segunda-feira, 21 de julho de 2014

Caso Dr. Iaperi Araújo e de sua vitima sem rosto

Doutor vítima de sua própria ignorância, faz vítima de violência obstétrica, mais uma mulher brasileira.

Semana passada, li uma notícia esquisitíssima no G1, sobre uma mulher que teria comido a própria placenta, e agredido um médico durante o parto, e depois teria saído correndo nua pelos corredores para resgatar seu filho do berçário aos berros. O interessante foi o conjunto de fatos relatados sobre o ocorrido, e o desfecho tão, como poderia dizer? Tão estranho? Talvez não seja essa a palavra, mas não encontro outra para definir a situação. Aquela notícia me causou tamanha estranheza que eu mal conseguia imaginar tal cena. Não se engane, achando que a estranheza vinha do “comer placenta”. Não não! A estranheza vinha da dúvida sobre o desfecho “favorável” à vitimização do “doutor”, que deixava claro que havia sido ofendido. (?)

Enfim... Tudo me soou tão absurdo, que fiz uma busca pelo google para ler mais “notícias” de outras fontes sobre o caso. E fiquei realmente chocada com o que li. Eu que sou ativista defensora de partos humanizados, do direito da mulher sobre o próprio corpo, fiquei realmente perplexa diante do que os meus olhos liam em cada site que relatava o caso. Perplexidade, essa é a palavra. Não conseguia acreditar que aquela versão do doutor era a verdade “absoluta”. Até porque, todos nós sabemos que:

1º A verdade sempre terá mais de uma face, na minha opinião, no mínimo 3: A de um lado, a de outro lado e a versão dos outros. Há quem diga que há uma quarta face, que seria a verdade genuína. Mas há pontos de vistas, e então, não existe verdade genuína, existe a verdade segundo o ponto de vista. Porém, nesse caso, eu acredito que uma versão, a da verdadeira vítima seja a real.

2º Sabemos que hoje, no Brasil, há índices lamentavelmente elevados de cesarianas sem indicação, as chamadas “eletivas”, bem como convivemos diariamente com cenas absurdamente trágicas e tristes de violência obstétrica. 

Inicialmente, eu só encontrei a versão do tal “doutor”, Iaperi Araújo. E de imediato, não tendo outra versão, eu fiquei abismada, e até a “imaginar” coisas que “esboçava” minha perplexidade diante do caso de uma suposta comedora de placenta que nem sequer havia feito pré-natal. Mas a essa mesma imaginação, ia e vinha em devaneios e dúvidas. Será que ela não teria mesmo feito o pré-natal? Será?

Como uma “boa ativista”, que lê muito, e já viu relatos de casos e mais casos de violência obstétrica, imediatamente, eu duvidei. Será mesmo que essa gestante, não tinha feito pré-natal? Será mesmo que a versão do “doutor” era a verdade absoluta? Será mesmo que ela o agrediu verbalmente gratuitamente, como ele disse? Todas essas dúvidas se abateram sobre mim, instantaneamente. Como se eu pudesse “sentir” que algo ali estava errado. Algo cheirava mal. Bem sabemos que, uma gestante quando dá entrada num hospital, provinda de uma tentativa frustrada de parto domiciliar assistido / planejado, a equipe médica não as recebem exatamente “bem”.


Fui lendo as notícias, me questionando constantemente sobre os dizeres do obstetra, que lamentava toda a pressão sofrida, a ponto de não querer mais fazer partos. Fiquei perplexa, aquela cena toda descrita por ele, me parecia tão chocante, que eu não podia acreditar que era real. Mas era... Embora distorcida pela visão do “profissional ferido moralmente”, que a fazia parecer surreal. Mas ao saber a versão da parturiente, a história finalmente me pareceu mais real. Do ponto de vista “espetaculoso” do “doutor” parecia mesmo coisa de cinema. Mas do ponto de vista de uma gestante que sofrera a forma mais intensa da violência obstétrica, era só mais uma quadro triste e lamentável de violência contra a mulher, e a cena deixava de ser surreal, e passava retratar de modo trágico, mais um episódio violento dentro de uma maternidade brasileira.
A minha perplexidade ao ler as notícias aumentava, e mais dúvidas rondavam a minha mente sobre o desabafo do obstetra. Aquela sensação de enorme mal entendido sobre o que devia realmente ter acontecido, e a possível incoerência na divulgação dos “fatos” feita pelo doutor em forma de desabafo em rede social me deixavam angustiada.

O que poderia ter realmente acontecido dentro daquele ambiente hospitalar? Como a parturiente deveria ter se sentido? Provavelmente acuada, amedrontada diante do improvável, do incerto, de algo que fugia a tudo que ela tinha planejado e desejado para si. Essa era a única possível explicação que me vinha à mente e que justificaria a cena narrada pelo doutor. Certamente, como boa parte de nós, adeptas ao parto humanizado, ela recebeu muita informação, da qual ela se “apoderou”, e diante de uma situação que exigia a ida durante um trabalho de parto para um hospital, certamente ela temeu que acontecesse com ela, o que ouvimos por aí que acontece dentro de ambientes hospitalares no período de trabalho de parto, parto e pós-parto com grande parte das mulheres brasileiras “violência”.

E pasmem... ACONTECEU!

Imagem retirada da internet
Ela foi violentada, no sentido mais temido da palavra. Ela foi desrespeitada, foi agredida, foi mal tratada, foi “mutilada”, debocharam dela, gritaram com ela, a intimidaram, a coagiram, a impuseram um papel de “algoz”, sendo ela a possível autora de um desfecho ruim com o filho se algo desse errado. Mesmo sendo ela a vítima na mão de algozes ferozes, que em meio à sua soberba provinda de um diploma emoldurado na parede, sentiam-se no direito de terem direito sobre o corpo dela (Direito sobre o corpo do outro?). Fizeram dela um objeto qualquer, que não poderia ter vontade própria, não poderia exigir seus direitos. E ela reagiu! Do jeito que “dava”, como ela pôde, tentando resgatar algum resto de dignidade que lhe teria sobrado, após terem lhe tirado tudo, até mesmo seu filho.


Ao adentrar aquele hospital, ela perdia ali, toda a sua autonomia, sua capacidade de mulher, de ser humano, com um corpo saudável e perfeito. Ela perdia ali, naquela maca, a sua alma, sua energia, seu orgulho, sua força. Ela fora reduzida a um objeto, e lhe tiraram o que havia de mais precioso. E não apenas isto, o doutor lhe fizera de “escudo” ao tentar justificar um erro hediondo, se baseando nas reações dela, que lutava bravamente para se defender, feito um “animal ferido”.

Como disse Ligia Sena no Blog Cienstista que virou mãe: “não interessa outra voz além da dessas mulheres - entre as quais também me incluo”. Nenhuma voz agora importa, nenhum relato desse médico que tente o inocentar terá valor, apenas a versão dessa mulher violentada faz sentido. Algo nisso tudo deu errado, e não foi ela a culpada.

Naquele momento, eu só tinha a versão do médico, e não conseguia formar uma visão ampla das coisas. Eu precisava saber mais. Mas continuava perplexa, e nem mesmo eu acreditava naquilo. E estava certa, de algum modo. A voz daquela mulher sem rosto, e sem nome, que havia supostamente corrido pelos corredores nua em busca de seu rebento, depois de não ter feito pré-natal, ter ofendido o doutor e ter comido sua placenta estava perdida, mas eu precisava ouvi-la. Aquela versão do doutor não me parecia coerente. E não era... Não era mesmo!


Vítima de seus medos, ela se entregou nas mãos de uma equipe insana, que sem tempo para respeitá-la, limitou o seus direitos a “obedecer” ordens medíocres. Por medo, ela cedeu às ameaças, à pressão psicológica e traumática, sob pena de matar ali, seu próprio filho, sangue do seu sangue, carne da sua carne. Filho esse que não foi dela, porque lá dentro, naquele ambiente inóspito, onde fora ridicularizada e sofrera as maiores atrocidades possíveis e imagináveis que uma mulher parindo poderia sofrer, lhe fora negado o direito sobre o próprio corpo, e depois sobre o próprio filho. Aquele a quem concebeu e gestou, carregando em seu ventre inundado de amor durante nove meses. Aquele a quem ela deu seu sangue, e desejou de todo o coração. Negaram-lhe que ela pudesse escolher por ele, o que era melhor, negaram-lhe o direito de escolher por ela, o que era melhor.


Eu não demorei muito tempo para encontrar num blog que sigo (cientista que virou mãe) o relato dessa mulher sem rosto e sem nome, que sofrera coisas absurdas ao tentar parir seu filho. Palavras que transbordavam tristeza, decepção, amargura e dor. Uma versão muito mais intensa e real daquela cena que me deixara perplexa, Versão que deixava claro a atrocidade à que ela fora acometida. Palavras que transgrediam as do doutor, e que relatava com exatidão toda a dor que ela ainda está sentindo, por ter sido roubada, sufocada, humilhada.


Naquelas palavras, eu me vi, vivenciando o parto da minha filha há dois anos. Onde infelizmente não tinha tanta informação quanto ela, quase nenhum empoderamento, e por isso, fiquei entregue às mãos insensíveis de um obstetra que me violentou, arrancou de mim minha filha “a ferro”, depois de ter me colocado no papel de algoz de mim mesma, sob pena de ser a responsável se algo de errado acontecesse com a minha filha. Eu não soube lutar como ela, eu não fui tão valente!
Fui coagida a tomar uma analgesia que não desejava, me senti violentada quando o doutor enfiou as duas mãos em mim para “ajudar” a minha filha a fazer a rotação para descer pelo canal de parto, fui mutilada quando me fizeram uma episiotomia sem nem me perguntar se eu queria.
De repente, naquele relato amargo, eu me vi em um retrato emoldurado, vi meu rosto no dela, e me compadeci. Senti sua dor, e chorei com ela. Lágrimas de dor, lágrimas de desespero, lágrimas de perda, de luto, de tristeza. Roubaram-nos a dignidade, os direitos, e mataram lentamente a nossa alma.


Embora numa figuração menos atuante, muito mais submissa e menos informada, coagida e sem a voz e a força dela, que mesmo diante de um dos momentos mais horripilantes de sua vida lutou bravamente, eu me vi nela, eu fui ela, e eu senti a dor dela. Ela agora tinha um rosto e um nome, o meu rosto, o meu nome, e o de milhares de brasileiras que sofrem diariamente com a hostilidade dos profissionais nas maternidades brasileiras, que são violentadas, ridicularizadas infantilizadas, ofendidas e mutiladas. 

E se no caso Adelir eu pensava que a incoerência desse sistema havia chegado ao limite, me deparo com o depoimento de um médico frio, que depois de ter destruído moralmente e fisicamente à dignidade de uma mulher, ainda desabafa em rede social a chamando de surtada comedora de placenta, e se coloca na posição de vítima. Vítima de quem doutor? Da sua própria ignorância?

Pouco me importa se ela comeu placenta*** ou não. A placenta é dela, o corpo é dela, é direito dela. Isso nem vem ao caso. O que me importa é a tamanha dor que ela sentiu e deve estar sentindo, além da dor física, a dor mais profunda, à dor da alma ferida, dilacerada, mutilada, quase sufocada e morta. O que me importa é a forma como mais uma vez uma mulher foi massacrada por um sistema arbitrário e ultrapassado de obstetrícia, como esse episódio lamentável retrata a realidade atual de tantas mulheres dentro das maternidades.

O que me importa de verdade nesse momento é poder dizer a ela, que meu coração está com ela. A minha voz também é a dela, e a minha luta é por ela. Espero que ela “se ler” isso, possa sentir o meu abraço e o meu apoio, dizendo a ela: “Você é guerreira, é um exemplo de força e não está sozinha”.

Leia aqui o relato dela: http://www.cientistaqueviroumae.com.br/2014/07/nao-ela-nao-e-uma-comedora-de-placenta.html

Leia aqui a notícia sobre o caso: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/07/1487814-maternar-mae-denuncia-violencia-obstetrica-em-hospital-particular-de-natal-rn.shtml


***Placentofagia
O ato de guardar a placenta para comer depois do parto tem crescido nos Estados Unidos. Em geral, tem ocorrido entre mulheres de classe média, brancas, casadas e com formação universitária. Os estudos científicos sobre os benefícios do consumo dessa membrana que revestem os fetos na barriga das mães não são muito vastos. A maioria dessas mulheres se baseia numa pesquisa divulgada pela revista científica “Ecology of Food and Nutrition”. Nos EUA, há até empresas especializadas em acondicionar placentas. Os estudos apontam para a presença de ferro, ocitocina e outros hormônios que ajudariam inclusive a reduzir o sangramento pós-parto.

sábado, 12 de julho de 2014

Quando ser mulher se torna um problema. E quando ter um filho é um obstáculo.

Passei um longo tempo sem poder publicar meus “pensamentos” por aqui, já que passei por uma fase íngreme de grandes mudanças. E mudanças no sentido mais literal da palavra.
Finalmente, conquistado meu espaço, meu canto, meu lar, a casa própria, um sonho financiado a alguns longos anos, mas que carrega meu nome no contrato de escritura e que posso sim chamar de MEU! Uma das melhores sensações que já senti na minha vida, foi a que senti quando peguei as chaves na mão. Impressionante como era difícil acreditar que era verdade. Sonhamos tanto, batalhamos tanto, passamos por tantas dificuldades e contratempos, que pegar as chaves do nosso sonho nas mãos era quase que surreal. Mas é real e cá estamos nós...

Mas devido à mudança, fiquei um longo e obscuro tempo sem internet, um mês inteiro. Por sorte tinha a 3G do celular, mas que infelizmente não me permitia publicar textos, já que não é de grande eficácia. Agora com tudo já estabelecido, posso retomar minhas tarefas mais apaixonantes: "maternar online” e escrever.

Eu vinha preparando outro texto para o blog, sobre outro assunto, relacionado como sempre com a “maternidade”, mas hoje, após uma conversa com uma amiga muito querida, mudei o assunto, e decidi escrever sobre as dificuldades que uma mulher com filhos encontra em outras áreas da sua vida.

Longe de mim, ser feminista, muito embora lute por causas ligadas ao feminismo, eu não posso me dizer feminista. Aliás, acho que às vezes sou até um pouco machista e antiquada. Mas há coisas nesse universo, que acontecem e não dá para passar despercebido.

Hoje, uma amiga que tem um filhinho lindo da mesma idade da Manu, veio bem chateada desabafar dizendo que havia perdido uma oportunidade de emprego porque tinha filho. Segundo ela, o dono da empresa a qual ela faria um teste, ligou pra ela dizendo que por ela ter filho não correspondia ao perfil que eles procuravam, pois um filho poderia atrapalhar no desempenho dela. (Oi?) Que situação lamentável. Quanto preconceito, quanta falta de humanidade. Então uma mulher com filho não pode trabalhar? Mas um homem com filho “tem que trabalhar”? Em pleno século XXI? Não dá pra acreditar.
Imagem do Google

Passei pelo mesmo aborrecimento enquanto procurava emprego há um tempo.  Fiz diversas entrevistas, e todos os entrevistadores ficavam empolgados com o meu currículo e com a minha experiência na área financeira, afinal eu tinha mais de quatro de experiência. E embora não tenha curso superior, dominava muito bem minhas funções na área. Mas quando eu dizia que tinha uma filhinha de um ano, o semblante dos entrevistadores “caíam”, eles faziam uma cara de: “Puxa vida! Que pena”. Pena pra eles que perderam a oportunidade de me ter como profissional. Nessas horas, a gente tem mesmo é que levantar nossa moral, e bola pra frente. Porque afinal, o problema está com eles e não conosco, porque filho não é problema é benção, e eu trocaria tudo na minha vida por ela, e não o contrário. Se não posso ter um emprego por ser mãe, então ótimo! Na verdade são eles que não podem me ter como profissional, já que sou mãe.

Nenhuma empresa das quais passei por processos seletivos, foi tão clara comigo quanto foram com a minha amiga, mas era tão claro quanto o dia, a cada resposta negativa que eu recebia que o motivo era eu ter um filho.

Em uma dessas “oportunidades”, a entrevistadora ignorou totalmente o fato de eu ter uma filha, disse que meu currículo era ótimo, e que minha experiência poderia agregar muito ao cargo disponível, pois abrangia outras áreas em que a empresa tinha deficiência “profissional”. Agendamos um teste, e quando cheguei para o tal teste, diretamente com o chefe responsável, começamos a conversar, e ele me dizia quão bem a moça do recrutamento tinha falado de mim, e quão empolgado ele estava com o meu currículo e minha experiência na área. Eu já considerava aquela vaga minha, mas...

Ele tinha em mãos um currículo meu impresso, sem anotação nenhuma, e procurava o currículo com as anotações da moça que fez o processo de seleção, enquanto conversava comigo, me perguntava o que eu fazia na outra empresa que trabalhei, como era minha rotina. Até que, finalmente ele encontrou o currículo com as anotações, e logo no cabeçalho estava escrito: Filha, 1 ano e 3 meses.

Foi impressionante como a cara do cidadão mudou na hora. Ele interrompeu a conversa: “Você tem uma filha?” Eu respondi que sim. "Mas você é tão nova pra já ter um filho né?" Disse ele. Eu respondi: "Não me acho nova não, aliás desejei muito ser mãe." 

Então toda a empolgação dele passou a ser um enorme desagrado. Ele seguiu ainda conversando comigo, sobre a minha filha, sobre com quem ela ficaria. Até que ele resolveu terminar a conversa, e dizer que naquele dia não seria possível fazermos o teste, que eles me ligariam para agendar outro dia. Na hora eu entendi que a vaga não seria minha, afinal eu tinha uma filha, e isso poderia atrapalhar a rotina na empresa. Eu já tinha passado por outras situações semelhantes antes. Confesso que no dia, fiquei bem chateada, o cargo era bom, o salário era ótimo, era perto de casa, e era a área que eu gostava. Mas logo entendi que não era pra ser, que foram eles que perderam e não eu.

Naquele dia à tarde, a moça do recrutamento me ligou e disse: “Infelizmente não vai dar certo. É que ele preferiu uma moça solteira e sem filho. Me desculpe! Seu currículo é excelente tinha certeza de que era a mais indicada à vaga. Uma pena.” Eu já esperava essa resposta. Respirei fundo, segurei a onda, e parti em busca de uma nova oportunidade. Logo encontrei. Não na minha área, mas em uma empresa muito maior, e com um chefe que não se importou se tinha ou não uma filha, tudo que ele se preocupou em analisar foi a minha competência como profissional.

Claro que já aconteceu de um dia ou outro eu chegar uns 5 ou 10 minutos atrasada por conta de um imprevisto com Manuela. Mas nunca faltei, nunca deixei de cumprir minhas obrigações como funcionária por ter uma filha. Sempre agendo as consultas dela para o último horário para não atrapalhar o trabalho, e tenho o maior compromisso em não misturar as coisas, e não deixar que a minha vida como mãe atrapalhe meu desempenho como profissional.

Mas o fato é que, infelizmente o caminho a ser percorrido aqui no Brasil para a conquista desse espaço pelo qual as feministas lutam tão arduamente, ainda é longo. É ainda mais longo o caminho na luta contra o preconceito contra as mulheres. Nós ainda temos salários 30% mais baixos que o dos homens, ocupando os mesmos cargos. Ainda somos massacradas pela sociedade e obrigadas a desempenhar funções duplas, triplas, quádruplas: profissional, mãe, esposa, dona de casa, faxineira, passadeira, lavadeira, cozinheira porque tudo isso "não é coisa de homem".

Nós ainda somos discriminadas e ditas como o “sexo frágil”. Não temos notoriedade no que diz respeito “competência” profissional. Se para um homem se tornar “chefe” numa grande empresa ele precisa só mostrar competência, as mulheres para chegar a esse cargo precisam além de mostrar competência ter mestrado e doutorado, certificados e diplomas sem fim. Nossos filhos, se torna um obstáculo quando precisamos arrumar um emprego, e engravidar trabalhando é sinônimo de correr o risco de ser humilhada e ofendida como forma de pressão para pedirmos a conta. Eu também passei por isso na minha gestação. Mas a história é longa, assunto para outro texto.

Mas o que quero dizer com esse texto, é que nós mulheres, devemos lutar contra esse tipo de preconceito mesquinho e lamentável, e não devemos baixar a cabeça e nos lamentar. Quando uma empresa se recusa a contratar uma mulher por ela ter um filho, isso prova toda a ignorância e falta de ética que se abate sobre essa “entidade”, e nos prova que não fomos nós quem perdeu a vaga, foram eles que perderam a profissional e a oportunidade.

Longe de mim, criticar ou lamentar. Só quero deixar absolutamente claro, que ser Mulher e Mãe, não está acima de ser Profissional. Porque ser profissional é importante, não é algo que seja secundário, para mim é secundário, mas para outras mulheres sua vida profissional é quase tão importante quanto ser mãe, e isso é absolutamente compreensível. Mas ser mãe e Mulher são atribuições naturais da vida, são condições e não situações, e ser profissional é algo que nos impomos e precisamos batalhar muito. Mas ser mãe nos impulsiona para sermos ainda melhor em qualquer área de nossas vidas, inclusive na área profissional, e não nos atrapalha, ao invés disso, nos ajuda.

Ser Mãe não é nem de longe um empecilho para a nossa vida profissional, só alguém preconceituoso para ter essa percepção. Todas nós sabemos que podemos conciliar essas tarefas, entre maternar e trabalhar, ainda desempenhando as demais funções que nos são atribuídas (mulher, esposa, dona de casa, etc e etc...).

Imagem do Google
É fato que ao longo de nossas vidas como mãe, e também como mulheres e profissionais, sofreremos inúmeras formas de preconceitos, e que muitas pessoas irão nos criticar por isso ou por aquilo, seja em nossa vida como mães, mulheres ou profissionais. Seremos criticadas por trabalhar e deixar os filhos na escola, com babá ou com um parente, e seremos igualmente julgadas por deixar o trabalho para criar nossos filhos. A sociedade nunca estará satisfeita com as nossas atitudes. Mas agradar a sociedade, nem de longe passa perto dos meus sonhos mais remotos.

Como dica, digo, que nós mulheres, sendo ativistas ou não, feministas ou não, mães ou não, devemos lutar bravamente para conquistarmos em nossa vida, em aspecto pessoal e profissional aquilo que almejamos. Estarmos satisfeitas com nossas escolhas, é o segredo do nosso próprio sucesso. E se desejarmos deixar o emprego para sermos mãe em tempo integral, que tenhamos esse direito e façamos isso com excelência. Mas se o desejo ou até a necessidade, for o contrário, de precisarmos ser profissionais, que sejamos com excelência. Porque nós bem sabemos que fazemos tudo isso, e até o que que um homem faz muito bem feito, e de salto alto e batom.

Que todas as minhas queridas amigas e leitoras possam ter o orgulho de serem Mulheres fortes, desempenhando funções que as tornam ainda mais fortes e agraciadas.


Bom dia e um final de semana repleto de conquistas à todos.

sábado, 21 de junho de 2014

Quando os pitacos me fazem perder a razão. Quando desabafar se faz necessário!

E vamos ao desabafo do dia, do ano, do mês e da vida. Desabafo constante e de 99,9% das mães, diga-se de passagem. Eu ando perdendo a "linha" com frequência. E com frequência me pego irritada com as adversidades "externas" no universo materno. Isso porque, as pessoas insistem em me dizer como devo me portar como mãe, e como deve funcionar a educação que ofereço à minha filha, aquela cujo carreguei no ventre por longos nove meses, e pari depois de 9 horas e meia em trabalho de parto.

Depois que me tornei mãe, eu descobri que o palpite não solicitado pode ser ainda mais irritante e desagradável do que supunha minha vã filosofia. Eu sempre achei muito chato essas situações em que as pessoas insistem em lhe dizer o que fazer, mesmo que você não tenha perguntado. Eu mesma já me peguei fazendo isso. Nós seres humanos, “homo sapiens”, que perdemos o sapiens no meio do caminho, nos esquecemos de sermos sábios, e adquirimos essa mania insuportável de achar que o que é bom pra nós, é bom pro outro. Mas acontece que não é assim que funcionam as coisas, uma vez que somos seres dotados de uma individualidade indiscutível, e isso é absolutamente visível. Até mesmo nos seres que mais são parecidos na questão comportamental e temperamental, até mesmo esses tem suas divergências de ideias e ideais. Isso é que torna o outro interessante. Isso é que faz do mundo um lugar habitável. Se todos nós fossemos iguais, e vivêssemos exatamente da mesma maneira, creio eu, que a espécie já teria se extinguido. (reflexão “retórica” sem contexto fundamental. Rs).

Enfim... Mas depois que me tornei mãe, essas diferenças e particularidades foram evidenciadas, e saltaram aos meus olhos: “Como posso eu, sendo mãe, pensar tão diferente de outras tantas mães, que são mães, como eu sou mãe. Como pode isso?” E pode! Isso é absolutamente normal, e totalmente aceitável. Mas tem pessoas que não compreendem isso, e insistem em, como vou dizer? Usemos um ditado popular: Insistem em meter o bedelho (pausa para uma reflexão: o que seria bedelho?) onde não foram chamadas. Sim, isso mesmo... NÃO FORAM CHAMADAS.

Mas, como conselho que é “bom” (talvez, quem sabe... só que não!) não se vende, é dado de graça, mesmo que sem graça e sem ser solicitado, lá vem o conselho a galope, posso ouvir o “pocotó” na estrada, ele vem e... ATROPELA A POBRE MÃE! (Quantas vezes eu fui atropelada por conselhos e fiz coisas aconselhadas das quais me arrependi depois). Conselho bom é aquele que é solicitado, do contrário é só palpite, pitaco que irrita e incomoda e que é inconveniente, e muito, ainda mais se for dado à uma mãe. Gente, pitaco IRRITA! E é chato pra caramba, entende?

Sejamos coerentes, mãe é mãe, e costuma conhecer a sua cria. E se ela acha que não está conseguindo, ela procura alguém em quem confia e pergunta. Sim, mães não são “super”, não sabem de tudo, e sim, elas perguntam quando precisam. Eu pergunto! Pra minha mãe, pra minha avó, pra minha sogra, pra uma amiga “mãe” em quem confie, e por aí vai. Não tenho vergonha de sentir uma insegurança que é comum na maternidade, e perguntar. Prefiro conferir se meus instintos não estão falhando, e se o instinto diz: “pergunte”, eu vou lá e pergunto, ué! Nem que seja pro Google, eu pergunto e pronto! Sinto-me bem assim, e faço aquilo que me foi aconselhado, se... Se me parecer coerente e conveniente. Simples assim.

Mas não consigo conceber a ideia de que o fato da minha filha de dois anos, ainda ser amamentada com leite materno, possa ser tão problemático para as pessoas ao redor, ao ponto de virem me dizer constantemente que preciso tirar ela do peito. (oi? Quando foi mesmo que o meu peito virou domínio público?) Isso mesmo! Ela tem 2 anos, 24 meses de pura gostosura e esbanjando saúde, graças a Deus e.. AO LEITE MATERNO! E não! Não vou tirar ela do “tetê” agora, não está nos nossos planos (meu, dela e do papai. Isso, do papai, porque ele participa das nossas decisões), nós não estamos prontas, mamar no peito não nos faz mal, me sinto bem e segura com essa decisão, e não... EU NÃO PEDI PALPITE DE NINGUÉM sobre a “potência” e valores nutritivos do meu leite, que supostamente virou água, e não... EU NÃO PERGUNTEI quando foi que ele virou água, e nem em que momento amamentar que era uma coisa linda e saudável, se tornou uma coisa feia e despudorada só porque a minha “pequena grande Bebê” tenha repentinamente se tornado uma adolescente problemática e mal acostumada aos DOIS anos de idade. (Oi?)
 
Eu também não perguntei quão danoso acham que pode ser a cama compartilhada, e quanto isso pode afetar a conquista da independência da minha filha, que aos dois anos de idade está ainda aprendendo comer sozinha e à controlar seu "xixi" para não usar mais fralda, e o quanto isso pode deixa-la mal acostumada, tanto quanto ainda amamenta-la, e pode oferecer qualquer risco á sua saúde física e psicológica, já que parece que por deixa-la dormir conosco (entre o papai e mamãe, agarrada ao meu cangote e coberta de amor e carinho, com sua integridade física e emocional assegurada por um vínculo de muito afeto e cuidado) ela irá se tornar uma criança mal educada, mal acostumada e dependente que nunca mais vai querer dormir fora da cama dos pais, ou largar o peito da mãe, ou como deixá-la dormir conosco vai prejudicar meu casamento, que vai muito, muito bem, obrigada.


Não!!! Ela não vai mamar ou dormir conosco até os 15 anos. Eu pelo menos não conheço nenhum adolescente que mame no peito da mãe, ou queira dormir no meio dos pais. Alguém conhece? Eu nunca ouvi relatos de adultos problemáticos, por traumas de infância por terem sido amamentados por um período prolongado, por terem dividido a cama com os pais, ou por terem recebido muito amor.

Um dia a independência vai chegar, Manuela vai bater suas asas e voar, e nós (eu e o papai coruja) poderemos nos arrepender por não ter aproveitado esse momento em que podemos dar muito colo, e aninhá-la em nosso colchão. Porque os filhos crescem, e voam, e nós ficamos no solo, admirando seu voo, com a sensação de termos feito todo o melhor por eles (ou não!). E para mim hoje, oferecer meu leite materno e a cama compartilhada, juntamente de uma alimentação saudável com restrição de açucares, gordura e guloseimas desnecessárias, me parece ser a alternativa mais assertiva. Se não é, não diz respeito a ninguém, que não sejamos nós: mamãe, papai e Manuela.

Eu também não compreendo qual é a pressa de desfraldar o filho dos outros. Manuela que ao auge de seus 24 lindos meses de vida, já passa pelo processo gradativo de desfralde, naturalmente, sem pressão, sem pressa e sem traumas, quase totalmente “desfraldada” há seu tempo, pedindo pra fazer xixi na “pivada” e cocô na “falda”, não está com nenhum problema de desenvolvimento, pelo menos a meu ver. Não dá pra compreender porque querem desfraldar um bebê tão cedo. E vêm os pitacos de todos os lados: “Mas você não tirou a fralda ainda?” E se bobear ordens: “A partir de amanhã deixa ela sem fralda o dia inteiro! Ela precisa sair das fraldas”. É o que hein? Quem tem que decidir isso é ela, com a minha ajuda, e quando ela estiver pronta, eu vou saber porque gestei, pari e tenho criado e amado ela todos os das há 2 anos e aproximadamente 9 meses, desde que me vi grávida. E o desfralde vai acontecer no tempo dela, na hora dela, e não na hora do... Vizinho?

“E a escola? Ela não vai pra escola ainda? Ela precisa ter convívio social, precisa aprender a dividir!” 

E ela não sabe? Quem disse?

Manuela é uma criança super saudável, raramente fica doente, nunca tomou antibióticos, e também não toma refrigerantes, quase não come frituras ou doces (se dependesse só de mim, não comeria nunca, mas... rs). É uma criança absolutamente sociável, comunicativa, brinca com outras crianças sempre, divide seus brinquedos, conversa até pelos cotovelos. Ela come muito bem, frutas, legumes, e o que oferecer a ela. Não vejo porque coloca-la na escola tão cedo, se a avó pode ficar com ela enquanto preciso trabalhar. Não vejo porque forçar um desfralde precoce se sabemos que cada pessoa tem seu próprio tempo pra tudo na vida. Não vejo motivos para interromper a amamentação se a recomendação do ministério da saúde é de que se amamente até dois anos ou mais, e se isso não interfere no convívio social e na alimentação dela.

Assim como ainda tento compreender onde foi que eu errei quando decidi parir! É... eu pari! Mas segunda a sabedoria popular, coloquei a vida da minha filha em risco, já que... Parto normal mata (?). Mata? Eu realmente não sabia! Aliás... Manuela está aí viva, super bem e saudável para contar história e dizer que PARTO NORMAL NÃO MATA NÃO SENHORA!

Porque a nossa sociedade moderna, corrompida pela “tecnocratização” deseja tão arduamente que venhamos a corresponder suas expectativas no que diz respeito a “criar um ser humano”? Tendo que, para isso oferecer sucos e alimentos sólidos, antes dos seis meses, usar só fraldas descartáveis, e consumir produtos industrializados, bolachas e “Danoninho” tão cedo? Porque a sociedade acha que temos que criar seres humanos nos baseando na “modernidade” e no que há de mais recente de tecnologia? Porque a sociedade vê num ato fisiológico como o parto “um risco” e um atentado à vida? Porque a sociedade reprime a amamentação acima dos 12 meses? Porque a sociedade julga e impõe regras tão rígidas para criar um ser humano que sabemos, é um individuo e tem de ser respeitado em sua individualidade? E principalmente porque a sociedade acha que pode interferir na forma de agir das pessoas que agem diferente da maioria?

Eu compreendo que haja uma necessidade de repassar conhecimentos, mas temos todos que compreender que o conhecimento adquirido de forma espontânea tem maior valor. Quando o conhecimento é passado de forma arbitrária, torna-se ditador e preconceituoso. Quando é passado em forma de "pitaco" torna-se chato e desnecessário.

Romper as barreiras que a sociedade impõe sem perder a linha, tendo jogo de cintura e muito bom humor, não é fácil, mas garanto que é o caminho mais fácil a trilhar. Use cara de alface com sorriso amarelo sempre que necessário, e siga feliz. Quem decide o que é melhor para um filho, continua sendo a mãe.

O intuito dessa mensagem é mostrar quão desagradável é se intrometer na vida do outro sem ser solicitado. O quanto um pitaco pode ser “danoso” ao invés de instrutivo, e quanto muitas vezes somos preconceituosos sem perceber, porque não “aceitamos” a opinião do outro, e a julgamos errada, só porque fazemos diferente. Isso também é uma forma de preconceito. A sociedade nos impõe regras, que não necessariamente estão corretas, e nem sempre elas devem ser respeitadas. Usando do dito popular, nesse quesito de fato, regras (impostas pela sociedade) foram feitas para serem quebradas
.  
É sempre bom lembrar que, nem sempre o que é bom pra gente é bom pro outro, e vice-versa. Impor à alguém algo que julgamos correto, de forma à ofendê-lo e incomodá-lo não é legal.

Quer dar pitaco? Olhe-se no espelho, no fundo dos seus olhos, e reflita... Tente se imaginar recebendo o mesmo pitaco... e só então, se ainda assim se convencer de que está certo, vá lá e dê o pitaco.
Eu não garanto resultados magníficos, mas costuma funcionar.


Ótima tarde e um final de semana espetacular.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Alimentando com amor... Ou “não crio sobreviventes”

E cá estou eu, refletindo nos meus devaneios maternos, e o assunto da vez, “de novo” é ALIMENTAÇÃO.

É impressionante, como tudo nesse universo paralelo chamado maternidade é surreal, como cada assunto, por mais simples que pareça ser, é motivo para controvérsias, discussões e debates. Fico chocada como tudo, absolutamente tudo, para algumas mães é motivo para se sentir ofendida, ou para ofender a outra.

É claro que todo tipo de criação deve ser respeita, inerentemente, mesmo que não se concorde com ela ou que ela pareça duvidosa, desde que se mantenha os limites de bom senso, e de cuidados básicos. A maternagem é uma coisa muito particular, embora nem todas as mães a façam conscientemente, baseando-se em toda informação pertinente necessária e adequada para desenvolver um maternar consciente e ativo. Mas, cabe a cada um, saber o que lhe é conveniente, o que lhe é de interesse e de que forma prefere agir. E de forma alguma cabe ao outro julgar esse comportamento. E isso, é incontestável. Certo?


Mas como tudo nesse universo é discutível e, todo mundo acha que tem mesmo é que debater a respeito, pitacar, dar palpites e se intrometer na vida alheia e na criação do filho alheio, eis que vivo me deparando com situações complicadíssimas no que diz respeito à alimentação que ofereço para Manuela. As pessoas num geral não compreendem, não concordam, não aceitam, algumas se sentem ofendidas com o meu modo de maternar. Isso porque optei em fazer o máximo possível (e às vezes até impossível, porque haja paciência pra explicar pra todo mundo que ela não toma refrigerante e não come doces) para manter uma alimentação saudável, livre de produtos industrializados, frituras, gorduras,  de excesso de açúcar, sal, corantes e conservantes e seus “parentes próximos”.

Lá em casa, não entram “petit-suisses” (vulgo Danoninho), chocolates, doces, confetes, salgadinhos, refrigerantes e afins. Bolachas recheadas tem acesso restrito, bolachas de qualquer gênero (leite, maisena, biscoito maria, biscoito de polvilho e afins) são limitados, bem como sucos de caixinha, e bolinhos industrializados. A alimentação da Manuela costuma ter pouco sal, pouquíssimo ou nenhum açúcar, e de preferência zero, corantes e conservantes. 

Isso porque, após ler muito a respeito, estudar, pesquisar, e formar a minha opinião, eu cheguei à conclusão de que oferecer uma alimentação saudável, livre de todas as “porcarias modernas e saborosas” seria o melhor caminho para que a minha filha crescesse saudável, e se tornasse uma adulta com saúde e com um paladar rico, adaptado ao sabor das coisas realmente boas da vida (legumes, verduras e frutas, muitas frutas).

Daí certamente à essas alturas você deve estar dizendo: "Essa mulher é maluca ou mentirosa." Eu compreendo, parece mentira, mas não é! Parece loucura, mas não é. Não vou dizer que Manuela nunca tenha provado, mesmo porque, já ofereceram pra ela enquanto eu não estava por perto, e eu já me peguei em situações onde recusar um pirulito seria a maior falta de educação. Mas, o pirulito foi pro lixo assim que o individuo saiu de cena, por sorte ela não curtiu o gosto do "treco". Esquece pirulitos, balas e doces, aliás Manuela nem gosta, e nem pede. Na páscoa, fomos ao mercado e em meio a todos aqueles ovos de páscoa, ela viu a banana no fundo do corredor, e pediu. (Ai que orgulho! rs).

Eu realmente não pretendo oferecer nada dessas coisas pra Manuela por enquanto, mesmo ela estando com quase dois anos de idade, o que de fato não a torna nenhum “adulto“ responsável, com o sistema digestivo completamente maduro e muito menos a faz precisar de alimentos riscos em gorduras, açúcar e coisas do tipo (aliás, isso não é bom pra ninguém, nem mesmo para adultos). Uma vez que, como ela nunca comeu, ou raramente come, não há motivo algum para que eu lhe apresente esses alimentos agora. Eu sei o que vão dizer: “Mas ela já tem dois anos, deixa a menina ser feliz. Você não vai conseguir proibir que ela coma isso o resto da vida.” De fato, não vou conseguir proibir o resto da minha vida, e nem é essa a intensão.

Primeiro porque, o resto da vida é muito, muito tempo, segundo porque o intuito não é a proibição, não pretendo vetar que ela consuma esse tipo de alimento eternamente, a questão aqui é "limitar", e terceiro porque a felicidade de uma criança não está e nem deve estar ligada ao que ela come. Criança feliz é a criança amada, bem cuidada, que brinca e tem liberdade para ser um ser individual e é respeitada em suas particularidades, mas esse é um assunto para outro departamento, e que sugere um post específico.

Resumindo, uma criança não pode ser considerada feliz só porque come chocolate, batata frita e toma refrigerante ou leite com achocolatado antes dos dois anos (ou depois dessa idade). Definitivamente, “deixar que uma criança seja feliz” não me sugere que para que isso aconteça, é necessário oferecer à ela qualquer tipo de alimento “porcaria”, sem valor nutritivo e sem qualquer tipo de vitamina. Deixar uma criança ser feliz na minha humilde opinião, é mostrar à ela que é amada, deixar que ela brinque na terra, com o cachorro, que corra livre pelo quintal, que perceba que ela é respeitada e amada do modo que ela é, e também dar à ela limites, mostrar que a vida oferece desafios e que ela é capaz de superá-los, e que a mãe e pai estão ali sempre para ajuda-la, até que finalmente ela possa vencê-los sozinha.

Para esclarecer como foi que eu cheguei a esse nível de “chatice” com relação à alimentação da minha “cria”, eu vou citar resumidamente em tópicos abaixo alguns dos meus "porquês" com exemplos de alguns tipos de alimentos:

  •  Danoninho (queijinho petit-suisse):

Esse alimento não é indicado para crianças menores de 4 anos, e essa é uma recomendação dos próprios fabricantes. Além disso, embora ele possa ser fonte de algum tipo de vitamina e minerais, a quantidade que realmente existe nele, é bem inferior ao que diz na embalagem.

Ingredientes: Leite desnatado, xarope de açúcar, preparado de morango (água, frutose, polpa de morango, cálcio, fósforo, açúcar, amido modificado, zinco, vitamina E, ferro, maltodextrina, vitamina D, acidulante ácido cítrico, espessantes goma xantana, carboximetilcelulose e goma carragena, aromatizante, conservador sorbato de potássio e corante natural carmim cochonilha), creme, cálcio, cloreto de cálcio, fermento lácteo, quimosina, estabilizantes goma guar, carboximetilcelulose, goma carregena e goma xantana. CONTÉM GLÚTEN. PODE CONTER TRAÇOS DE CASTANHA DE CAJU.

É acidulante, estabilizante e corante de sobra, para um valor nutritivo tão baixo. Num geral, esses queijinhos disfarçados de iogurte não oferecem nada de bom para crianças, além de muito açúcar, corante e gordura. Petit-suisse não é sobremesa, é guloseima, e os próprios fabricantes não indicam para crianças menores de 4 ANOS!

  • Refrigerantes

Além do excesso de açúcar, conservantes e corantes, os refrigerantes não trazem em suas fórmulas qualquer tipo de valor nutricional. Ao contrário disso, refrigerantes são causadores de inúmeras doenças, e aumentam as chances de ataques cardíacos e doenças cardiovasculares, e contribuem para o aparecimento de osteoporose. Por conter uma grande quantidade de açúcar, o refrigerante engorda, mas mesmo que a pessoa não ganhe peso, o refrigerante açucarado pode ser prejudicial para a saúde cardiovascular - especialmente para as mulheres. As mulheres que ingerem bebidas adoçadas com açúcar são mais propensas a desenvolver níveis elevados de triglicérides - gordura no sangue. Pesquisadores descobriram que as mulheres que consumiam pelo menos duas porções de refrigerante por semana, eram quatro vezes mais suscetíveis a ter altos níveis de triglicérides. Esta gordura passa a envolver os órgãos. como o fígado, o que pode contribuir para risco elevado de doença coronariana cardíaca, diabetes tipo 2 e acidente vascular cerebral.


A bebida é saborosa, e isso é indiscutível, mas com tantos “contras”, pra que apresentar uma porcaria desse tipo para uma criança tão pequena?

  • Sucos de caixinhas:

Embora o nome comum para esse tipo de bebida seja “suco”, de suco mesmo, eles não tem nada. O suco, normalmente é feito somente de fruta, e em alguns casos também de um pouco água, e nada mais, o suco não pode conter nenhum tipo de “substância estranha”. Essas bebidas engarrafadas que compramos nos supermercados, são “néctar”, uma pequena porcentagem da polpa da fruta, acrescida de água, muito açúcar, corantes, conservantes, acidulantes, estabilizantes e alguns “antes” a mais. Numa pesquisa realizada pela Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do consumidor), foi constatado que na maioria dos sucos testados, a quantidade de fruta é bem menor do que o exigido pela legislação. Segundo a norma do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento atualmente em vigor, o percentual mínimo de fruta varia de 10% a 40%, dependendo do sabor do néctar.

“Por incrível que pareça, a legislação brasileira não obriga os fabricantes a declararem o teor de açúcar na tabela nutricional. Também não há um parâmetro nacional para avaliação do teor deste ingrediente, então, o Idec usou como base um semáforo nutricional que é utilizado no Reino Unido.
Neste teste, os produtos são classificados nas cores vermelho, amarelo e verde. Os que são classificados como vermelho, caso do Activia e do Dell Vale, por exemplo, tem mais de 12,5 gramas para cada 100 ml. A maior parte das amostras analisadas (67%) receberam a cor amarela, ou seja, tem entre 5,1 e 12,4 gramas para 100 ml.” Fonte: http://maternar.blogfolha.uol.com.br/2014/02/14/cuidado-com-o-suco-de-caixinha-que-da-para-o-seu-filho/

Quando nossos filhos estão bebendo esses sucos, eles estão ingerindo muito açúcar e corantes e pouca fruta. “Os pais precisam saber que são bebidas açucaradas e que, assim como os refrigerantes, não podem ser consumidas sem restrição”, explica a nutricionista do Idec, Ana Paula Bortoletto.

  • Açúcar e doces:

Todo mundo está cansado de saber que, açúcar demais faz mal! Ponto. Estraga os dentes, pode causar diabetes, doenças cardiovasculares, e obesidade. Açúcar demais não é bom! Comer açúcar é desnecessário para a saúde, independentemente da idade. E crianças menores de dois anos não precisam de açúcar. 

Por quê?
Porque açúcar pode viciar o paladar e não contribui para nenhum benefício na saúde de ninguém, não tem valor nutritivo e nem vitaminas suficientes que valham seu consumo desenfreado. Doce é bom? É claro que é, mas precisa de regras e muitas limitações. Uma vez que o paladar da criança é formado até os dois anos de idade, oferecer a ela uma alimentação rica em açúcar pode prejudicar todo o processo de uma alimentação adequada e saudável no decorrer de sua vida.


Pediatras da Escola de Medicina da Universidade de Yale concluíram uma investigação que comprovou antiga suspeita: a ingestão excessiva de açúcar pode deixar as crianças pequenas irritadas e dispersivas. É que o doce, além de provocar maior concentração de insulina no sangue, também aumenta a quantidade de adrenalina; e esse hormônio, em excesso, pode provocar ansiedade, excitação e dificuldade de concentração.

Os açúcares fazem falta na alimentação, mas fazem parte da dieta habitual e são encontrados, por exemplo, no leite (lactose), nas frutas (frutose e sacarose). Pelo processo digestivo são desdobrados em açúcares mais simples. Por exemplo, a lactose é desdobrada em glicose + galactose e a sacarose em glicose + frutose. O amido das farinhas de cereais e dos tubérculos (como a batata) e raízes (como a mandioca) também são desdobrados no intestino em moléculas de glicose. O amido, na verdade, é uma longa cadeia de moléculas de açúcar (de glicose, para ser exato).

Em outras palavras: ninguém pode viver sem açúcar, que é uma fonte de energia, mas a dieta normal tem açúcares naturais em abundância, o suficiente para cobrir nossas necessidades. Esses açúcares não nos fazem mal nem provocam cáries, porque suas moléculas são grandes.

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Há vários outros tipos de alimentos que não ofereço para Manuela, que eu poderia listar, mas a lista ficaria extensa demais (rs). É muito importante ressaltar que, a introdução alimentar só deve acontecer a partir dos 6º mês de vida do bebê, antes disso, ele deve ser alimentado exclusivamente com leite materno. Nada de bolachinhas, doces, suquinhos ou chás, nem mesmo água é necessário para bebês que são amamentados ao peito, exceto por recomendação médica.

A introdução da alimentação sólida deve ser iniciada de modo gradativo e natural, com alimentos frescos, sem açúcar e sem sal. Isso porque é muito importante que o bebê conheça a textura e sabor dos alimentos, para que possa desenvolver uma boa relação com a sua alimentação. Oferecer alimentos industrializados, bolachas, salgadinhos, doces, refrigerantes e afins, não contribuem para a iniciação de um hábito alimentar adequado, não faz ninguém mais feliz, e nem é sinônimo de ser uma “mãe legal”. Mãe legal é aquela que gasta uns minutos na cozinha cozinhado para seu filho, sabendo que ali naquela sopinha de legumes, ele encontrará muitos nutrientes e também muito amor de mãe!

#ficaadica

Fontes:
http://tudosobremae.com.br/bebes-e-criancas/saude/
http://www.asdeliciasdodudu.com.br/2012/06/tudo-que-voce-queria-saber-ou-nao-sobre.html



segunda-feira, 5 de maio de 2014

Quando o movimento é confundido com a causa, e quando isso se torna um problema.


Confundindo ativista com desordeira e preconceituosa. Ou: “Não sou menos mãe porque não tive um parto normal.”


Nessa minha recente inserção no universo de ativismo em prol de uma assistência ao parto mais “descente” e humanizada, e em favor de partos naturais, eu me deparo constantemente com pessoas que definitivamente não compreendem a nossa luta incansável para a melhoria do sistema de saúde brasileiro no que diz respeito à assistência ao parto e saúde da mulher (mas também melhorias no sistema de saúde em geral, já que todo o sistema de saúde brasileiro é lamentável). E essa incompreensão é tamanha, que nos coloca sob pena de sermos confundidas com desordeiras que apregoam ideias ofensivas contra as mães cujo passaram por uma cirurgia de extração fetal e que vão até as últimas consequências para conseguir um parto normal sob quaisquer circunstancias, parindo feito "animais" (é isso que já ouvi!). E isso, tenho que confessar, me tira do meu centro de equilíbrio, me irrita e até, me magoa. Sim! Me magoa, porque algumas dessas pessoas que confundem a minha luta em favor de melhores condições para o parir, com uma luta sem contexto e sem pretextos contra cesarianas, são pessoas a quem prezo muito, e tenho um carinho particularmente especial. E definitivamente não gente... não é nada disso!

Não há uma luta contra pessoas que fizeram algumas escolhas particulares ou simplesmente foram submetidas à elas, esse ativismo, essa luta, essa militância é contra um sistema sustentado por tabus, por mentiras, por uma sociedade tecnocrata e corrompida pela indústria do nascimento.

Diante de todas essas confusões, sinto-me na necessidade de esclarecer alguns pontos sobre esse meu ativismo incansável, que me leva diariamente a ler, escrever e compartilhar ideias, estudos, matérias, relatos à respeito do assunto: Partos no Brasil e no mundo.

Coisa essa, que faço com certa frequência: explicar que luto em favor da saúde da mulher, de melhores condições para uma assistência ao parto digna e respeitosa, luto em favor do respeito à autonomia sobre o próprio corpo, e nunca, jamais, em hipótese nenhuma há uma luta contra mulheres que passaram por uma cesárea. Não partem de mim críticas ou ofensas contra elas, não há intenção de ofender as mulheres cujo, por algum motivo, seja ele qual for, tenham passado pela cirurgia cesariana. Mesmo porque tenho amigas muito queridas que passaram por essa cirurgia, a minha mãe passou por ela três vezes. Como eu poderia ter algo contra a minha própria mãe que me trouxe ao mundo através dessa cirurgia?

Eu confesso, que embora me sinta bem ao explicar essa questão quantas vezes forem necessárias, pois isso é parte inerente da minha vida, as vezes me desagrada ter que explicar uma coisa que deveria ser tão óbvia, e sabe-se lá porque motivo, a maioria das pessoas que não se enquadram no movimento ou não simpatizam com ele, recusam-se a compreender.

É inegável que toda ativista, ou a maior parte delas, em algum momento no início de sua "carreira" tenha perdido a linha algumas, ou muitas vezes. Eu não nego que já me peguei em uma discussão sem fundamento e sem sentido confundindo a causa com o movimento. Mas essa fase obscura passa, a gente começa a refletir, e colocar as ideias no lugar, e a compreender, que essa é uma luta por um bem maior, e não uma luta pessoal para defender tipos de parto. A luta defende a saúde da mulher, defende um modelo obstétrico de qualidade, que respeite a mulher como dona de seu próprio corpo e ponto final. Não há e não deve haver uma luta contra tipos de vias de nascimento. E nós ativistas, entendemos isso. Não parte de nós (ou pelo menos da grande maioria das ativista que conheço), ofensas ou afirmações escusas contra mães que tiveram partos cirúrgicos.

Deixa-me arrematar: de mim nunca partiu, em momento algum a afirmação absurda, sem fundamento: “quem faz cesárea não é uma mãe completa!” Esse tipo de afirmação não faz parte da minha filosofia, do meu pensamento, tão pouco caracteriza o meu ativismo, e quem o faz, na minha humilde opinião não tem NENHUMA ligação com o ativismo consciente ligado à assistência ao parto. Ok?

Vamos entender que, a via de nascimento de um filho não caracteriza mãe, não é um termômetro que mede sua “frequência” em sua função como mãe. Via de parto não mede amor, não determina cuidados, não inferioriza ninguém, e muito menos eleva. Via de parto é só via de parto, não há relação dela com amor materno. Portanto não há necessidade de afirmar "não sou menos mãe" por isso ou por aquilo, porque de fato não é. Não existe menos mãe ou mais mãe. Ninguém disse isso, eu pelo menos nunca vi.
Eu vejo que essa confusão de ativismo contra um sistema falido com ativismo contra cesárea é tão danosa para o nosso “movimento”, quanto o próprio sistema ao qual lutamos contra, porque perdemos possíveis adeptas que poderiam contribuir para a mudança desse quadro lamentável da atual obstetrícia brasileira, e tudo por falta de esclarecimento. Tudo porque se confunde o movimento com a causa, tudo porque distorcem a causa, porque nos limitam a à ela, como se ela fosse nosso único foco.



Vamos esclarecer, a causa é sim o número assustador de cesarianas feitas no Brasil, e o índice elevadíssimo dessas cirurgias que nos leva a “amargar” a primeira colocação no ranking mundial de cesarianas, sendo de 50% no geral, chegando a 90% na rede particular de saúde, contra os 15% recomendado pela Organização Mundial da Saúde, 5% no Japão e 10% na Holanda. 

Temos que mudar o foco, e olhar para o real motivo, o que realmente impulsiona o ativismo em favor do parto normal. Não se trata apenas de uma preferência por esse ou aquele tipo de parto, trata-se de um bem maior, bem este que é em favor de todas as brasileiras. É uma luta em favor de todas as mulheres brasileiras, e não apenas em favor das adeptas dos partos naturais.

O Brasil, amarga também índices elevados de mortes maternas, sendo de 56 mortes para cada 100 mil nascidos vivos, enquanto em países desenvolvidos como o Japão é de apenas 5 mortes para cada 100 mil nascidos vivos, Holanda 6 mortes e Estados Unidos 12 mortes para cada 100 mil nascidos vivos. Diferença pouca né? (Fonte: Consulte aqui)

Se ponderarmos que o índice de cesáreas é 10 vezes maior no Brasil com relação ao Japão e que esse número é igualmente elevado com relação à morte materna, talvez consigamos perceber que há algum problema aqui, e não estamos falando apenas das cesáreas mal indicadas. Esses índices elevados de morte materna, não reflete apenas o problema que enfrentamos hoje com as taxas de cirurgias cesarianas ultrapassando os 50%, esse índice reflete a precariedade que ainda temos no atendimento às gestantes, à falta de uma assistência de qualidade durante o pré-natal, pré-parto, parto e também pós parto!

Nós não estamos falando apenas de cirurgias que podem colocar a vida da mãe e do bebê em risco quando mal indicada (enquanto deveriam apenas salvar vidas diga-se de passagem), estamos falando que há muitas mulheres morrendo ainda, por falta de uma assistência de qualidade. O problema não é a cesárea minha gente, o problema é a saúde pública brasileira, é a assistência ao parto, ela é inadequada. E a nossa luta é para mudar esse quadro. Deu pra compreender?

Se tivéssemos uma saúde de qualidade, com médicos conscientes que dispusessem também de condições adequadas para se trabalhar com dignidade, certamente os índices de mortalidade materna cairiam e muito. E cairia também, esse índice vergonhoso de cesarianas, pois a grande maioria das mulheres que desejam um parto normal receberia apoio quando se tratando de uma gestação de baixo risco, e não teriam que lidar com toda a pressão do seu obstetra para fazer uma cesárea, justificada por um mito qualquer.

Com uma assistência adequada, não haveria tanto o que se temer num parto normal, essas histórias malucas que todas conhecemos bem, de bebês que morreram no parto, de mães que foram humilhadas na maternidade durante o trabalho de parto (violência obstétrica) dentre outras tantas, seriam apenas contos do passado, que não afetariam a confiabilidade da assistência ao parto. Com uma assistência adequada, não haveria tanta indicação duvidosa para cirurgias cesarianas, e com uma assistência de qualidade, as mulheres não precisariam temer pela vida dos filhos, no que diz respeito às dúvidas sobre se o que o médico diz é verdade ou é mentira, porque numa assistência médica adequada e de qualidade, não haveria mitos para sustentar um sistema falido de assistência obstétrica.

Portanto, é contra esse tipo de coisa que nós lutamos! Contra os mitos, contra o sistema, contra a incoerência médica, contra a violência obstétrica. Lutamos por uma saúde pública mais descente, mais digna, por uma assistência à gestante de qualidade, pelos direitos da mulher. Lutamos para que mais mulheres tenham voz no momento mais importante de suas vidas, lutamos para que elas não sejam oprimidas nesse momento, não sejam ridicularizadas, infantilizadas e diminuídas, e para que não sofram violência num dos momentos em que elas se encontram mais frágeis e vulneráveis, lutamos para nós mulheres possamos ser donas dos nossos corpos. Lutamos para que mais mulheres possam ter coragem de assegurar seu desejo de parir com respeito e dignidade, para que mulheres não sejam mais enganadas por aqueles que deveriam lhes prestar todo o esclarecimento necessário à cerca de um parto. Lutamos para que a realidade do Brasil mude no que diz respeito à assistência obstétrica e à saúde da mulher. Lutamos para que as mulheres possam ser respeitadas acima de tudo.

Não há uma luta iminente por partos normais sob quaisquer circunstâncias (nós sabemos que há circunstâncias em que um parto precisa de intervenções, e que isso fique claro), tão pouco, há uma luta contra a cesárea ou contra quem opta por ela. Cesariana é uma cirurgia que salva vidas, e quando bem indicada, ela deve ser "louvada”. Nós, entendemos antes de qualquer ativismo, que a vontade da mulher deve ser respeitada, isso caracteriza também a voz desse ativismo. Então se uma mulher opta pela cesariana de forma consciente e bem informada, assumindo todos os seus riscos, e pesando riscos x benefícios, nós respeitamos isso, antes de qualquer preferência por um parto natural humanizado.

O problema, é que a maior parte das mulheres não opta pela cesárea, se quer tem toda essa consciência sobre os riscos que ela pode oferecer, elas são induzidas a isso, e na maioria dos casos, sem motivos reais, sob argumentos médicos sem fundamento e sem embasamento.

Converse com mulheres que passaram pela cesárea, mesmo aquelas que de certa forma defende a cirurgia, e pergunte à elas o motivo pelo qual passou pela cesárea. As respostas são relativamente sempre a mesma, a maioria começa com o discurso mais ou menos assim: “Eu queria um parto normal mas...”, e o que completa a frase é um mito qualquer que o sistema sustenta, do tipo circular de cordão, bebê grande, bebê pequeno, aumento de liquido, não teve dilatação, posição pélvica. E isso não pode continuar acontecendo, mulheres sendo enganadas porque os médicos não dispõe das mesmas condições para conduzirem um parto normal, já que o que recebem por uma cesárea que dura cerca de 2 horas, é o mesmo que ele receberia por um parto normal, que dura cerca de 12 horas ou mais.

Nós compreendemos também que, "reensinar" os obstetras a conduzirem partos naturais sem intervenções, e os incentivar (financeiramente falando), à realizar esse tipo de parto ajudaria a mudar essa realidade, afinal para os profissionais, o buraco também é mais embaixo. Embora, seja lamentável que por “dinheiro” ou por simplesmente terem desaprendido a conduzirem partos normais, esses mesmos profissionais estejam enganando mulheres todos os dias em seus consultórios.

É contra esse tipo de incoerência ao qual lutamos, e não contra escolhas particulares. Nós lutamos em favor de uma melhoria no sistema de saúde brasileiro, em favor de uma assistência ao parto digna. E é preciso que isso seja compreendido, afinal, todas somos mulheres, todas somos humanas, e todas deveríamos ter a mesma voz ao nosso favor!

Que fique esclarecido afinal, que esse ativismo que se vê por aqui e por aí, em favor de partos humanizados e em favor de melhorias na assistência ao parto, não luta apenas pela "minoria" (infelizmente) que busca por uma parto normal humanizado, esse ativismo luta por você MULHER! E por nós MÃES!!!

Leituras interessantes:

Quer um parto normal? Quer fugir da violência obstétrica? Três novas iniciativas vão te ajudar.(Cientista que virou mãe)

Dez sinais de que você se tornou (ou está se tornando) uma ativista do parto humanizado (Caderninho da mamãe)