sábado, 12 de julho de 2014

Quando ser mulher se torna um problema. E quando ter um filho é um obstáculo.

Passei um longo tempo sem poder publicar meus “pensamentos” por aqui, já que passei por uma fase íngreme de grandes mudanças. E mudanças no sentido mais literal da palavra.
Finalmente, conquistado meu espaço, meu canto, meu lar, a casa própria, um sonho financiado a alguns longos anos, mas que carrega meu nome no contrato de escritura e que posso sim chamar de MEU! Uma das melhores sensações que já senti na minha vida, foi a que senti quando peguei as chaves na mão. Impressionante como era difícil acreditar que era verdade. Sonhamos tanto, batalhamos tanto, passamos por tantas dificuldades e contratempos, que pegar as chaves do nosso sonho nas mãos era quase que surreal. Mas é real e cá estamos nós...

Mas devido à mudança, fiquei um longo e obscuro tempo sem internet, um mês inteiro. Por sorte tinha a 3G do celular, mas que infelizmente não me permitia publicar textos, já que não é de grande eficácia. Agora com tudo já estabelecido, posso retomar minhas tarefas mais apaixonantes: "maternar online” e escrever.

Eu vinha preparando outro texto para o blog, sobre outro assunto, relacionado como sempre com a “maternidade”, mas hoje, após uma conversa com uma amiga muito querida, mudei o assunto, e decidi escrever sobre as dificuldades que uma mulher com filhos encontra em outras áreas da sua vida.

Longe de mim, ser feminista, muito embora lute por causas ligadas ao feminismo, eu não posso me dizer feminista. Aliás, acho que às vezes sou até um pouco machista e antiquada. Mas há coisas nesse universo, que acontecem e não dá para passar despercebido.

Hoje, uma amiga que tem um filhinho lindo da mesma idade da Manu, veio bem chateada desabafar dizendo que havia perdido uma oportunidade de emprego porque tinha filho. Segundo ela, o dono da empresa a qual ela faria um teste, ligou pra ela dizendo que por ela ter filho não correspondia ao perfil que eles procuravam, pois um filho poderia atrapalhar no desempenho dela. (Oi?) Que situação lamentável. Quanto preconceito, quanta falta de humanidade. Então uma mulher com filho não pode trabalhar? Mas um homem com filho “tem que trabalhar”? Em pleno século XXI? Não dá pra acreditar.
Imagem do Google

Passei pelo mesmo aborrecimento enquanto procurava emprego há um tempo.  Fiz diversas entrevistas, e todos os entrevistadores ficavam empolgados com o meu currículo e com a minha experiência na área financeira, afinal eu tinha mais de quatro de experiência. E embora não tenha curso superior, dominava muito bem minhas funções na área. Mas quando eu dizia que tinha uma filhinha de um ano, o semblante dos entrevistadores “caíam”, eles faziam uma cara de: “Puxa vida! Que pena”. Pena pra eles que perderam a oportunidade de me ter como profissional. Nessas horas, a gente tem mesmo é que levantar nossa moral, e bola pra frente. Porque afinal, o problema está com eles e não conosco, porque filho não é problema é benção, e eu trocaria tudo na minha vida por ela, e não o contrário. Se não posso ter um emprego por ser mãe, então ótimo! Na verdade são eles que não podem me ter como profissional, já que sou mãe.

Nenhuma empresa das quais passei por processos seletivos, foi tão clara comigo quanto foram com a minha amiga, mas era tão claro quanto o dia, a cada resposta negativa que eu recebia que o motivo era eu ter um filho.

Em uma dessas “oportunidades”, a entrevistadora ignorou totalmente o fato de eu ter uma filha, disse que meu currículo era ótimo, e que minha experiência poderia agregar muito ao cargo disponível, pois abrangia outras áreas em que a empresa tinha deficiência “profissional”. Agendamos um teste, e quando cheguei para o tal teste, diretamente com o chefe responsável, começamos a conversar, e ele me dizia quão bem a moça do recrutamento tinha falado de mim, e quão empolgado ele estava com o meu currículo e minha experiência na área. Eu já considerava aquela vaga minha, mas...

Ele tinha em mãos um currículo meu impresso, sem anotação nenhuma, e procurava o currículo com as anotações da moça que fez o processo de seleção, enquanto conversava comigo, me perguntava o que eu fazia na outra empresa que trabalhei, como era minha rotina. Até que, finalmente ele encontrou o currículo com as anotações, e logo no cabeçalho estava escrito: Filha, 1 ano e 3 meses.

Foi impressionante como a cara do cidadão mudou na hora. Ele interrompeu a conversa: “Você tem uma filha?” Eu respondi que sim. "Mas você é tão nova pra já ter um filho né?" Disse ele. Eu respondi: "Não me acho nova não, aliás desejei muito ser mãe." 

Então toda a empolgação dele passou a ser um enorme desagrado. Ele seguiu ainda conversando comigo, sobre a minha filha, sobre com quem ela ficaria. Até que ele resolveu terminar a conversa, e dizer que naquele dia não seria possível fazermos o teste, que eles me ligariam para agendar outro dia. Na hora eu entendi que a vaga não seria minha, afinal eu tinha uma filha, e isso poderia atrapalhar a rotina na empresa. Eu já tinha passado por outras situações semelhantes antes. Confesso que no dia, fiquei bem chateada, o cargo era bom, o salário era ótimo, era perto de casa, e era a área que eu gostava. Mas logo entendi que não era pra ser, que foram eles que perderam e não eu.

Naquele dia à tarde, a moça do recrutamento me ligou e disse: “Infelizmente não vai dar certo. É que ele preferiu uma moça solteira e sem filho. Me desculpe! Seu currículo é excelente tinha certeza de que era a mais indicada à vaga. Uma pena.” Eu já esperava essa resposta. Respirei fundo, segurei a onda, e parti em busca de uma nova oportunidade. Logo encontrei. Não na minha área, mas em uma empresa muito maior, e com um chefe que não se importou se tinha ou não uma filha, tudo que ele se preocupou em analisar foi a minha competência como profissional.

Claro que já aconteceu de um dia ou outro eu chegar uns 5 ou 10 minutos atrasada por conta de um imprevisto com Manuela. Mas nunca faltei, nunca deixei de cumprir minhas obrigações como funcionária por ter uma filha. Sempre agendo as consultas dela para o último horário para não atrapalhar o trabalho, e tenho o maior compromisso em não misturar as coisas, e não deixar que a minha vida como mãe atrapalhe meu desempenho como profissional.

Mas o fato é que, infelizmente o caminho a ser percorrido aqui no Brasil para a conquista desse espaço pelo qual as feministas lutam tão arduamente, ainda é longo. É ainda mais longo o caminho na luta contra o preconceito contra as mulheres. Nós ainda temos salários 30% mais baixos que o dos homens, ocupando os mesmos cargos. Ainda somos massacradas pela sociedade e obrigadas a desempenhar funções duplas, triplas, quádruplas: profissional, mãe, esposa, dona de casa, faxineira, passadeira, lavadeira, cozinheira porque tudo isso "não é coisa de homem".

Nós ainda somos discriminadas e ditas como o “sexo frágil”. Não temos notoriedade no que diz respeito “competência” profissional. Se para um homem se tornar “chefe” numa grande empresa ele precisa só mostrar competência, as mulheres para chegar a esse cargo precisam além de mostrar competência ter mestrado e doutorado, certificados e diplomas sem fim. Nossos filhos, se torna um obstáculo quando precisamos arrumar um emprego, e engravidar trabalhando é sinônimo de correr o risco de ser humilhada e ofendida como forma de pressão para pedirmos a conta. Eu também passei por isso na minha gestação. Mas a história é longa, assunto para outro texto.

Mas o que quero dizer com esse texto, é que nós mulheres, devemos lutar contra esse tipo de preconceito mesquinho e lamentável, e não devemos baixar a cabeça e nos lamentar. Quando uma empresa se recusa a contratar uma mulher por ela ter um filho, isso prova toda a ignorância e falta de ética que se abate sobre essa “entidade”, e nos prova que não fomos nós quem perdeu a vaga, foram eles que perderam a profissional e a oportunidade.

Longe de mim, criticar ou lamentar. Só quero deixar absolutamente claro, que ser Mulher e Mãe, não está acima de ser Profissional. Porque ser profissional é importante, não é algo que seja secundário, para mim é secundário, mas para outras mulheres sua vida profissional é quase tão importante quanto ser mãe, e isso é absolutamente compreensível. Mas ser mãe e Mulher são atribuições naturais da vida, são condições e não situações, e ser profissional é algo que nos impomos e precisamos batalhar muito. Mas ser mãe nos impulsiona para sermos ainda melhor em qualquer área de nossas vidas, inclusive na área profissional, e não nos atrapalha, ao invés disso, nos ajuda.

Ser Mãe não é nem de longe um empecilho para a nossa vida profissional, só alguém preconceituoso para ter essa percepção. Todas nós sabemos que podemos conciliar essas tarefas, entre maternar e trabalhar, ainda desempenhando as demais funções que nos são atribuídas (mulher, esposa, dona de casa, etc e etc...).

Imagem do Google
É fato que ao longo de nossas vidas como mãe, e também como mulheres e profissionais, sofreremos inúmeras formas de preconceitos, e que muitas pessoas irão nos criticar por isso ou por aquilo, seja em nossa vida como mães, mulheres ou profissionais. Seremos criticadas por trabalhar e deixar os filhos na escola, com babá ou com um parente, e seremos igualmente julgadas por deixar o trabalho para criar nossos filhos. A sociedade nunca estará satisfeita com as nossas atitudes. Mas agradar a sociedade, nem de longe passa perto dos meus sonhos mais remotos.

Como dica, digo, que nós mulheres, sendo ativistas ou não, feministas ou não, mães ou não, devemos lutar bravamente para conquistarmos em nossa vida, em aspecto pessoal e profissional aquilo que almejamos. Estarmos satisfeitas com nossas escolhas, é o segredo do nosso próprio sucesso. E se desejarmos deixar o emprego para sermos mãe em tempo integral, que tenhamos esse direito e façamos isso com excelência. Mas se o desejo ou até a necessidade, for o contrário, de precisarmos ser profissionais, que sejamos com excelência. Porque nós bem sabemos que fazemos tudo isso, e até o que que um homem faz muito bem feito, e de salto alto e batom.

Que todas as minhas queridas amigas e leitoras possam ter o orgulho de serem Mulheres fortes, desempenhando funções que as tornam ainda mais fortes e agraciadas.


Bom dia e um final de semana repleto de conquistas à todos.

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