minha visão sobre o andador, e quando eu pensava diferente e via alguns profissionais falando algo que contrariava meus conceitos a respeito, mas não me dava a chance de pesquisar e buscar informação adequada, eu também achava que aquilo era tudo “especulação”. Eu só pude mudar de opinião quando me permiti pesquisar, ler, me informar, e finalmente abri a mente para compreender que haviam muito mais coisas sobre o assunto, do que supunha a minha vã filosofia.

Eu, não sou mais a favor do uso do andador, eu, hoje não usaria com a minha filha, eu, mas somente eu, acho arriscado, perigoso, um risco desnecessário à se correr. Mas, também eu, não tenho autonomia para julgar ou criticar a quem decide comprar e usar com seu filho. Isso é algo muito particular. Mas assim como tudo nessa vida, eu deixo a “dica”, faça sua escolha bem informada, sabendo dos riscos e perigos à que você está expondo o seu filho. Faça uma análise risco x benefício e tome sua decisão, consciente, bem informada. Simples assim!

Ps.: Esse texto foi escrito em minha página no facebook há exatamente um ano atrás, quando o assunto da proibição da vendas dos andadores veio à público, e as discussões sobre o uso tomaram as páginas, blogs e grupos de maternagem. É um texto sobre o meu parecer pessoal a respeito de andadores, mas achei interessante compartilhá-lo aqui. Eu não mudei de opinião, e o próximo bebê, que ainda é apenas um desejo, não chegará nem perto de um andador. 

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