segunda-feira, 7 de abril de 2014

Abuso de autoridade contra uma gestante em Torres – RS - Caso da gestante que teve seus direitos violados


Arte de Itaiana Battoni itadesenho@gmail.com
Diante do tamanho absurdo que ocorreu, na semana passada, que chocou e revoltou ativistas, e até profissionais da área, não pude deixar passar. No meio da correria com a pequena, não deu tempo publicar o texto antes, mas ainda preciso expressar o meu repúdio a situação absurda de total desrespeito e violação de direitos humanos contra Adelir, a gestante, arrancada de casa por policiais munidos de uma liminar expedida por uma juíza, em meio a um trabalho de parto, para se submeter contra sua vontade a uma cirurgia sem indicação comprovada.

Não dá para deixar passar em branco um caso desses. É absurdo demais para uma notícia só. Eu se quer consigo acreditar que isso tudo aconteceu, fico pensando se de repente, isso não seja um pesadelo horrível que vai acabar. Parece um pesadelo, mas não é! Infelizmente o absurdo aconteceu. Tiraram uma gestante em trabalho de parto, de dentro de sua casa na madrugada do dia 1 de abril, e a levaram a foça para uma cirurgia indesejada, sob alegação de preservação de direitos do nascituro (feto) e risco iminente de morte materna e neonata. Risco??? Onde doutora, ainda não entendi... Explica melhor!

Não tem explicação né? Motivos forjados, errados, e infundamentados. Sem evidências cientificas para embasar. Orgulho ferido... É isso né Doutora? Orgulho ferido... eu não vejo outro motivo. Ou deve ser incapacidade de assistir a um parto vaginal né? Porque depois de alguns anos fazendo só o que lhe convém, isso já virou o que é melhor mesmo né doutora? Mas melhor pra quem mesmo? Ah é! Só pra você. Porque agendar cesárea é mais rápido, menos desgastante, e mais lucrativo. Então partos normais passaram a ser coisa do passado, afinal todo mundo é moderno e o corpo da mulher perdeu sua função, e esqueceu-se de como fazer para parir. É isso que a senhora doutora pensa não é mesmo? Mas eu preciso lhe dizer doutora, a senhora está ERRADA! E os procedimentos cirúrgicos para extração de feto são muito invasivos e arriscados, muito mais, em pelo menos 3 vezes, do que um parto fisiológico, digo, normal. Mas a senhora finge que não sabe disso né? Mesmo tendo estudo longos anos e aprendido isso na faculdade. Uma enorme pena doutora... 


A essas alturas eu imagino como a mãe que teve seu parto ROUBADO deve estar se sentido, após uma cirurgia feita contra sua vontade, sem a presença de um acompanhante, após ser retirada do conforto de sua casa, em franco trabalho de parto, por policiais armados munidos de uma liminar aprovada pela justiça. Deve estar com dores, não só físicas, mas emocionais. Feridas que talvez não se cicatrizem nunca mais.
E eu volto ao meu estado natural de “não acreditar na humanidade”. Sinceramente, estou chocada e assustada com a falta de limites, de caráter e de coerência das pessoas, e de profissionais que deveriam zelar pelo bem estar das pessoas e assegurar que seus direitos fossem garantidos. Esse caso absurdo que aconteceu em Torres – RS merece sim muita divulgação, muita notoriedade, para que as pessoas entendam o que está acontecendo nesse país, a que ponto chegou à situação toda, e percebam que isso tem que parar! Diante de tudo isso, eu percebo que só posso estar em plena desordem mental. Essa situação tirou o meu chão!

Para quem ainda não leu, ou não sabe do ocorrido lamentável e ODIÁVEL da gestante que foi levada por policiais com um mandato para o hospital para ser submetida a uma cesárea contra sua vontade, segue abaixo a matérias que saiu na folha: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/04/1434570-justica-do-rs-manda-gravida-fazer-cesariana-contra-sua-vontade.shtml

É incontestável que houve uma absurda violação de direitos. Os motivos dados pela obstetra, já se sabe, são escusos, dos tipo “lorota” ou “conto da carochinha”. Não, eu não sou obstetra! Mas sim! Eu me informo e muito. Leio incansavelmente a respeito do assunto, inclusive artigos de profissionais da área que fazem uso da chamada medicina baseada em evidências. A juíza que aprovou a petição, é amiga do marido "advogado" de umas das obstetras envolvidas no caso, (ou coisa do tipo – há uma interligação entre as partes envolvidas muito pra lá de suspeita, liminares não são expedidas em tamanha velocidade numa situação "normal"). Os argumentos da doutora foram derrubados mediante à evidências comprovadas por estudos já publicados anteriormente, mas pelo visto, a doutora não se preocupou em se atualizar.
imagem retirada da internet

Essa mulher foi violentada, foi abusada, foi agredida. Ela teve seu direito negado, e não, a médica não tinha razão. Nunca haverá razão em negar um direito garantido por lei a alguém. A Juíza foi incoerente e a justiça foi escusa, mal aplicada e ridiculamente tirana. Não houve justiça, não houve direitos, houve um militarismo absurdo, uma situação de arbitrariedade obscura, que sinceramente eu nunca imaginei ver um dia na minha vida. Voltamos ao regime militar, à ditadura, à inquisição, mas dessa vez MÉDICA! Os nossos algozes são os que deveriam preservar pela nossa vida, saúde e bem estar. E sob essa alegação, estão usando de motivos sem contexto e sem fundamento, para garantir tal preservação, estão nos “punindo” e nos obrigando a fazer o que eles querem, e não o que realmente é melhor para nós. Sob alegação de garantir a vida, eles privaram Adelir de seu direito mais genuíno, o direito sobre o próprio corpo.

Eu estou vendo muitas pessoas defendendo a decisão arbitrária da médica e da juíza, estou vendo médicos gritarem vitória, como se, tirar o direito de uma mulher sobre o próprio corpo fosse uma conquista à se comemorar. Como se violência contra a mulher fosse legítimo. Não importa o motivo que levou a médica a essa decisão extrema, trata-se de uma invasão, foi negado um direito à uma mulher que antes de sair do hospital, assinou a um termo de responsabilidade. E não senhores médicos, ela não é louca, e não é egoísta ou orgulhosa. Tenho certeza absoluta que não havia qualquer intensão por parte de mãe, pai ou doula de colocar a vida de qualquer um em risco.

As pessoas não estão entendendo a situação toda, a revolta das ativistas, da família e da doula da gestante. Mais uma vez, a cultura deturpada e corrompida pela indústria do nascimento está enxergando o lado obscuro da coisa como verdade absoluta. Não minha gente! A médica, a juíza e o diabo que as carreguem, NÃO TINHAM O DIREITO E NEM O DEVER DE PRENDER UMA GESTANTE EM PLENO TRABALHO DE PARTO PARA UMA CIRURGIA A QUAL ELA NÃO DESEJAVA. NÃO!!!! NÃO HOUVE NEGLIGÊNCIA DA MÃE, NÃO HOUVE INTERFERÊNCIA DA DOULA, NÃO HOUVE IRRESPONSABILIDADE NENHUMA E DE NINGUÉM, a não ser das profissionais “diplomadas” que negligenciaram os direitos da mulher em possível favor do nascituro, porém SEM EMBASAMENTO CIENTÍFICO E SEM INDICAÇÃO REAL PARA ISSO! Pior ainda a juíza acéfala que sancionou a petição da médica com orgulho ferido. Porque é isso que eu vejo, uma profissional mesquinha com orgulho ferido, porque não a deixaram fazer o parto da outra como ela queria.

Arte de Laura Morgado
Gente, por favor! Vamos entender que, não há uma luta aqui contra a cesariana. NÃO!!! Não é isso. A luta dessas ativistas, as quais eu me incluo e apoio inerentemente, é contra a violação dos direitos da mulher, é contra todo e qualquer tipo de violência obstétrica, é contra um sistema arbitrário e falido de obstetrícia, é contra as manipulações infundadas para levar gestantes à “faca”. A nossa luta minhas amigas e caras leitoras, é contra a VIOLÊNCIA, é contra a falta de pudor da medicina brasileira, a falta de vigor e empenho para suas funções como médicos. A nossa luta não é contra uma cirurgia que está aí para salvar vidas. A nossa luta é pela compreensão de que o que acontece hoje no Brasil é absurdo, é incoerente, é CRIMINOSO! Isso tem que parar!

O que fizeram com Adelir, foi criminoso, foi violência obstétrica das mais graves, e ainda pior, porque foi aprovada pela própria lei que a deveria defender desse tipo de maus tratos. Sim minha gente... O que houve com a gestante de Torres, foi maus tratos, foi abuso de autoridade, foi invasão de privacidade, lhe foi negado o direito mais legítimo que há na constituição, o direito a autonomia sobre o próprio corpo.

As pessoas estão se achando no direito de acusarem a mãe, que na realidade é vítima, e criticarem a doula, a ponto de ofendê-las. Acusando a mãe de egoísta, de orgulhosa, de irresponsável. Mas espera um pouco aí... É o corpo dela, é o filho dela, é a vida dela! Não se questiona as condições para o parto, que eram boas, diga-se de passagem, questiona-se essa arbitrariedade medonha que impôs à mãe uma cirurgia que sim, oferece muito mais riscos para mãe e bebê.  Vi diversos comentários do tipo: “A justiça tem mesmo que intervir. Depois morre e ainda culpa o médico por negligência.” Engraçado, que quando uma mãe morre, após uma complicação qualquer vinda de uma cesárea, ninguém divulga, ninguém dá notoriedade, e o médico não foi negligente? Dai-me paciência.

Eu poderia postar inúmeros vídeos de partos pélvicos, e artigos sobre partos normais com cesáreas prévias (motivos para a indicação de cesárea e a emissão da liminar que levaram a gestante para a cirurgia contra a vontade). Mas não precisa, é só pesquisar no Dr. Google, ou melhor, pesquisem no blog da Dra. Melania Amorin (www.estudamelania.blogspot.com.br), assistam ao filma “O Renascimento do Parto”, não precisa mais do que isso, para compreenderem que um parto normal com duas cesáreas prévias é absolutamente possível, e que bebê pélvico também nasce por via vaginal.

Eu queria poder olhar na cara dessas mulheres (magistradas) e perguntar aonde foi que elas se perderam no caminho? Quando foi que elas se esqueceram do que é ser mulher? Não há defesa cabível para uma situação desse tipo. Não há desculpa que explique um ato vergonhoso como este.  Eu estou chocada, revoltada e assustada por ver pessoas defendendo algo tão absurdo, um crime tão hediondo como esse. Sinceramente... Estou sem chão! Como militante, leitora incansável de estudo a respeito da assistência ao parto no Brasil, não consigo ver isso e ficar indiferente. Toda essa história, toda a sua repercussão mexeu demais com os meus instintos não apenas humanos, mas também maternos e femininos. Eu vi pela primeira vez, claramente, toda a controvérsia que move o sistema obstétrico atual no Brasil. Não há mais respeito à fisiologia humana, o corpo perdeu sua autonomia, estão apenas nos tirando o direito de fazermos, como mulheres, aquilo para o quê nascemos preparadas fisiologicamente para fazer... PARIR!

Eu temo pelo futuro da minha filha. O que será de seus partos??? 

Estou imensamente tocada, e sensibilizada por essa mulher, mãe e ser humano, que teve seus direitos violados, e seu parto mais uma vez roubado.

Adelir, receba meu apoio. E se puder, sinta o meu abraço.

Outros links a respeito do caso:

http://www.cientistaqueviroumae.com.br/2014/04/em-trabalho-de-parto-levada-por.html

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/04/1435054-foi-um-desrespeito-a-mulher-diz-medica-sobre-cesarea-forcada.shtml

Petição: https://secure.avaaz.org/po/petition/Ministerio_Publico_Justica_para_o_caso_da_gestante_arrastada_a_forca_para_uma_cesariana/?tbfysgb

Arte de Ana Muriel

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