quarta-feira, 2 de abril de 2014

Da série: Palpites não são adequados na maternidade: Amamentação Prolongada - seus benefícios, preconceitos e tabus.

E viva a amamentação... rs...

Fuçando meus arquivos de textos, encontrei mais um texto sobre os desafios da amamentação, em especial da amamentação prolongada, que escrevi para a minha página no facebook, porém acho que nunca cheguei a publicá-lo (falta de tempo terrível... rs) e decidi postar aqui no blog hoje, dando continuidade ao post de ontem. E também decidi que essa semana será toda dedicada à esse assunto tão importante, reunirei alguns artigos baseados em evidências, e ao longo da semana, irei publicando.

Amamentação é um assunto de saúde pública, e embora receba apoio dos órgãos públicos, ainda há muito o que se "falar" e esclarecer sobre o assunto. Há ainda muitas barreiras à serem vencidas, e muita informação importante à ser transmitida. Essa semana, irei me dedicar para que consiga levar ao menos o mínimo de informação necessária e pertinente adiante. Pois afinal, além de colocar minhas ideias "pra fora", este blog tem também o intuito de levar informação importante e de qualidade.

 Texto escrito em outubro de 2013.

Acho interessante a relação contraditória que a sociedade desenvolveu com o aleitamento materno. Se por um lado há uma enorme pressão sob as mães para que amamentem seus bebês nos primeiros meses de vida, a ponto de reprimi-las caso o contrário se imponha a elas, ou simplesmente algumas decidam por não amamentar seu filho com leite materno, por outro lado às “poucas” mães que optam por fazer uso da amamentação prolongada, assim como recomenda a Organização Mundial da Saúde são do mesmo modo reprimidas e até “ofendidas” por estarem estragando seus filhos oferecendo o peito por tanto tempo. Já ouvi afirmações escusas do tipo: “Isso é até falta de respeito amamentar uma criança desse tamanho em público.” 
Hein?

Desculpe-me aos muitos adeptos desse pensamento absolutamente perverso de que amamentação é algo obsceno, mas pra mim o seio feminino foi criado unicamente para este fim: AMAMENTAÇÃO! E estou falando dela em qualquer época e fase da vida da criança, seja de meses e com mais de um ou dois anos. Os fins referentes à sexualidade são secundários, e até especulativos eu diria se analisados pelo lado simples e puro do sentido real e pleno do seio feminino. Não que um “seio” não seja belo dentro de um bom decote, e não que ele realmente não tenha lá seus atributos visuais quando falamos de beleza física e atração sexual. Isso é um fato incontestável. Porém, é importante ressaltar que sua finalidade é pura, a finalidade de “doar amor”, de AMAR e ALIMENTAR. Quando uma mulher com filho faz uso de seu seio para este ato, olhá-lo de outra forma é praticamente um assédio moral e sexual contra a mulher que se doa de forma inerente e incondicional a seu filho.

Gosto de sempre esclarecer o meu ponto de vista sobre a amamentação prolongada, aquela que vai além dos dois anos de idade da criança. Para mim é um ato de amor e renúncia que vai muito além dessa visão limitada que o “povo” tem de dar mau costume, de estar ligado à “modinha da criação com apego” (essa afirmação da modinha me dói), ou de ser egoísmo da mãe de não querer cortar o laço (essa é forte). Trata-se de um ato lindo que deve ser visto com orgulho e complacência, visto como “exemplo a ser seguido”. Longe de ser egoísmo, essa ligação entre mãe e filho, estreita os laços, e não dura para sempre, haverá um momento, aquele em que mãe e filho decidirão, que essa ligação será rompida, como um segundo  corte do cordão umbilical, mas que acontecerá no momento certo, de maneira natural, e cabe somente à mãe e filho decidirem qual será esse momento, sem pressão, sem intervenção externa. E esse laço criado com a amamentação se estenderá de outro modo na vida dos dois.

Se no Brasil a amamentação prolongada é vista como absurdo e desnecessário, há lugares nesse mundo (ainda há esperanças), onde essa prática é algo absolutamente natural.  Nas culturas onde é permitida à criança a amamentação por mais tempo, é observado que o desmame natural ocorre entre os três e quatro anos de idade. Aí me pergunto: Porque então antecipamos tanto a coisa?

Nossa sociedade impõe regras cruéis, e aceitamos isso tranquilamente. Ainda existem profissionais da saúde que dizem que amamentação depois de um ano não serve pra nada, e pior, dizem que faz mal. Como assim faz mal? Oi? Vamos lembrar que o leite materno é o alimento mais completo e rico em nutrientes.
Quando amamento minha filha de um ano e cinco meses em ambientes à vista dos olhares de muitos, recebo julgamentos de todos os tipos, e vindos de todas as partes, até de gente que nem conheço. São inevitáveis os olhares reprovativos. Ouço coisas de todo tipo: “Essa menina não está muito grandinha pra mamar ainda?”, “Ela já está bem fortinha, não precisa mais do seu leite.”, “Seu leite já não tem mais nutrientes, tira ela logo do peito!”, “Isso é vício, nem sai mais leite daí!”, “Leite materno vira água depois de um ano.”, “Você é egoísta, ela precisa ter convívio social, e agarrada no seu peito isso será difícil.” (E tem um monte de gente pagando as minhas contas né? Só que não!).

Eu sempre respondo com um lindo sorriso numa cara de alface que sei fazer muito bem devido ao treino contínuo, diga-se de passagem, e completo: “Nós decidiremos juntas quando será o momento de desmamar! Eu e ela nos entendemos bem.” E fica por isso, as pessoas num geral fingem que concordam e entendem algumas ainda tentam um argumento ou outro, outras sorriem e saem à francesa e outras só reafirmam sua ideia de desmame precoce, dando lá seus motivos. Em fim, a algumas me dou o direito de resposta e argumentos, citações de artigos embasados cientificamente com citações de nomes de profissionais conceituados, a outras só mantenho a cara de alface porque não vale a pena gastar o meu latim. Se fazer entender muitas vezes pode gerar discussões desnecessárias que não levarão à lugar algum. Pessoas que não estão dispostas a mudar de opinião, não estão dispostas também a aceitarem a opinião alheia. Infelizmente.

Eu sou absolutamente a favor do direito da mulher escolher o que quer fazer com seu corpo, como quer e se quer parir, e se quer e até quando quer amamentar seu filho. Não me oponho de forma alguma às muitas mães que por algum motivo não puderam ou não quiseram amamentar, dou apoio à sua liberdade de escolha, e entendo que cada pessoa possui suas necessidades pessoais, e que dentro da maternidade a única coisa que cabe mesmo, é o apoio. Críticas e julgamentos fazem mal e não ajudam em nada!
Eu super apoio amamentação exclusiva até o 6º mês de vida, amamentação prolongada, desmame gradativo e de forma natural, e mesmo assim entendo que somos diferentes, e que há pessoas que pensam diferente de mim, e agem diferente de mim, e isso não me dá o direito de julgá-las ou criticá-las. E isso se aplica também no “contrário”, como diriam por aí: “a recíproca é verdadeira.” Simples assim.

É fato que hoje, é muito comum ver pessoas esbanjando razões e preconceitos sobre a amamentação prolongada, sem analisar seus benefícios, sem ter informação adequada sobre o assunto. A sociedade num geral se fechou num mundo onde o parto normal é coisa do passado, e amamentação prolongada é coisa de índio, e esqueceu-se de ser flexível e entender que a essência humana tem isso como o primórdio de sua existência básica, como base para a sua própria evolução.

São tabus e preconceitos que cercam essa linda prática de oferecer o seio materno por longos períodos, que definitivamente só fazem atrapalhar e é um desserviço às mães empoderadas que querem e fazem uso dessa prática. A amamentação prolongada traz inúmeros benefícios para mãe e filho, e há muitos estudos sobre isso, numa listagem breve, descreverei alguns:

  • O leite materno durante o segundo ano de vida é muito similar ao leite do primeiro ano. No segundo ano de vida, 500 ml de leite materno proporciona à criança: 95% do total de vitamina C necessária; 45% do total de vitamina A necessária (metade da necessidade diária, visão e imunidade); 38% do total de proteínas necessárias (nutriente essencial para os músculos, e percebam o alto percentual de proteínas em apenas 500ml de leite materno) e 31% de calorias necessárias no dia.
  • Os fatores de imunidade do leite materno aumentam em concentração, à medida que o bebê cresce e mama menos. Portanto, crianças maiores continuam a receber os benefícios da imunidade (ou seja, menos doenças).
  • Quanto mais tarde se introduzir leite de vaca, e outros alimentos alergênicos, menos probabilidades essas crianças terão de apresentar reações alérgicas. (para que introduzir o leite de vaca a um bebê, e expor o mesmo a inúmeras reações alérgicas, se a mãe tem o leite próprio e ideal para seu bebê?).
  • Existem tendências estatisticamente significantes para que a desordem na conduta (da criança) diminua com o aumento da duração da amamentação. Mamar durante a infância ajuda os bebês a fazer uma transição gradual no desenvolvimento da sua personalidade individual e maturidade.
  • Amamentar é atender às necessidades de dependência da criança, de acordo com o tempo único da criança. Esta é a chave para ajudar a criança a alcançar a sua independência. As crianças que conquistam a sua independência em seu próprio ritmo são mais seguras dessa independência que as crianças forçadas a isso prematuramente. (isso contraria tudo o que dizem, não é?)

Existem muitos outros benefícios não citados aqui. E com tudo isso, qual o motivo para ainda questionar a amamentação prolongada? Porque criticar ou até impedir uma mãe que ofereça o leite materno a seu filho até dois anos ou mais? Todas as afirmações infames que a sociedade faz para tentar forçar uma mãe a desmamar seu filho antes do indicado pela OMS são especulativas e sem embasamento, trata-se de preconceitos que só servem para disseminar uma ideia equivocada de que amamentação prolongada é desnecessária ou até “prejudicial” (que absurdo ouvir algo desse tipo sobre uma prática tão saudável e legítima como essa em pleno século XXI. Ou será o século “moderno” o problema da coisa toda?).

Se a opção de não amamentar seu filho, seja por que período for e pelo motivo que for partir diretamente e unicamente da mãe (sem ter sido corrompida pela opinião alheia), então isso é tão legítimo quanto à amamentação prolongada, porque é de direito de cada um fazer a opção do que é melhor para si. Claro que levando em conta, que em casos onde a amamentação será interrompida, que ela ocorra de maneira gradativa, planejada, e da forma mais natural possível, sem interrupções abruptas, sem crises e sem traumas para a criança. Isso é o mais importante em todo o processo.

Para as mães que amamentam, amamentaram e as que pretendem oferecer o leite materno por dois anos ou mais, meus parabéns e meus sinceros votos de perseverança e paciência! Sei, por experiência própria, o quanto é difícil romper as barreiras e preconceitos impostos pela sociedade em sua maioria esmagadora, e o quanto é difícil lidar com toda essa pressão que é colocada sobre nós.

Às mães que não amamentaram ou não pretendem fazê-lo, por qualquer motivo, seja por não gostarem por não poderem e por qualquer outro motivo “duvidoso”, digo de motivos “estéticos” (não muito bem aceitos por mim, porém sem que eu me oponha, pois cada um sabe de si), dou todo o meu respeito pela sua decisão particular, mas deixo um apelo para que entendam e conscientizem que amamentação é um bem maior, que precisa de apoio e jamais de reprovação. Apoiem este ato, e leve esta ideia adiante, amamentação é um ato de amor, e não algo a ser visto como uma atitude reprovável.


Para finalizar, deixo todo meu apoio às mães que assim como eu, optaram por amamentar seus filhos pelo período que lhe pareceu mais adequado, não levando em conta idade, e a opinião dos outros. Vocês são guerreiras, e sem dúvida fizeram o que julgaram ser o melhor para seus filhos.

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